Previsões da indústria editorial para 2018: Os autores independentes estão perdendo sua independência?
PublishNews, Mark Coker, 24/01/2018
Mark Coker, nosso colunista especializado em autopublicação, faz uma série de previsões para 2018

Bem-vindos ao meu post anual de previsões para a indústria editorial, no qual faço prognósticos sobre o futuro e compartilho minhas opiniões sobre o estado da nação independente.

Todos os anos, ao redor desta época, dou uma polida na minha bola de cristal imaginária e pergunto que diabos vai acontecer no futuro. Minha bola de cristal estava um pouco grosseira este ano. A primeira coisa que me disse foi: “você não vai querer saber”. Bem pouco útil. A segunda coisa que me disse foi: “Re-re-leia suas previsões de 2017. 2018 será uma continuação do ano passado”. Isso ajudou um pouco mais. A maioria das minhas previsões para 2017 foi bastante acertada.

Quando penso no futuro, começo a olhar para o passado e procuro padrões e tendências. Quais são as tendências macro e as forças estabelecidas que, como a gravidade, provavelmente continuarão na mesma direção pelos próximos anos? E como essas tendências impactarão no que tocam e como isso mudará o curso do futuro? É um exercício divertido, mesmo quando vejo que não se encaixa em meus óculos cor-de-rosa. Imaginando possíveis resultados, podemos formular estratégias para o futuro ou podemos dar passos para evitar que o futuro aconteça.

As coisas estão duras aí fora para a maioria dos autores. Isso não é nada novo. Ser autor sempre foi um negócio difícil. Mesmo antes do aumento da quantidade de autores independentes, a maioria dos autores publicados de forma tradicional ainda precisavam de outros empregos para pagar as contas.

Autores independentes ganham controle

Há 10 anos, as editoras controlavam seu destino. Elas decidiam quais escritores eram publicados e rejeitavam a maioria dos que batiam, pediam e imploravam em suas portas. As editoras eram os guardiães da impressão, da distribuição ao varejo e dos leitores. Agora, graças às ferramentas de autoria independente, você afastou seu destino das editoras. Decide como e quando publicar seu livro. Pode chegar aos leitores sem uma editora. Como já disse algumas vezes, quando os independentes ganharam acesso às ferramentas de publicação profissional, o centro do poder na indústria mudou das editoras para os autores. Parecia que os autores finalmente controlariam o destino desta indústria. Eba!

A ascensão dos autores independentes

A Amazon lançou sua plataforma de autopublicação de e-books no final de 2007, alguns meses antes de criarmos a Smashwords no início de 2008. Nossas duas plataformas fizeram com que autopublicar e vender e-books fosse rápido, gratuito e fácil. Estávamos no lugar certo no momento certo. Entre 2008 e 2010, o mercado de e-books cresceu de forma exponencial à medida que milhões de leitores fizeram a transição da leitura em papel para a tela e as livrarias abriram prateleiras virtuais para todos os e-books independentes. A Apple entrou no mercado com sua loja iBooks em 2010 e trouxe consigo o modelo de preço de agência que permite que autores e editoras controlem seus próprios preços e ganhem 70% do preço de catálogo em cada cópia vendida. Esta foi uma abordagem radical para o preço do livro que colocou mais poder nas mãos dos autores. Eba!

Antes do modelo de preço de agência, autores e editores estabeleciam um preço de catálogo recomendado e ganhavam 35-50% desse preço. As livrarias poderiam dar o desconto que quisessem no livro. Com a entrada da Apple, a Amazon foi forçada a duplicar os direitos autorais dos e-books que pagava aos autores, passando de 35% a 70%. Com o advento da agência, a Amazon foi forçada a dar maior controle de preços aos autores e editoras. Mais tarde naquele ano, a Smashwords conseguiu fechar acordo com outras livrarias de e-books e mudou para um modelo de agência com nossos autores também. Eba!

2011 foi outro ano fenomenal de crescimento das vendas de e-books. Os independentes começaram a aparecer nas listas de mais vendidos nacionais e por livrarias com maior frequência e a cada ano os independentes iam ganhando cada vez mais espaço no mercado de e-books. Mais eba!

Os autores independentes provaram que era possível se autopublicar com orgulho, profissionalismo e sucesso comercial. Os independentes não apenas imitavam as melhores práticas da publicação tradicional, começaram a inovar e inventar as novas práticas recomendadas para publicação de e-books. As editoras começaram a procurar inspiração nos independentes. A democratização editorial chegou e todos ficaram felizes, certo? Errado. Agora parece que trocamos um guardião por outro. Bu!!

O começo do fim dos autores independentes?

Quando olho para minhas previsões para 2017, a maioria dessas previsões aconteceu ou ainda está acontecendo. Então me pergunto: se continuarmos nessa direção, para onde vai o movimento de autores independentes? Acho que isso nos leva ao fim da autoria independente como a imaginamos. É um futuro sombrio no qual os escritores ainda podem se autopublicar, mas um mercado mantém todos os leitores cativos, e esse modelo de negócios do mercado depende inteiramente da comoditização de tudo que vende.

Neste futuro distópico, os participantes ainda podem das tapinhas nas costas uns dos outros e se chamar de autores independentes se isso os faz sentir bem. Afinal, eles ainda decidem onde vão publicar. Mas a verdade emergente aqui é que eles perderam sua independência porque se saírem desse mercado dominante, pode não haver um lugar para saltar. É um futuro no qual os outros vendedores de e-books foram dizimados ou fecharam ou se tornaram irrelevantes. É um futuro no qual nenhuma outra livraria de e-books consegue criar um negócio lucrativo.

Comemoremos o Dia da Dependência, 8 de dezembro de 2011

Não, não é um erro de digitação. Sim, estou sendo um pouco sarcástico. Quando os livros de história do movimento de autores independentes forem escritos daqui a 20 anos, os historiadores podem apontar o dia 8 de dezembro de 2011 como o dia em que os autores independentes perderam sua independência. Até aquele dia, cada livraria acolhia os e-books autopublicados em suas lojas, dava aos autores controle sobre os preços e pagava até 70% do preço de catálogo. Foi nesse dia que a Amazon, a maior livraria online do mundo, decidiu que esses autores independentes estavam ficando poderosos demais e muitos valiosos para vagarem livremente.

Esse foi o dia em que a Amazon lançou o KDP Select e começou a tirar a independência dos independentes. A independência dos autores independentes não foi roubada. Em vez disso, os independentes foram seduzidos, estimulados, intimidados, extorquidos e enganados para se entregarem aos poucos. Olhando para trás, foi uma estratégia brilhante. Convenceu os autores independentes a entregar os direitos exclusivos de distribuição para a Amazon por leves incrementos a cada três meses (renovados automaticamente). Como avisei no dia em que a Amazon anunciou o KDP Select (leia aqui), o esquema lentamente iria acabar com os concorrentes de livros e clientes da Amazon, e tornaria os autores mais dependentes de uma única livraria.

Então, em 14 de julho de 2014, a Amazon apresentou o Kindle Unlimited (KU), que oferecia aos clientes leitura ilimitada de livros a partir de um catálogo de títulos criado quase que inteiramente por e-books independentes do KDP Select. Uma das principais características do KU é que o preço do autor é irrelevante. Você é compensado com menos de meio centavo por página lida. Hoje, mais de um milhão de e-books independentes são exclusivos da Amazon via KDP-Select e KU. Esses livros funcionam como sanguessugas que lentamente drenam a vida de outras livrarias.

A Amazon promove agressivamente o KU aos seus clientes. Encoraja-os a ler livros gratuitamente com o KU. Os leitores de e-books independentes agora têm mais de um milhão de razões para nunca comprar outra cópia de um e-book. No dia em que o KU foi lançado, avisei os autores sobre as potenciais implicações (leia aqui).

Os autores que agora dependem 100% de suas vendas na Amazon não são mais autores independentes. São autores dependentes. Suponho que temos autores independentes e autores dependentes agora.

Para onde vamos daqui?

Você pode sentir às vezes que é apenas um voto, ou que é uma vítima de forças mais poderosas do que você. Mas o seu voto importa porque, assim como na política, as eleições para o seu futuro serão muito contestadas por aqueles que querem exercer o poder sobre você.

O desafio aqui é que, embora você seja um participante integral neste grande movimento de autores independentes, não existe uma organização coletiva. Nenhum organismo representativo cuida dos nossos interesses. Todos somos agentes livres. Estamos divididos e conquistados. Existem grandes organizações, empresas e associações de escritores aí fora que defendem os autores, mas nenhuma deles tem alcance ou poder para aproveitar a ação coletiva. Todo autor independente está por aí tentando abrir seu caminho na busca por leitores. Visto bem de cima, parece centenas de milhares de gatos se movendo em direções aleatórias procurando por ratos.

Alguém descobriu como criar um rebanho de gatos. Um único caçador conquistou o mercado de ratos. Todos os gatos correm para lá. Mas não há ratos suficientes para todos os gatos, então o caçador proclama que apenas alguns poucos podem agora ter privilégios preferenciais de caça. Tudo que você precisa fazer é entregar sua independência.

Os independentes não podem dizer não à dependência?

Não é tarde demais para escritores autopublicados reconquistarem sua independência. Os autores poderiam matar o KDP Selection amanhã, junto com o KU, simplesmente se recusando a participar. O KU entraria em colapso no ato (ou dentro de três meses) se todos os livros desaparecessem. O problema é que sempre há outro autor ou editora esperando na fila para substituir o autor que se recusa a participar. Outro autor que está disposto a baixar as calças pela chance de chegar a esses leitores cativos. Isso faz parte do modelo de negócios da Amazon de forçar os produtores a oferecer preços cada vez mais baixos e ganhar uma porcentagem cada vez menor desses preços.

Neste ponto, é claro que a indústria editorial (incluo todos aqui – editores, livreiros, independentes, eu e todos os outros na indústria) se mostrou inepta e incapaz de organizar uma resposta coesa e efetiva à Amazon. Em vez disso, a indústria reclama sobre o domínio da Amazon, enquanto continua a entregar mais sua independência para ela todos os dias.

A indústria, em seu desespero para alcançar os leitores, virou seu próprio pior inimigo. Agora grandes editoras – as únicas que detêm o poder de barganha coletiva em nome dos escritores mais vendidos do mundo – andam com cuidado perto da Amazon, com medo de que, se reclamarem de algo, seus botões de pré-vendas desaparecerão e seus autores culparão a editora por não manter seus livros nas prateleiras virtuais da Amazon.

Os independentes temem que, se não concordarem com a exclusividade do KDP Select, chegarão a menos leitores. É estranho como os independentes estão repetindo os mesmos erros feitos pelas editoras. Não culpo os autores que participam do KDP Select. Culpo a Amazon por colocar os autores nesta posição.

Embora muitos independentes tenham evitado a exclusividade por princípio (um viva para os autores da Smashwords!), muitos outros jogaram os princípios para o alto e estão prontos para entregar mais carne e dignidade se isso permitir que cresçam em visibilidade para que possam continuar a colocar comida na mesa da família. É uma situação triste quando os independentes são obrigados a dedicar mais energia criativa para agradar os algoritmos corruptos da Amazon do que agradar os leitores.

A concorrência justa na Amazon não existe.

A fraude do KU

Em 2017, houve um alvoroço na comunidade independente criticando todos os golpistas que estavam roubando dinheiro do KU. Vamos falar sério – o problema é real. Os golpistas estavam manipulando os algoritmos e os métodos de contagem de páginas da Amazon para inflar artificialmente as leituras de páginas, os ganhos e o ranking de vendas de certos livros. Isso significava menos dinheiro e menos visibilidade para outros participantes do KU. O que a maioria desses independentes não percebeu, no entanto, era que o próprio KU era uma farsa. O KU é uma construção artificial projetada para reduzir o poder de preço dos autores, assim a Amazon pode oferecer preços cada vez mais baixos aos seus clientes. A longo prazo, é ótimo para a Amazon, mas não é tão bom para os autores. O KU rouba visibilidade e oportunidade de vendas de autores não participantes e os entrega aos autores participantes. Os participantes do KU estão atropelando seus próprios colegas.

Imagine o polegar de um gigante pressionando um barco que flutua perfeitamente, afundando-o lentamente, enquanto os passageiros passam freneticamente um por cima do outro para alcançar as últimas arfadas de oxigênio. Adivinha quem desempenha o papel de gigante e de passageiro? Não precisa ser assim.

Hora de mudar a situação?

Olhando para trás, isso não é apenas um fenômeno da Amazon. É parte de um problema e uma tendência maior na qual algumas plataformas de grandes empresas de tecnologia (Google com pesquisa, Facebook com mídia social, Amazon com comércio eletrônico) acumularam tanto poder que se tornou uma questão de autopreservação para elas continuarem fazendo o que estão fazendo. No processo, estão sufocando a inovação e impedindo a concorrência leal.

O Professor Scott Galloway da NYU teve algumas ótimas ideias sobre este problema de plataformas muito poderosas. Ele está fazendo uma campanha solitária nos últimos meses pedindo a intervenção do governo para dividir essas empresas e restaurar a concorrência leal. Argumenta que a regulamentação governamental não é algo socialista – é algo pró-competição. Ao dividir essas empresas e restaurar a concorrência leal, isso liberaria uma nova onda de inovação. Veja aqui a sua palestra no Ted.

Margerethe Vestager, comissária de competição da Comunidade Europeia | © Paul Voorham / EU2016 NL
Margerethe Vestager, comissária de competição da Comunidade Europeia | © Paul Voorham / EU2016 NL

Salve-nos, Margrethe Vestager

É hora da intervenção dos reguladores governamentais para restaurar a concorrência leal. É hora de dividir a Amazon. Monopólios e monopsônios (dos quais a Amazon possivelmente é um pouco dos dois) não são ilegais. O que é ilegal é quando uma empresa exerce o seu domínio para sufocar a concorrência leal.

A Amazon, como um gigante de comércio eletrônico, tornou-se tão poderosa que outras empresas podem perder bilhões de dólares em valor de mercado em questão de minutos com o mero rumor de que a Amazon pode entrar em sua área. A Amazon tornou-se tão dominante em tantas áreas de comércio que os investidores estão relutantes em investir em empresas que podem um dia competir com ela. A concorrência justa foi destruída.

A Amazon pratica preços predatórios operando seus negócios sem lucros ou perdas. A Amazon não precisa ganhar dinheiro com os livros, enquanto a sua livraria local ou varejista de livros eletrônicos favoritos que não é a Amazon não pode permanecer no mercado se todo o lucro na venda de livros for descarregado no banheiro da Amazon.

As livrarias não podem sobreviver quando a Amazon pode coagir seus autores e editoras a conceder preços melhores para ela, ou pior, como vemos no espaço de e-books independentes com o KDP Select, a colocar uma arma na cabeça dos autores e forçá-los a negar a outros varejistas a possibilidade de vender seus livros.

É improvável que uma ação reguladora aconteça no futuro próximo nos EUA. O governo dos EUA está horrivelmente quebrado no momento. Mesmo que Donald Trump não seja fã de Jeff Bezos, a regulamentação parece um anátema para ele e sua base no momento.

Uma ação regulatória é mais provável que saia da Europa, e especificamente dessa corajosa mulher, Margrethe Vestager (na foto ao lado), comissária de competição da União Europeia. Estou imaginando o rosto de Margrethe Vestager colado na cabeça de Obi-wan Kenobi. A Princesa Leia está implorando: “Salve-nos Margrethe Vestager, você é nossa única esperança”.

Mas a grande questão, especialmente para os autores independentes que vivem da renda de seus livros, é se a reforma chegará a tempo antes que todos se afoguem no barco que a Amazon está deliberadamente afundando. Não precisa ser assim. Nenhum outro varejista força a exclusividade. Nenhum outro varejista pune o autor por se recusar a ser exclusivo. Nenhum outro varejista tira o controle de preços dos autores, ou tira seus direitos por três meses, períodos que podem ser renovados automaticamente.

Não está claro como as livrarias que vendem exclusivamente livros poderão permanecer funcionando em um ambiente no qual os mesmos consumidores que reclamam muito do fechamento de livrarias esquecem sua própria cumplicidade ao passear por sua livraria local antes de comprar na Amazon.

A Amazon não é má. Ela simplesmente alimenta nossos apetites glutões insaciáveis por menores custos e maior consumo.

Eu poderia até argumentar que a Amazon é vítima de seu próprio sucesso. O modelo de negócios da Amazon a trouxe até aqui e agora ela não pode voltar. No momento em que começarem a aumentar os preços para ganhar um lucro justo será o momento em que perderão sua vantagem competitiva. Ou será o momento em que atrairá a ação antitruste.

Enquanto isso, esses preços baixos caem sobre as costas dos fornecedores da Amazon.

Os autores não podem terceirizar sua criação para a China ou o México. A distopia satírica de 1º de Abril que eu desenhei há alguns anos (veja “Kindle Power Bucks”) sobre autores que pagam para serem lidos na Amazon está se tornando realidade.

Os Autores vão retomar a sua independência?

Não é tarde demais para que os autores retomem sua independência, mas o tempo está acabando. Como falei acima, os autores independentes têm o poder de matar o KDP Select amanhã, simplesmente optando por sair. Mas eles vão fazer isso? Muitos de nós no movimento independente têm alertado sobre as implicações de longo prazo do KDP Select desde que ele foi lançado. No entanto, esses avisos caíram em ouvidos surdos porque os leitores são o oxigênio dos escritores.

Assim, embora seja possível que os autores reivindiquem sua independência, parece improvável que a comunidade esteja disposta a aguentar a dor necessária para sair dessa situação. O ecossistema varejista que já funcionou tão bem para apoiá-los está desaparecendo, morrendo com mil feridas de faca. É por isso que os autores não podem ter coisas boas.

O lado positivo desse quadro distópico

Apesar de todo o pessimismo que eu mostrei acima, permaneço otimista quanto ao futuro editorial independente. Continuo confiante que, de uma maneira ou de outra, as estrelas se alinharão para que os autores se levantem e retomem seus futuros. É improvável que seja no ano que vem ou no seguinte, mas em algum momento a dor dessa dependência causará uma reação.

Enquanto isso, se minhas palavras acima o deixaram deprimido, quero mostrar esse outro lado otimista antes de avançar para as previsões.

A publicação de livros é um negócio global de vários bilhões de dólares. O tamanho do mercado poderia cair 50% amanhã e você ainda teria oportunidades incríveis para alcançar todos os seus sonhos de escritor. Essas oportunidades ainda serão 1.000 vezes maiores do que as oportunidades que você teve antes do surgimento do movimento de autores independentes cujas raízes apareceram em 2007 e 2008.

Todo varejista, exceto a Amazon, poderia abandonar o mercado de e-books e você ainda teria a oportunidade de chegar aos leitores.

Os leitores não vão parar de ler livros. Seu livro é único. Embora seja possível comercializar o prazer da leitura com o KU, seu livro sempre oferecerá algo atraente pelo qual os leitores vão querer pagar, SE você exigir ser pago por ele.

Se você valorizar sua independência editorial, lute por ela.

Previsões Editoriais 2018

Vejo luz do sol e nuvens para 2018. Vamos falar das más notícias primeiro e depois vamos desembrulhar as boas notícias.

NUVENS

1. 2017 será outro ano desafiador para a indústria do livro – Não há como adocicar, então não vou. A publicação de livros está em um declínio estrutural lento. Os livros são mídia. São um pacote de papel ou um pacote de bits e bytes digitais que carregam histórias e conhecimentos. Eles podem entreter, informar e inspirar. Agora pense na concorrência dos livros. A resposta a isso é basicamente, “todas as mídias”. Os livros competem com a atenção sempre fragmentada dos consumidores contra outras formas de mídia para entretenimento, escapismo e construção de conhecimento. Essas mídias incluem redes sociais, TV a cabo, serviços de streaming como Netflix ou Spotify, videogames, YouTube, podcasts, revistas impressas e qualquer outra coisa que chame a nossa atenção.

2. A abundância de e-books de alta qualidade e baixo custo vai piorar – Nos velhos tempos de publicação impressa, o número de livros em circulação era artificialmente limitado pela produção das editoras tradicionais e pelo espaço de prateleira disponível nas livrarias de tijolos. Como o espaço de prateleira das livrarias de e-books é virtualmente ilimitado, os e-books nunca se esgotam. Isso significa que todos os dias a partir deste, haverá mais livros ocupando prateleiras virtuais e competindo por um leitor cuja atenção está cada vez mais fragmentada em várias formas de mídia.

3. A Barnes & Noble está doente e ficará mais ainda – Eu adoro a Barnes & Noble. Eles são nosso segundo maior canal de vendas depois da Apple iBooks. A equipe de e-books da B&N é excelente. Mas seu negócio de e-book está com problemas. Está diminuindo todos os anos e esse encolhimento torna difícil para eles investir a quantia que o negócio exige. A empresa ainda está distraída por acionistas ativistas que estão agitando para a venda da empresa. Isso irá distrair a B&N de sua principal prioridade – precisa voltar o foco para se tornar a melhor livraria possível.

4. As vendas da Kobo vão diminuir – A Kobo, uma livraria de e-books de tamanho médio com foco internacional, foi um dos players mais fortes no espaço do e-book nos últimos quatro anos. Enquanto outras livrarias caíram e perderam participação no mercado, a Kobo foi o pequeno motor que conseguiu crescer. Foram inteligentes para se dedicar a fortalecer o negócio de e-books de outras livrarias e fazer parcerias com lojas de tijolos. A Kobo também teve um grande sucesso apoiando autores independentes, cujos livros agora representam uma porcentagem considerável das vendas de suas lojas. No entanto, não vejo como eles poderão manter seus clientes a longo prazo quando estão competindo contra uma livraria que tem mais de 1 milhão de e-books independentes fechados e inacessíveis aos clientes da Kobo.

5. Pressões de desvalorização persistirão – O mercado editorial está pegando fogo figurativamente, mas a indústria ainda não vê a fumaça. As grandes editoras olham para o Kindle Unlimited e pensam, “não é uma ameaça para mim, esses livros são todos lixo”. No entanto, o sucesso da Amazon com o KU está colocando uma considerável pressão de desvalorização sobre os e-books. As editoras devem ler o livro Innovators Dilemma de Clayton Christiansen. Muitos desses livros do KU são lixo, mas o KU tem uma grande massa crítica de títulos que oferece um valor incrível para os consumidores. Sempre haverá uma coleção verdadeiramente ilimitada de livros de 5 estrelas para que os leitores possam escolher. Você pode apostar que os assinantes do KU estão comprando menos livros publicados de forma tradicional como resultado.

6. As vendas de e-books single-copy diminuirão – Se os leitores podem obter mais horas de prazer de leitura por dólar no KU do que comprando e-books single-copy, as vendas de desses e-books diminuirão não apenas na Amazon, mas em todas as livrarias.

7. Autores de romances sofrerão mais com o KU – Os leitores de romances são os mais incríveis. São os leitores que leem um livro por dia. Esses leitores migrarão para a leitura ilimitada dos serviços de assinatura, para os quais o KU é o fornecedor mais importante hoje em dia.

8. Grandes editoras tradicionais reduzirão o compromisso com o romance – Estou ouvindo pessoas nas grandes editoras dizer que estão questionando seu compromisso com o romance e estão considerando ceder esse mercado para autores autopublicados. Um deles me disse: “Não há como construir um negócio vendendo e-books de romance a 1,99 dólares”. Acho que seria um erro dos editores fazerem isso, porque os autores de romance são geralmente os primeiros motores em termos de tendências. Os autores independentes dominam os e-books de romance, mas os independentes de outros gêneros estão se tornando fortes. As editoras vão abandonar a ficção-científica, fantasia, horror, mistério e thriller também? As grandes editoras devem abraçar o romance, não abandoná-lo.

9. Fadiga da lista de e-mail – Uma das mais poderosas ferramentas de construção de plataformas para autores independentes é a lista privada de correios eletrônicos. Muitos autores independentes verão que suas listas de e-mail vão diminuir este ano, pois os leitores tentam retomar o controle de suas caixas de entrada.

10. A pressão vai aumentar para diminuir os royalties do autor – Autores independentes celebram sua capacidade de ganhar 70% da venda com seus e-books, mas essa taxa de royalties se tornará cada vez mais insustentável à medida que os concorrentes da Amazon caírem pelo caminho. Lembram como foi a entrada da Apple no mercado que forçou a Amazon a aumentar os royalties? Com menos livrarias viáveis, a Amazon está no banco do motorista quando se trata de royalties. Se eles diminuírem os pagamentos no KDP, outras livrarias serão obrigadas a seguir o exemplo para manter seus custos competitivos.

LUZ DO SOL

2018 não será um desastre melancólico. Vejamos alguns pontos brilhantes.

11. Os audiobooks serão importantes em 2017 – Os audiobooks foram o segmento de mercado que cresceu mais rápido no ano passado, e acho que isso continuará em 2017. Os audiobooks tornam os livros acessíveis a mais leitores, abrindo novas horas do dia para o consumo de livros. Você pode desfrutar os audiobooks enquanto faz outras coisas, enquanto que a leitura de texto requer sua atenção total.

12. Audible enfrentará uma maior concorrência – Atualmente, a Amazon tem um monopólio virtual dos audiobooks, através de sua divisão Audible. Eles despojaram os autores e editoras de todo controle de preço e pagam royalties insignificantes. Acho que 2018 será o ano em que autores e editores vão começar a se revoltar. Um catalisador central para essa revolta poderia ser a Apple. Até cerca de um ano atrás, a Apple estava obrigada por um acordo de fornecedor exclusivo a vender apenas audiobooks da Audible. Agora que esse acordo acabou, a Apple vai promover mais concorrência? Mesmo se a Apple não fizer nada, outras forças estão se organizando para acabar com a hegemonia da Audible em audiobooks.

13. Os leitores ainda pagam por livros que valem a pena ler – Uma das grandes lições da Smashwords Survey deste ano foi que descobrimos que nossos autores mais vendidos conseguiram aumentar os preços sem prejudicar as vendas unitárias. 4,99 dólares se juntou aos 2,99 e 3,99 como os pontos excelentes para preços. Isso me diz que os autores que criam seguidores devotos têm poder de preço. Seus leitores vão segui-los e ficarão com eles mesmo quando passam de preços ultra baixos para preços que ainda são bastante baixos. 4,99 dólares é um ótimo valor para um ótimo livro! Isso também indica que muitos autores provavelmente estão se vendendo por preços baixos demais ou participando de um certo serviço de assinatura que só paga 1/2 centavo por página. O episódio 7 do meu podcast Smart Author explora a Smashwords Survey 2017.

14. Novos serviços de assinaturas serão criados – Em 2017, a Kobo fez movimentos para lançar seu próprio serviço de assinatura de e-books para competir com o KU. O Scribd faz assinaturas já faz um bom tempo. No momento, nem a B&N nem a Apple oferecem serviços de assinatura. Acho que é inevitável o surgimento de novos serviços de assinatura pois as livrarias terão que enfrentar a ameaça representada pelo KU. O surgimento de mais serviços de assinatura representa uma pista potencialmente escorregadia. No momento, o Scribd é o único fornecedor com um modelo amigável ao autor, onde ele recebe uma porcentagem do preço do catálogo deles. Mas como vimos em 2015, quando o Scribd teve que abandonar o romance, o consumo excessivo pode quebrar o modelo de assinatura se os leitores lerem demais. A resposta da Amazon a este desafio, assim como a resposta da Kobo, foi pagar os autores a partir de um pool compartilhado. Desta forma, a livraria poderia equilibrar sua receita de assinatura com a despesa de fornecer esses livros. Nunca fui fã desses modelos baseados em pool porque tira o controle de preços do autor e pode contribuir para sua desvalorização. Vou ficar de olhos abertos em 2018 para serviços de assinatura amigáveis com o autor que podem pagar mais do que eles estão ganhando na Amazon, mas sem as restrições de exclusividade.

15. Vai aumentar nos EUA a pressão para ações antitruste contra a Amazon – Esta foi uma das minhas previsões centrais do ano passado, e estou trazendo-a de volta porque acho que está se tornando uma inevitabilidade. O governo dos EUA até agora não mostrou nenhuma inclinação para restaurar a concorrência justa no mercado editorial. Na verdade, sua decisão estúpida há alguns anos de acusar as editoras e a Apple de conluio de preços só ajudou a Amazon. Mas agora que a Amazon está perturbando agressivamente outras indústrias, de supermercados e varejo de consumo até serviços de saúde e transporte, devo imaginar que os CEOs das empresas de capital aberto mais poderosas nos EUA vão começar a direcionar seus lobistas em Washington para colocar alguns controles sobre a Amazon. Se a União Europeia com fazer algum progresso colocando essas plataformas poderosas de joelhos, isso pode dar a Washington a base necessária.

16. Os independentes retomarão o controle sobre a plataforma – Muitos independentes ficaram frustrados nos últimos anos com o Facebook. Depois que os independentes dedicaram tempo e dinheiro para construir sua base de seguidores no Facebook, a rede social puxou a isca e começou a cobrar os autores para que fossem vistos por seus amigos e seguidores. Mais independentes tomarão medidas em 2018 para criar um relacionamento mais próximo e mais direto com seus leitores porque, como eles estão aprendendo, se alguém controla seu acesso aos leitores, podem cobrar ou tirar esse acesso.

17. Os autores independentes vão estudar melhor o podcast para alcançar novos leitores – Minha limitada experiência em fazer uma dúzia de episódios do podcast Smart Author abriu meus olhos para o poder desse meio. Estou vendo maiores oportunidades para os autores independentes usarem o podcast, assim como usam os audiobooks, para tornar suas palavras mais acessíveis a novas audiências. Se você visitar o Apple Podcasts e clicar na categoria Artes, encontrará exemplos do potencial dessas duas mídias juntas. Você tem autores que leem seus livros (como Scott Siglar que faz isso há anos, desde que os Podiobooks de Evo Terra estavam por aí), autores que fazem performances de seus próprios livros, artistas que leem clássicos de domínio público, minha própria serialização da próxima edição de 2018 do Smashwords Book Marketing Guide, e mais. Espero que todos tenham um Ano Novo seguro e feliz. Estou ansioso para trabalhar com vocês em 2018 para mudar o mundo um e-book independente de cada vez.

[24/01/2018 08:00:00]