Cinco tópicos para resumir o mais novo evento do calendário literário do Norte do País
PublishNews, Raquel Menezes*, 07/11/2019
A editora Raquel Menezes esteve na ParáLer e resume, em cinco tópicos, as suas impressões sobre festival

De 30 de outubro a 3 de novembro, Belém foi palco da ParáLer, a mais nova festa literária do Norte do País. Quem esteve lá foi Raquel Menezes, presidente da Liga Brasileira de Escritores e editora da Oficina Raquel. A pedido do PublishNews, ela enumerou, em cinco tópicos, as suas impressões sobre o evento da capital paraense. Ela fala de algumas discussões que chamaram a sua atenção e destacou a importância que o festival deu às tradições, música, cultura e culinária locais. No fim, ela conclui: "Vida longa à ParáLer, que seja um exemplo para o resto do Brasil, de como eventos precisam ser mais do que efemérides, mas um planejamento de desenvolvimento do setor e da educação".

1. Mais que ideologias, humanos

Que um evento se faz com diversidade, sabemos. A mesa “Diversidade e desafios na contemporaneidade – a questão LGBTI+ e o acolhimento dos refugiados venezuelanos”, com Giowana Cambrone e Nanci Cartagénes e mediação de Cristina Ribeiro, foi uma das primeiras Rodas de conversa do evento e costurou duas questões que são indispensáveis para refletimos na contemporaneidade, mas de modo humano, ou, como disse Giowana, considerando a humanidade de cada um e não tratando como ideologia.

2. Maçãs podres

O nome pode soar estranho, mas Joseane Souza, da edições ¼, editora artesanal paraense, me mostrou, em uma mesa que dividi com ela sobre edições independentes, que ser uma maçã podre num cesto, pode ser bom . A metáfora aqui está na capacidade de uma maça podre contaminar as demais. É bem isso que nossa função editorial pretende, ir contaminando, um a um, transformando não leitores em leitores e leitores em leitores ainda melhores, não é mesmo?

3. Carimbó

O ritmo esteve presente todas as noites, apresentando as variantes de cada região. Cada noite era uma surpresa, que, entre giros, saias e rodas, deixava claro que pensar livro e leitura é pensar cultura e as especificidades de cada lugar. Ou seja, mais do que fazer evento em cada região, o importante é retratar cada território, incorporando elementos para que a tão falada transversalidade seja efetivamente contemplada.

4. Cultura alimentar

Dias e dias de jambu, tacacá, feijão manteiga e sucos de cupuaçu, goiaba, taperebá, acerola e muitos mais em uma área coordenada pelo Ponto de Cultura Iacitáta. A culinária paraense envolvida em rodas de conversa, oficinas e, claro, experiências. Uma oficina com Daniel Munduruku lotou a Arena e literatura e culinária dialogaram com maestria.

5. Mercado editorial

Representado por 13 editoras e duas livrarias, o mercado editorial estava presente na festa, mas também era tema das mesas. Além da mesa que participei com a edições ¼, como já citei, dividi com Mansur Bassit, Camila Perlingeiro, Volnei Canônica e Guilherme Relvas uma mesa sobre o mercado editorial. Lá vi, que os problemas só mudam de região, mas permanecem os mesmos. Mas percebi, que os atores locais estão decididos a cobrar do Estado um posicionamento pró-livro e leitura, entendendo que sustentabilidade de mercado se faz com união e diálogo.

Esta conversa rendeu a ideia do evento se tornar, mais que um evento, uma Plataforma Amazônica de Capacitação e Fomento do Livro, da Leitura, da Literatura e da Escrita, com um objetivo maior: identificar a atuação e a interação dos diferentes atores do mercado editorial afim de desenvolver diretrizes de capacitação, fomento e inovação que potencializem o alcance da produção paraense no âmbito nacional e internacional.

Vida longa a esta plataforma, à ParáLer, que seja um exemplo para o resto do Brasil, de como eventos precisam ser mais do que efemérides, mas uma planejamento de desenvolvimento do setor e da educação.


* Raquel Menezes é formanda em Letras pela UFRJ, onde também conclui o doutorado. Editora da Oficina Raquel e presidente da Libre – Liga Brasileira de Editores. É mãe do Dioniso, para quem deseja um mundo sem armas e com muitos livros.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do PublishNews

[07/11/2019 09:00:00]