Da capa ao ponto final: autor independente vence Jabuti
PublishNews, Leonardo Neto, 09/11/2018
‘À cidade’, livro independente do poeta cearense Mailson Furtado, foi eleito Livro do Ano

Mailson Furtado foi o vencedor do Livro do Ano do Prêmio Jabuti. Além da estatueta dourada, autor independente do interior do Ceará levou R$ 100 mil | © Estúdio WTF / Divulgação
Mailson Furtado foi o vencedor do Livro do Ano do Prêmio Jabuti. Além da estatueta dourada, autor independente do interior do Ceará levou R$ 100 mil | © Estúdio WTF / Divulgação
“Fiz o livro na mão, até a capa foi desenhada por mim”. Com essas palavras, o poeta cearense Mailson Furtado começou o seu discurso de agradecimento ao Prêmio Jabuti, organizado pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e que elegeu o seu À cidade o Livro do Ano de 2018. O título marca a história do mais tradicional e longevo prêmio da cena literária brasileira como o primeiro livro independente a receber a sua categoria principal. “Eu sou de um estado onde todos os meus amigos pagam para ser publicados. O mercado precisa abrir os olhos para esses autores que escrevem com qualidade, mas não publicam mais porque não têm espaço, porque têm que se bancar. Espero que esse prêmio abra essa janela para todas as editoras e autores de qualidade que não têm espaço ou condições financeiras de lançar um livro. Esse prêmio não é meu, é nosso”, disse o vencedor no seu discurso.

À cidade, vencedor na categoria Poesia, é um tributo à Varjota, cidade natal do autor que levou para casa o prêmio de R$ 100 mil, além da estatueta dourada. “É uma obra que fala sobre o meu lugar, uma cidade com menos de 50 anos e da qual não se tem nenhum registro bibliográfico”, disse.

Na noite de ontem foram conhecidos ainda os vencedores em cada uma das 18 categorias do Jabuti que ganhou, ao completar 60 anos, um novo formato. Se antes, três livros recebiam a estatueta em cada uma das categorias, agora, o Jabuti só é entregue ao primeiro lugar que só é conhecido durante a cerimônia. O formato trouxe dinamismo e expectativa ao Prêmio.

Outra novidade da edição de 2018 foi a divisão do prêmio em quatro eixos: Literatura (que abriga as categorias Conto, Crônica, HQ, Infantil e Juvenil, Poesia, Romance e Tradução), Ensaios (Artes, Biografia, Ciências, Economia Criativa e Humanidades), Livro (Capa, Ilustração, Impressão e Projeto Gráfico) e Inovação (Formação de Novos Leitores e Livro Brasileiro Publicado no Exterior).

Ao final da cerimônia, todos os ganhadores do Prêmio subiram ao palco para a foto oficial da edição de 2018 do Prêmio Jabuti | © Estúdio WTF / Divulgação
Ao final da cerimônia, todos os ganhadores do Prêmio subiram ao palco para a foto oficial da edição de 2018 do Prêmio Jabuti | © Estúdio WTF / Divulgação
No Eixo Literatura, Carol Bensimon venceu a categoria Romance, a mais disputada no Jabuti, com o livro O clube dos jardineiros de fumaça (Companhia das Letras). Em Contos, o vencedor foi Enfim, Imperatriz (Patuá), de Maria Fernanda Elias Maglio. Rubem Braga (1913-1990), André Seffrin e Gustavo Henrique Tuna dividiram o prêmio na categoria Crônica pelo livro O poeta e outras crônicas de literatura e vida (Global). Marcelo D’Salete venceu na categoria HQ com Angola Janga (Veneta); Luiz Eduardo Anelli e Rodolfo Nogueira ganharam na categoria Infantil e Juvenil, com o livro O Brasil dos dinossauros (Marte). Empate na categoria Tradução que foi dividida entre Fabio Bonillo pelo seu trabalho O macaco e a essência (Biblioteca Azul), de Aldous Huxely, e Geraldo Holanda Cavalcanti, pela tradução de Poemas (Editora da Universidade de São Paulo), uma antologia do italiano Giuseppe Ungaretti.

Indo para o Eixo Ensaios, Rodrigo Louçana Audi e Dib Carneiro subiram ao palco para receber o prêmio na categoria Artes pelo livro Imaginai! O teatro de Gabriel Villela (Sesc SP). Em Biografia, o vencedor foi Cláudio Bojunga, pelo livro Roquette-Pinto: o corpo a corpo com o Brasil (Casa da Palavra). Na categoria Ciências, o vencedor foi As maravilhosas utilidades da geometria: da pré-história à era espacial (Marcelino Champagnat / PucPress), de Adalberto Ramon Valderrama Gerbasi. Design de capas do livro didático: a Editora Ática nos anos 1970 e 1980 (Editora da Universidade de São Paulo), de Didier Dias de Moraes, venceu na categoria Economia Criativa e Democracia tropical (Estação Brasil / Sextante), de Fernando Gabeira, ficou com o troféu pela categoria Humanidades.

No Eixo Livro, a capista Carla Fernanda Fontana recebeu o prêmio na categoria Capa pelo seu trabalho com O Corego: Texto anônimo do Século XVII sobre a arte da encenação (Editora da Universidade de São Paulo). Em Ilustração, Nelson Cruz recebeu o Jabuti pelo livro Os trabalhos da mão (Positivo) e Luciana Facchini levou na categoria Projeto Gráfico pelo livro Conflitos: fotografia e violência política no Brasil - 1889-1964 (Instituto Moreira Salles). Uma novidade dessa edição foi a inclusão da categoria Impressão vencida pela gráfica Ipsis pelo trabalho no livro Bruno Dunley (Associação para o Patronato Contemporâneo), de Carlos Eduardo Riccioppo.

A categoria Formação de Novos Leitores, embarcada no Eixo Inovação e outra novidade dessa edição, foi vencida pelo projeto Psicanálise e literatura - Freud e os clássicos, encabeçado por Ingrid de Mello Vorsatz da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Ainda no Eixo Inovação, as editoras Companhia das Letras e Restless Book (EUA) venceram na categoria Livro Brasileiro Publicado no Exterior pelo livro Fim, de Fernanda Torres.

Cada um dos ganhadores (exceto as editoras vencedoras da categoria Livro Brasileiro Publicado no Exterior) ganharam, além do troféu do Jabuti, prêmio em dinheiro no valor de R$ 5 mil.

A noite marcou ainda uma emocionante homenagem ao poeta amazonense Thiago de Mello pelo conjunto de sua obra. Ele, que está com 93 anos, foi representado por sua mulher e dois filhos, que fizeram um apelo para que o Iphan tombe as casas do poeta, as únicas projetadas pelo arquiteto e urbanista Lucio Costa no Estado. No telão, Thiago foi homenageado por nomes como os dos escritores Milton Hatoum e Ciro Figueiredo e o do editor Luiz Alves Jr., da Global.

Em dois momentos, a cerimônia foi interrompida por aplausos que vieram da plateia. Durante o vídeo em que o editor e livreiro Alexandre Martins Fontes defendeu a “frágil e jovem democracia brasileira” e quando Milton Hatoum lembrou que o poeta homenageado “sempre abominou a violência, o autoritarismo, os regimes autoritários e a injustiça humana”.

A 60ª edição do Prêmio Jabuti conta com o patrocínio ‘Apresenta’ da Suzano Papel e Celulose e os apoios da Prefeitura de São Paulo, Itaú Cultural, Microsoft, BMF Gráfica, 3uS! e Ragazzo Café.

Conheça a relação de vencedores:

Livro do Ano: À Cidade - Autor: Mailson Furtado, autor independente

EIXO LITERATURA

Categoria Conto: Enfim, Imperatriz - Autora: Maria Fernanda Elias Maglio, Editora Patuá

Categoria Crônica: O poeta e outras crônicas de literatura e vida - Autores: Rubem Braga, André Seffrin, Gustavo Henrique Tuna, Global Editora

Categoria HQ: Angola Janga - Autor: Marcelo D'Salete, Editora Veneta

Categoria Infantil e Juvenil: O Brasil dos Dinossauros - Autores: Luiz Eduardo Anelli, Rodolfo Nogueira, Editora Marte Cultura e Educação

Categoria Poesia: À Cidade - Autor: Mailson Furtado, autor independente

Categoria Romance: O clube dos jardineiros de fumaça - Autora: Carol Bensimon Editora Companhia das Letras

Categoria Tradução: Título: Poemas - Tradutor: Geraldo Holanda Cavalcanti, Editora da Universidade de São Paulo / Título: O macaco e a essência - Tradutor: Fábio Bonillo, Editora Biblioteca Azul

EIXO ENSAIOS

Categoria Artes: Imaginai! O teatro de Gabriel Villela - Autores: Rodrigo Louçana Audi, Dib Carneiro Neto, Edições Sesc São Paulo

Categoria Biografia: Roquette-Pinto: o corpo a corpo com o Brasil - Autor: Cláudio Bojunga, Editora Casa da Palavra

Categoria Ciências: As maravilhosas utilidades da Geometria: da pré-história à era espacial - Autor: Adalberto Ramon Valderrama Gerbasi, Editora Marcelino Champagnat - PUCPRESS

Categoria Economia Criativa: Design de capas do livro didático: A Editora Ática nos Anos 1970 e 1980 - Autor: Didier Dias de Moraes, Editora da Universidade de São Paulo

Categoria Humanidades: Democracia tropical - Autor: Fernando Gabeira, Editora Estação Brasil

EIXO LIVRO

Categoria Capa: O Corego: Texto Anônimo do Século XVII sobre a Arte da Encenação - Capista: Carla Fernanda Fontana, Editora da Universidade de São Paulo

Categoria Ilustração: Os trabalhos da mão - Ilustrador: Nelson Cruz, Editora Positivo

Categoria Impressão: Bruno Dunley - Responsável: Ipsis (Jesué Pires), Editora Associação para o Patronato Contemporâneo

Categoria Projeto Gráfico: Conflitos: fotografia e violência política no Brasil - 1889-1964 - Responsável: Luciana Facchini, Editora Instituto Moreira Salles

EIXO INOVAÇÃO

Categoria Formação de Novos Leitores: Psicanálise e literatura - Freud e os clássicos - Responsável: Ingrid de Mello Vorsatz

Categoria Livro Brasileiro Publicado no Exterior: Fim | Autora: Fernanda Torres, Editora Companhia das Letras

[09/11/2018 10:20:00]