“Você nunca pode atravessar o oceano até que você tenha coragem de perder de vista a costa”
PublishNews, Larissa Caldin*, 02/04/2020
Em seu artigo, Larisa Caldin compartilha reflexões que vem tendo sobre o mercado editorial

Nos últimos dois meses ando em um projeto de escrita de um livro sobre a Tecnologia da Informação no Brasil. Hoje, após uma entrevista com uma das convidadas, ela me disse essa frase, título do artigo: “Você nunca pode atravessar o oceano até que você tenha coragem de perder de vista a costa”. Imediatamente, todo o cenário do mercado editorial atual me veio à mente.

Com um turbilhão de notícias, artigos e lives (algumas até em minha geladeira), sinto-me diariamente perdida, como publisher, por quais caminhos enveredar. É óbvio a todos, no entanto, que algum caminho temos que seguir. De tudo, uma reflexão é sempre presente, e sinto dizê-la aos conservadores: será um caminho muito diferente do que estamos acostumados a trilhar.

Que o mercado editorial tem um “quê” arcaico já estava em pauta havia anos. Mas sempre nos acomodamos no modelo atual e continuávamos seguindo – algo inato do ser humano. Hoje, nós editores, que maldizemos por tanto tempo a consignação, nunca rezamos tanto por uma – que não chega, porque as livrarias estão, em sua maior parte, fechadas. Precisamos mudar. Todos. Para sobrevivermos. Como empresas, e como cadeia.

E quais reflexões que venho tendo?

1- O digital é imprescindível.

Muitos lerão e dirão “óbvio”. Mas não é tão óbvio assim. Ouvi relatos de estúdios de conversão de epub que estão sobrecarregados com projetos de editoras que, agora, estão convertendo boa parte de seu catálogo. Oferecer seu conteúdo na plataforma que o consumidor desejar é missão de todos os editores, e não oportunidade de crise! E nisso encaixo o audiolivro também.

2- Os livreiros são parte fundamental do processo

Está na hora de darmos mais valor ao papel do livreiro nessa cadeia. Não adianta o editor, intelectual, fumando seu cigarro e tomando café (estereótipo apresentado na live do Vá Ler um Livro ao PublishNews) trabalhar em cima de um livro incrível se, no ponto de venda, ninguém souber vendê-lo. Precisamos focar em valorização e treinamentos aos livreiros urgentemente quando tudo isso normalizar. É aquela máxima: “Só damos valor quando perdemos”.

3- Converse com seu consumidor final

Seja você editor ou livraria, conheça e converse com seus consumidores. Entender o perfil deles, em um momento como o atual, lhe dará confiança em criar ações específicas e certeiras, e não um emaranhado de projetos sem propósitos e continuidade.

4- Encare o livro como produto

Outro ponto que teclo: o livro é um produto. Se você não tiver vendas, entrará em crise financeira. Trate-o bem, ofereça o melhor conteúdo possível, mas continue encarando-o como um produto. Está na hora de tirarmos o livro da redoma, precificarmos corretamente e estudarmos mais sobre cases de outras indústrias.

E, por fim, para mim, é claro que aqueles que melhor se sairão nesse cenário serão aqueles que criarem coragem para navegar até o ponto de não verem mais a costa, a qual tanto nos prendíamos.


* Larissa Caldin tem 24 anos, é publisher e futura sommelier. Formada em Letras pela Universidade de São Paulo, trabalha na Primavera Editorial há quatro anos e é fundadora do estúdio editorial Editorando Birô.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do PublishNews.

[02/04/2020 10:00:00]