
Com editores já mais descontraídos e acostumados com o clima do evento, o segundo dia da Publishers Conference voltou sua atenção para as editoras independentes e a influência dos autores, cultura e línguas africanas no mercado editorial.
A primeira mesa do dia focou nas ideias que diferentes editoras independentes tiveram durante a pandemia para atrair leitores. Em comum, todos os participantes da mesa – moderada pelo editor-chefe da Publishing Perspectives, Porter Anderson – compartilharam o medo que sentiram quando a pandemia os atingiu.
Michel Moushabeck, fundador da Interlink Publishing, nos EUA, contou que sua editora procurou se adaptar o mais rápido possível aos novos modelos de negócios e que por isso, conseguiu ver a empresa terminar o ano de 2020 com um aumento de 8% nas vendas e, atualmente, está no caminho de dobrar esse número. Segundo Moushabeck, o modelo de negócios atual não favorece as editoras independentes e ele enxergou rápido que o que mais importava no momento, era se comunicar com os leitores e incluir as livrarias independentes no seu sistema para também dar suporte a elas.
“Mudamos o foco no início durante a pandemia para expandir nossas vendas diretas ao consumidor, o que nos ajudou a nos manter em alta”, disse explicando ainda outras estratégias que usaram para enfrentar o momento: desenvolveram parcerias com livrarias independentes - que envolveu descontos, promoções e brindes para os leitores; criaram newsletters com recomendações de livros e notícias atuais; melhoraram a comunicação nas redes sociais; usaram influenciadores digitais e ainda trouxeram autores para eventos on-line para democratizar a experiência do livro e da leitura.
Para Emmanuelle Collas, da editora francesa Galaade Emmanuelle Collas, a pandemia marcou um período de forte determinação em sua empresa. Em sua fala, ela descreveu como o romance The impatient ones, de Djaïli Amadou Amal, tomou forma durante o período.
A terceira visão apresentada foi de Khalid Al Nassri, editor da Al-Mutawassit, com sede em Milão, e que se concentra na literatura e poesia árabe contemporânea. Ele compartilhou a experiência de ter usado plataformas on-line para se aproximar dos leitores. Um de seus eventos, uma noite de poesia pelo Zoom, reuniu um público de mais de mil pessoas. “Usamos o lockdown como uma oportunidade para corrigir nosso processo de publicação e adaptá-lo à nova situação”, disse.
Por fim, Samuel Kolawole, da African Publishers Network, disse que a pandemia foi um golpe para a indústria editorial africana, que é amplamente impulsionada pelo mercado de livros didáticos. “Ficamos parados por conta do nosso alcance limitado em relação a tecnologia. Não conseguimos nos adaptar a trabalhar em casa e, portanto, perdemos as oportunidades digitais que outros editores aproveitaram”, disse. “Nosso foco agora é diversificar e construir nossas capacidades e habilidades para sermos capazes de responder positivamente em tais circunstâncias”, completou, linkando sua necessidade a importância do projeto IPA Academy.
A decolonização num contexto global

“Precisamos decolonizar os setores e editoriais e a nossa língua. A decolonização significa coisas diferentes dependendo de onde você está”, destacou Yvonne, sendo completada por Petina: “Decolonização não significa publicar três ou quatro autores por ano, e sim repensar a comunicação, pensar na linguagem, no poder, e não ficar fechado em uma coisa só. É algo muito maior e transformador”, concluiu.
Já Lola, mais uma vez falou da importância dos autores africanos não desistirem dos seus direitos de publicação. “Para que a descolonização funcione e a África se torne um mercado fortalecido, precisamos manter nossos direitos como escritores. É com isso em mente que lançamos o One Read, um clube do livro virtual que permite ao nosso povo acesso a livros de autoria de escritores africanos”, contou.