O que os editores procurarão em Frankfurt?
PublishNews, Talita Facchini, 1º/10/2018
Editores apontam temas e gêneros que podem fazer a cabeça dos leitores no futuro próximo

Cena comum no sempre agitado LitAg, o coração dos negócios da Feira do Livro de Frankfurt | © Peter Hirth / Feira do Livro de Frankfurt
Cena comum no sempre agitado LitAg, o coração dos negócios da Feira do Livro de Frankfurt | © Peter Hirth / Feira do Livro de Frankfurt

Com a Feira do Livro de Frankfurt (10 a 14/10) chegando, os editores já começam a especular quais as tendências mais populares e os livros que serão sucesso este ano. No Reino Unido, o The Bookseller perguntou a opinião de alguns deles e parece que o mercado mudou dos romances de suspenses psicológicos e ficções mais sombrias para "book-club", livros comerciais que tratem de assuntos específicos que podem, de alguma forma, levantar uma discussão ou controversa e uma "ficção feminina inteligente".

A editora da Trapeze Books, Katie Brown, por exemplo, especialista em não-ficção feminina, recebeu alguns livros que confrontam temas como solidão e tristeza, muito explorados nos títulos do movimento “up-lit”, que busca romances mais otimistas, que falem de heroísmo e da conexão humana do que romances mais leves. "Esse fenômeno, no qual muitos de nós estão mais conectados, mas mais solitários do que nunca, está permeando as submissões emocionantes que estou vendo", disse Brown.

Já outros editores deram destaque para as ficções femininas e analisaram que as mulheres assumiram os papeis de destaque nas maiorias das obras, mas frisaram também que o “grande suspense psicológico” ainda não apareceu. Em não ficção, além dos temas centrados na Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria, livros de ciência e medicina estão ganhando espaço, apresentando um aumento na demanda por livros de “não ficção inteligente”, com temas que despertam curiosidade.

Por aqui, com a atual situação do mercado editorial brasileiro, as editoras têm pisado no freio quanto a compra de novos livros. Para Raquel Cozer, editora da HarperCollins Brasil, isso já vem acontecendo há algum tempo. "Quase todo mundo reduziu o número de livros publicados por mês, por conta da crise das livrarias, e com isso têm mais livros já contratados na gaveta". Mas alguns assuntos já chamam a atenção das editoras, como o empoderamento feminino, a "poesia millennial", e livros com mensagens e histórias mais positivas. "Sobre as tendências, uma das mais fortes acho que são os feel good books, das conversas que tive com editores e agentes em Nova York agora em setembro. Entendo isso como uma reação a esse momento mundial tão difícil, com tanta polarização e ânimos tão exaltados. Acho que o leitor já tem motivos demais pra sofrer na vida real", contou Raquel em conversa com o PublishNews.

Pedro Almeida, publisher da Faro Editorial, acredita que os temas ainda estarão ligados aos millennials e que a poesia, como a escrita por Rupi Kaur, está no radar das editoras. "A poesia que costumava sair no papel, agora salta das telas e continua lida, mas também é recitada, gravada, filmada e compartilhada", comentou. A poesia escrita pela autora de Outros jeitos de usar a boca e O que o sol faz com as flores (Planeta), que cabe perfeitamente dentro do tema do empoderamento feminino, também apareceu como tendência para Raquel. "Me chamou atenção conversar com editores que estão procurando poesia no estilo da Rupi, porque aqui esse movimento foi tão forte, que não imaginava isso como uma tendência futura", completou.

Para completar, Lucia Riff adiantou que em sua agência, a tendência mais forte no momento é a não ficção adulta, seguida pelos livros de ciência e história, que fazem parte do movimento "big think". Como é um tema atual por aqui, livros sobre política e democracia também estão tendo uma procura maior e na área jovem, Sci fi e fantasia ainda dominam. "Vimos alguns livros bem originais sendo disputados na área de fantasia, como por exemplo, um que nos apareceu que mistura fantasia, com toque de mitologia e folclore africano", contou ao PublishNews. Para fechar, questões de gênero, bullying e corpo também mantêm o seu lugar no mercado.

O que os editores nacionais e internacionais têm em comum é expectativa de achar um novo nome da ficção que se torne um grande sucesso. E como esse novo fenômeno ainda não apareceu, por aqui, a não ficção acaba ganhando mais espaço, como vemos na lista de mais vendidos. Atualmente, a lista é encabeçada pelas obras de Yuval Noah Harari, 21 lições para o século 21 e Sapiens, mas dos 20 livros da lista, 11 deles são nacionais.

Este ano, o Brasil será representado em Frankfurt por 28 editoras por meio do Brazilian Publishers e a expectativa é que sejam fechados US$ 650 mil em exportação de direitos autorais e livros físicos com negociações durante o evento.

[01/10/2018 09:30:00]