Na gestão do Galeno Amorim na Biblioteca Nacional, foi feito um levantamento de quantas feiras e festivais literários existiam no país, de modo a dimensionar o programa de apoio a essas iniciativas, com recursos do Fundo Nacional de Cultura. Galeno deixou a presidência da BN em 2013, mas até 2014 foi lançado o edital convocando inscrições para o problema.
Tudo isso, desde então, foi desaparecendo, e se esvai na fumaça do tempo.
Infelizmente perdi a tabela com os dados levantados. Mas lembro que estavam na casa das centenas, espalhados por todo o Brasil, com o maior número delas no Rio Grande do Sul.
Felizmente, entretanto, apesar desse descaso para com essas importantíssimas atividades de apoio ao livro e à leitura, as pequenas feiras e festivais continuam florescendo no que é o Brasil (enquanto o Bananão assume tantos outros aspectos desse antigo país). Não apenas as grandes manifestações, como a Flip, mas também as pequenas e médias. Infelizmente, algumas terminaram, como o Festival da Mantiqueira, exterminado pela própria entidade que o criou, a Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.
A Flicristina é uma dessas que nasceu e continua depois da extinção desse programa. Começa na noite desta quarta-feira (6) e prossegue até domingo (10).
Sexta-feira à tarde estarei lá, conversando com o público sobre Leitura e Mercado Editorial. É um tema recorrente no que escrevo: a importância dos autores do mercado editorial (editores, distribuidores, vendedores do porta-a-porta e livreiros) na difusão do hábito da leitura em nosso país. A programação da Flicristina pode ser conferida clicando aqui.
Ninil Gonçalves, promove o Festival junto com sua irmã Rai Gonçalves. Ninil é fotógrafo, e eu e a Maria José Silveira o conhecemos quando ele veio fotografá-la para um projeto que desenvolve, de retratar os autores em seu ambiente de trabalho. Produziu o livro Cristina nos olhos, sobre sua cidade natal. Sua irmã, Rai Gonçalves, tem uma cafeteria na cidade, e é uma batalhadora pelo fortalecimento da vida cultural em Cristina. A cidade está no Sul de Minas, na área que abrange Itajubá, Delfim Moreira, Santa Rita do Sapucaí e outras. É uma região produtora de cafés finos, alguns dos quais já foram classificados como entre os melhores do mundo.
A história da iniciativa de Ninil e Rai é contada pelo próprio Ninil, no texto abaixo:
“Pequena História da Flicristina
A Flicristina foi idealizada há 3 anos atrás pelos irmãos Ninil Gonçalves e Rai Gonçalves numa conversa sobre a falta de opção em Cristina para aqueles que gostam de literatura e precisam de um espaço para desenvolver tais diálogos. A ideia inicial era fazer algo como um pequeno “café com Letras” ou "café filosófico” na cafeteria que a Rai tinha acabado de abrir na praça Santo Antonio e num sábado fazer alguns diálogos com professores universitários que conhecemos. Essa necessidade também se deu por motivos relacionados ao passado.
Somos de uma família de avós e pais trabalhadores rurais e todos analfabetos. Nunca tivemos livros em casa. Rompemos com o analfabetismo e começamos a encher a casa de livros. Hoje todos os irmãos são professores e essa relação com a Educação nos conduziu a rever essas questões do passado e tentar fazer algo que levasse a literatura a muitos que não têm contato com ela e a Educação se tornou a bandeira da feira. Não tínhamos ideia que aquele pequenino “café com letras” se tornaria uma feira. Talvez a forma artesanal e o projeto sem fins lucrativos tenham conquistado alguns corações que nos apoiaram.
Essa parceria e o trabalho coletivo é que dá sentido à feira, tudo isso voltado para formação de leitores e disseminação da literatura como ferramenta transformadora do mundo, pelo menos ao redor de nós, se possível. A Flicristina continuará com essa intencionalidade de ter a Educação como carro-chefe da feira e também na divulgação de trabalhos de autores da região e obviamente trazer os grandes autores para legitimar a grandiosidade transformadora da literatura. A secretaria de Educação da gestão anterior apoiou e possibilitou o crescimento da Flicristina. O mesmo aconteceu com a secretaria de Educação atual, que não poupou esforços para que a feira se tornasse ainda melhor. A secretaria conseguiu reunir as professoras e todos os alunos da cidade para participarem da feira, inclusive da zona rural. Isso traz uma felicidade imensa aos organizadores porque esse é o espírito da feira: levar a literatura a todos. A prefeitura da cidade está nos apoiando de todas as formas possíveis.
Essa participação do poder público mostra o quanto a gestão atual é responsável em relação à Educação e isso nos anima a ter um empenho ainda mais intenso. Realmente não é fácil organizar uma feira literária, pois os problemas são 10 vezes maiores que as soluções, mas criamos isso e somos responsáveis pelo que ela tem a oferecer a todos. Estamos empenhados em fazer o melhor para todos os participantes e visitantes. Pedimos desculpas por qualquer deslize ou erro. Os organizadores agradecem de coração a todos os envolvidos, direta e indiretamente na luta, que é de todos e para todos”.
Vou para Cristina e para a Flicristina.
Aproveite o feriadão e vá também!
Felipe Lindoso é jornalista, tradutor, editor e consultor de políticas públicas para o livro e leitura. Foi sócio da Editora Marco Zero, diretor da Câmara Brasileira do Livro e consultor do CERLALC – Centro Regional para o Livro na América Latina e Caribe, órgão da UNESCO. Publicou, em 2004, O Brasil pode ser um país de leitores? Política para a cultura, política para o livro, pela Summus Editorial. Mantêm o blog www.oxisdoproblema.com.br. Em sua coluna, Lindoso traz reflexões sobre as peculiaridades e dificuldades da vida editorial nesse nosso país de dimensões continentais, sem bibliotecas e com uma rede de livrarias muito precária. Sob uma visão sociológica, ele analisa, entre outras coisas, as razões que impedem belos e substanciosos livros de chegarem às mãos dos leitores brasileiros na quantidade e preço que merecem.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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