O fim da 'Cortina de Ferro' do livro
PublishNews, Redação, 26/03/2018

É passado o tempo do enfrentamento tão característico da Guerra Fria no século passado. Aquele conceito fantasioso de opostos em permanente conflito, que por si acobertava contradições maiores, como a multiplicidade e a variedade no que quer que fosse, ruiu ainda antes da queda do muro de Berlim, embora esse fato, sem dúvida, restasse como marco definitivo da mudança.

E o que se sucedeu, ao contrário dos desejos afoitos de gente megapoderosa, não foi o pensamento único, o estado único, tampouco uma globalização uniformizadora de consumo e cabeças. Não. O que ocorreu foi a lenta e progressiva abertura para a necessidade e para a diversidade em qualquer instância do ser.

Pois no mundo do livro, para além da obrigação de se tratar cada vez mais e melhor a diversidade no conteúdo, os formatos também chegaram nesse nível. Ou seja, audiolivro, livro em braile, audiodescrição de livro, e as inúmeras possibilidades que já existem, somadas às que vêm sendo inventadas dia após dia, apontam para uma nova era da leitura e do consumo de livros.

E não vá pensando que as novas possibilidades de leitura, os novos formatos de suporte ao conteúdo (nome genérico para o nosso conceito de “livro”), serve somente a minorias com essa ou aquela limitação física. Muito pelo contrário, a descoberta de novas possibilidades e a crescente necessidade de um aprendizado cada vez mais rápido e eficaz, vem trazendo novos leitores para os novos formatos.

Uma sociedade urbana, como a contemporânea, que não consegue fugir de engarrafamentos e longos trajetos num veículo, ou diante do crescente aumento de vôos entre quaisquer distâncias, tornou o audiolivro e a audiodescrição uma necessidade e uma tendência sem volta. Afinal, ver-se retido num engarrafamento de horas, numa cidade com rádios despejando música ruim e opiniões tortas de futebol, é uma tortura que só pode ser recompensada por ouvir-se tranquilamente, e pausadamente, uma boa história ou mesmo um bom curso para adiantar algum currículo de ensino a distância, ou ainda acalmar a filha no banco de trás que grita que a internet do tablet “tavou”.

E o curioso é que não existem somente soluções estrangeiras, e que fazer um audiolivro entre outros não é mais algo de outro mundo. Há boas soluções nacionais, cito aqui a TocaLivros que vem fazendo um excepcional trabalho, e também soluções criativas em software, hardware e iniciativas universitárias em pesquisa e desenvolvimento Brasil afora.

A nova geração de leitores, e consumidores, não está por chegar, ela, sim, chegou, e em definitivo já está apontando e pedindo soluções cada vez mais acessíveis, e se mostra claramente a pagar pelo que acredita ter valor. O que desta forma destitui os adoradores da pirataria, que não acreditam na capacidade do leitor pagar pelo que acha que merece valor. Prova maior é o movimento de financiamento coletivo, onde anônimos apostam cegamente seu dinheiro em inovações culturais e dotadas de muita diversidade.

E é sempre bom lembrar, se o muro de Berlim caiu, não foi só para um lado da Cortina de Ferro...

[26/03/2018 06:00:00]