Editora 100% digital é uma das mais lucrativas da Suécia
PublishNews, Sölve Dahlgren (para o Boktugg), 19/11/2019
Na Suécia, enquanto muitas editoras sofrem com a diminuição das receitas devido à digitalização, a Word Audio está a todo vapor

O segredo do sucesso para Mattias Lundgren é 'entender o formato digital, procurar fugir do lugar-comum e um time matador' | © Divulgação
O segredo do sucesso para Mattias Lundgren é 'entender o formato digital, procurar fugir do lugar-comum e um time matador' | © Divulgação

A edição mais recente da revista Svensk Bokhandel traz estatísticas com os resultados financeiros das editoras suecas no último ano. As demonstrações financeiras referem-se ao último ano fiscal que, em alguns casos, é o ano de 2018, enquanto em outros o ano foi fechado já em 2019.

Uma das listas apresenta as editoras mais lucrativas da Suécia ranqueadas por margem de lucro [lucro sobre receita antes de impostos e juros, ou seja, o EBIT]. No topo está a editora Dar Al-Muna que publica livros infantis em árabe e teve um faturamento de 6,7 milhões de coroas suecas (R$ 2,93 milhões) com lucro de 3,9 milhões de coroas (R$ 1,7 milhão), o que equivale a uma margem de 58%.

Em segundo lugar vem a Word Audio Publishing [editora com planos para o Brasil] com 52% de margem. No entanto, esta lucratividade foi obtida com um faturamento de 28,7 milhões de coroas (R$ 12,54 milhões), o que significou um lucro de 14,8 milhões de coroas (R$ 6,46 milhões). Entre 2017 e 2018, a editora aumentou seu faturamento em 37%.

A lucratividade é resultado de se ter o catálogo certo em relação ao que vem pela frente. A demanda por livros em árabe cresceu nos últimos anos porque há mais gente falando árabe hoje na Suécia. No caso da Word Audio, trata-se da explosão da demanda de audiolivros em consequência do forte crescimento das plataformas Storytel, Bookbeat e Nextory.

Então qual é o segredo?

“Entender o formato digital, procurar fugir do lugar-comum e um time matador”, responde Mattias Lundgren, fundador da Word Audio (que já teve o nome de HörOpp).

Uma outra explicação é, obviamente, aquilo que tem se tornado cada vez mais importante na digitalização: possuir um grande catálogo de títulos mais antigos. O backlist é importante nas plataformas de audiolivros porque os livros publicados anteriormente por um autor estão a apenas um clique de distância, o que não é nada se compararmos com o mundo físico onde tais livros raramente estão no estoque das livrarias e, em alguns casos, estão fora de catálogo.

“É claro que ajuda o fato de termos um grande catálogo de audiolivros com mais de 800 títulos", comenta Lundgren. "Ainda que muitos títulos vendam pouco, outros vendem o tempo todo”, complementa.

O publisher sueco divide seus títulos em frontlist (novidades publicadas nos últimos dois anos) e backlist (títulos mais velhos que 18 ou 24 meses).

“Neste momento, cerca de 30% de nossas vendas vem do frontlist e o resto do backlist. Eu desconfio que muitas editoras tradicionais tem uma situação oposta onde as novidades são responsáveis pela maior parte das vendas. O backlist impresso se torna rápido um custo financeiro e de estoque para a editora, enquanto um backlist digital é receita pura tanto para a editora quanto para o autor”, explica Lundgren.

Antigamente, o catálogo da Word Audio era apenas de direitos que eles adquiriam de outras editoras ou de autores originalmente publicados por outras casas. Já, atualmente, a editora está cada vez mais publicando títulos de autores independentes de sucesso encontrados por ela ou de autores cujo livros não existem no formato áudio.

No últimos anos, a Word Audio também aumentou a publicação de títulos originais escritos diretamente para áudio. Um exemplo é a série Sektion M, de Christina Larsson, que foi lançada na Feira do Livro de Gotemburgo deste ano. A série foi publicada apenas digitalmente e estão planejadas traduções para outros países. Atualmente, a Word Audio não olha apenas para o mercado sueco, mas também para a Finlândia, a Espanha e a Rússia.

“Com Sektion M, quisemos criar algo mais que um livro; uma história que empresta a dramaturgia e a dramaticidade dos filmes e séries de TV. Encontramos um consenso que deu ao projeto uma energia rara”, conta Lundgren.

Em terceiro lugar no ranking de lucratividade está a Printz Publishing (agora parte da Norsteds / Storytel) com uma margem de 28%.

Mais abaixo, ainda encontramos a Bokfabriken, empresa que também teve o dedo de Mattias Lundgren no passado e que saiu da Word Audio. A editora teve um faturamento quase igual à Word Audio, de 28,8 milhões de coroas, mas teve um lucro de “apenas” 7,2 milhões.

Mattias e Lasse Brahme (atual CEO da Bokfabriken) começaram a editora de audiolivros juntos em 2006 e dez anos atrás o faturamento era de apenas 2,4 milhões de coroas com um lucro operacional de 70 mil coroas (R$ 31 mil). Na realidade, mesmo em 2014, as vendas anuais eram de “apenas” 4.4 milhões de coroas, mas com um bom lucro de 1,4 milhão. A Word Audio vem apresentando lucro em todos os anos de sua existência.

“Naqueles primeiros anos, não havia muita gordura, então aprendemos a controlar os custos para sermos lucrativos. Na época, encontramos um espaço barato em um edifício caindo aos pedaços que seria demolido e, assim, conseguimos um aluguel barato e manter o custo fixos baixo. Eu continuo pão-duro e não quero desperdiçar recursos em coisas desnecessárias, mas, por outro lado, estou sempre pronto para investir no futuro, como estamos fazendo com nossos lançamentos internacionais”, afirma Lundgren.


[Este artigo foi originalmente publicado em sueco em 15/11/2019 no site Boktugg.]

[19/11/2019 13:00:00]