Formou-se um time: ele escrevia e outros três colegas desenhavam. “Foi uma experiência muito boa, mas também muito amarga. Eu não tinha o segundo grau completo. Por isso, não consegui o registro de jornalista e, portanto, não pude fechar contrato com o jornal”, conta. Esse episódio fez Estevão voltar à escola e foi para no curso de Artes Visuais na Universidade Federal do Espírito Santo.
Mas Estevão não estava satisfeito, queria que suas tirinhas fossem reunidas em um livro. “A gente tinha a fantasia que ia achar uma editora que bancasse o livro e a gente ia ficar rico, mas nenhuma editora quis o nosso material”, conta rindo. Nessa época, no Espírito Santo, só existiam empresas que, embora levasse o nome de editora na Razão Social, eram apenas gráficas. “Batemos à porta de todas elas, mas nada aconteceu. Foi aí que resolvi trabalhar em gráfica para entender o trabalho. Só aí entendi os custos e aprendi todo o processo gráfico”, relembra. A partir dessa experiência e do retorno aos bancos escolares, Estevão conseguiu um trabalho no jornal A Tribuna, onde ficou por quatro anos. Era responsável pela produção de conteúdos infográficos, charges e especiais dominicais.
O sonho de ver publicado em nível nacional um livro com suas tirinhas veio em 2001, quando a Escala publicou a Revista Tristão, que teve desdobramentos, com a publicação de mini-gibi O jovem da máscara branca e o livro Tristão – Senhor do fogo. “Foi com Tristão que fiquei conhecido no mercado”, pontua. No entanto, o fato de ser apenas o roteirista das suas histórias em quadrinhos obrigava Estevão sempre a fechar parcerias para produção do Tristão. “Resolvi, por isso abandonar o personagem”, disse.
Ainda morando em Vitória, Estevão queria ir além. Sonhava em escrever para TV. Em 2008, conhece Ana Cristina Rodrigues e, em seis meses, estava de mudança para Niterói, para viver essa história de amor. Estando mais perto do Rio, as coisas andaram mais rápido. Duas conquistas marcaram esse início de vida em território fluminense. Primeiro, começou a produzir roteiros para a série clássica da Turma da Mônica, dentro da Mauricio de Sousa Produções. E depois, participou de uma seletiva para um masterclass com o teledramaturgo Aguinaldo Silva, que resultou na novela Fina Estampa, exibida entre 2011 e 2012.
Em 2009, se lança numa nova empreitada: a série Pequenos Heróis, publicada pela Devir e que lhe rendeu o prêmio HQ Mix de 2011 como melhor publicação infantil / juvenil. Como desdobramento dessa história, veio ainda Futuros heróis (Desiderata - 2013). Os dois títulos foram publicados nos EUA pela 215 Ink. Ainda em 2009, publica, pela editora A1, a sua autobiografia romanceada Enquanto ele estava morto. “Esse livro foi uma espécie de catarse. Foi a partir daí que resolvi desenhar as minhas próprias histórias”, conta.
Foi mais ou menos nessa época, também em 2009, que nasce Os Passarinhos, que ilustra o PublishNews desde 2013. “Eu trabalhava na Mauricio de Sousa quando criei Os Passarinhos. Em três meses, a tirinha tinha sido citada por Paulo Coelho e até por Neil Gaiman”, diz orgulhoso. Originalmente criada para a internet, a série é publicada em papel em 2010, pela Balão Editorial, graças a uma vaquinha. “Acho que fui um dos primeiros crowdfunding da história editorial brasileira”, ri. “Foi um sucesso. O livro teve que ser reimpresso três vezes. O formato não favorecia a venda em livrarias, então, vendíamos muito em eventos”, lembra.
No ano seguinte, em 2011, lança o segundo volume da série: Os passarinhos e outros bichos, também pela Balão. O formato retangular, como se fosse mesmo uma tirinha, foi deixado de lado e o segundo título saiu mais quadrado. Como consequência, o livro foi adotado pelo Programa Nacional Bibliotecas na Escola (PNBE) e teve quase 30 mil cópias vendidas. “Foi ano muito gratificante. Foi um trabalho muito bonito”, diz orgulhoso. Ainda pela Balão, publica Os Passarinho apresentam: vida de escritor, em 2013.
Além do PublishNews, a tirinha Os Passarinhos é publicada pelo El Nuevo Diário (Nicarágua), Jornal Correo (Peru), Revista Bang! (Portugal), O Dia (RJ) e A Gazeta (ES).
Em 2015, Estevão e Ana fundam a Aquário Editorial, por onde passa a publicar Os Passarinhos em papel. Pela Aquário, Estevão publicou Grande, gordo e feliz! Tirinhas de Hector e Afonso, Os Passarinhos, em 2015. Também pela Aquário, a dupla publicou Faminta, de Estevão e Lucas Marques; Meu caderno de perguntas, de Ana, Estevão e Clara Gomes; Anacrônicas, de Ana; As cores do esquisito, de Sergio Biscaldi; Tomai e bebei, de Max Mallmann e Um sábado qualquer, de Carlos Ruas.
Para esse ano, Estevão programa republicar o primeiro volume d´Os Passarinhos e fazer uma nova edição do segundo, mas em formato de tirinha, retangular. Além disso, Estevão está finalizando o seu segundo livro de terror – o primeiro foi A corrente (Draco): Rua M, que conta a história de um casal num bar de beira de estrada que quer conhecer uma casa na Rua M, mas o dono do bar conta histórias para tentar convencê-los a não ir. Antes mesmo de ser finalizado, o livro já teve dois trechos transformados em curtas dirigidos por André Vianco. Um deles, Saia do meu quarto, já pode ser assistido clicando aqui. O segundo, intitulado Aprovada!, está em fase de finalização.