Livro Digital: Bookwire compra DLD e Xeriph joga a toalha
PublishNews, Leonardo Neto, 02/10/2017
Para Jens Klingelhöfer, CEO da Bookwire, "o Brasil é um mercado muito importante com altas taxas de crescimento”. Já a Xeriph aponta o volume de vendas não é suficiente para manter a operação.

A velha história de ver o copo meio cheio ou meio vazio. Pouco mais de um mês depois da divulgação do Censo do Livro Digital, que apontou que 63% das editoras brasileiras ignoram o mercado de e-books, duas movimentações relevantes e em sentidos opostos aconteceram no cenário de distribuição digital no País.

Primeiro, a Bookwire, agregadora digital alemã que chegou no Brasil em fevereiro de 2015, acaba de anunciar que comprou a DLD. Sempre bom lembrar que a DLD foi criada em 2011 a partir da união da Objetiva, Record, Sextante, Rocco, Planeta e L&PM. Atualmente, a DLD faz a distribuição digital de nove grandes editoras: Sextante, Record, Rocco, Planeta, L&PM, Novo Conceito, HarperCollins, Elsevier e Ediouro.

No sentido oposto, a Xeriph, uma das pioneiras na distribuição digital no País, criada em 2010, anunciou o fim de suas operações, justificando que “o volume de vendas dos e-books que distribuímos atualmente não está sendo suficiente para manter a nossa operação viável do ponto de vista financeiro”.

Jens Klingelhöfer, CEO global da Bookwire: “No segmento de e-books, o Brasil é um mercado muito importante com altas taxas de crescimento” | © Divulgação
Jens Klingelhöfer, CEO global da Bookwire: “No segmento de e-books, o Brasil é um mercado muito importante com altas taxas de crescimento” | © Divulgação

Digitale Bücher

Em operação no Brasil há pouco mais de dois anos e meio, a Bookwire tem registrado resultados positivos. Segundo informou a empresa, comparando os 12 meses de 2016 com apenas os seis meses de 2017, o crescimento foi de 28%. Em números absolutos, a Bookwire distribuiu 1,4 milhão de e-books em 2016. No primeiro semestre de 2017, foram 1,8 milhão.

“No segmento de e-books, o Brasil é um mercado muito importante com altas taxas de crescimento”, afirmou Jens Klingelhöfer, CEO global da Bookwire. “E já somos bastante ativos no país desde que iniciamos nossa expansão para a América Latina em 2013, apresentando um crescimento constante em nosso segmento, o que refletiu também no aumento de nossa estrutura”, continuou. “A aquisição da DLD foi apenas mais um passo lógico e natural de nossa estratégia de crescimento, com a qual planejamos expandir globalmente nossa participação no setor de publicações digitais”, finalizou.

Atualmente, a Bookwire distribui cerca de 16 mil títulos de 240 editoras. Com a aquisição da DLD, a empresa alemã soma a esses números nove das maiores editoras do País, o que representa aumento de 10 mil títulos no seu catálogo.

Marcelo Gioia, country manager da Bookwire no Brasil | © Divulgação
Marcelo Gioia, country manager da Bookwire no Brasil | © Divulgação

A negociação para a aquisição da DLD começou na Feira do Livro de Frankfurt de 2014, segundo informou ao PublishNews, Marcelo Gioia, country manager da Bookwire no Brasil. Isso significa dizer que o primeiro encontro aconteceu poucos meses depois de a Penguin Random House adquirir os selos de interesse geral da espanhola Santillana. Mas o que isso tem a ver com o caso? Elementar. Entre os selos que passaram a fazer parte da Penguin Random House estava a brasileira Objetiva, uma das sócias-fundadoras da DLD. Com essa operação, a Objetiva passou a integrar o catálogo da Companhia das Letras (posteriormente chamado Grupo Companhia das Letras), da qual a Penguin Random House é sócia e cuja distribuição já era feita na época pela Bookwire.

À época, Carlo Carrenho questionou, em sua coluna, como seria resolvido o impasse. Ele disse: “A médio prazo, é bem provável que uma destas duas situações ocorra: (1) a Companhia das Letras passe a integrar a DLD; ou (2) a Objetiva saia do consórcio”. Acertou e errou. A Companhia de fato passou a fazer parte da composição societária da DLD, mas nunca teve seus livros distribuídos pela plataforma. Num segundo momento, saiu da sociedade e levou o catálogo da Objetiva para a Bookwire. Com a saída da Objetiva e para recompor a sua musculatura, a DLD buscou novos parceiros. Foi aí que vieram editoras como Novo Conceito, HarperCollins, Elsevier e Ediouro.

Mas a venda, segundo defende Marcos da Veiga Pereira, sócio-proprietário da Sextante e diretor do conselho da DLD, veio em boa hora: “O livro digital é uma oportunidade e ainda tem um longo caminho no Brasil, mas nós editores precisamos focar no que sabemos fazer melhor, que é criar conteúdo. Por isso, depois de escrevermos uma história digital de sucesso com a DLD, fazia todo o sentido confiar nossos catálogos à Bookwire”.

A estrela que cai

A história da pioneira Xeriph é recheada de idas e vindas. Em 2013, quando a empresa já distribuía e-books de 240 editoras, a Xeriph foi comprada pela Abril. Na mesma leva, a Abril ficou com a Gato Sabido, braço varejista da distribuidora. O negócio foi desfeito no ano seguinte, quando a Abril tira do ar o iba, seu serviço de assinatura de e-books, e desiste de investir em livros digitais.

Em 2015, acontece uma negociação que avança com a Acaiaca, mas que acaba dando em água. Nessa mesma ocasião, a Xeriph passa por uma reestruturação e extingue a Gato Sabido.

Em comunicado enviado agora aos seus parceiros e clientes, a Xeriph informa que encerra seus serviços por tempo indeterminado a partir de 31 de outubro próximo, quando desligará seus servidores. “Diante deste cenário, buscando minimizar perdas, principalmente para que a distribuição dos seus e-books não seja interrompida após o encerramento das nossas atividades, os leitores continuem encontrando seus livros em formato digital e vocês não percam vendas, a Amazon se disponibilizou a assinar contratos diretos com as editoras parceiras da Xeriph”, diz o comunicado.

Para realizar a transição, basta enviar os dados da editora (nome, razão social, endereço, dados de contato e CNPJ) ao e-mail: atendimentoeditoras@amazon.com.

A direção da Xeriph foi procurada pela redação do PublishNews, mas não conseguimos contato.

[02/10/2017 11:08:00]