Spain is different (Or not)
PublishNews, Marcela Prada Neublum*, 19/10/2016
Daniel Fernández, da Associação Espanhola de Editores, fala no ‘The Markets’ sobre o mercado de livros espanhol

Daniel Fernández, da Associação Espanhola de Editores, fala no ‘The Markets’ sobre o mercado de livros espanhol | © Marcela Prada Neublum
Daniel Fernández, da Associação Espanhola de Editores, fala no ‘The Markets’ sobre o mercado de livros espanhol | © Marcela Prada Neublum

Nos anos 1960, a Espanha buscava fomentar sua indústria turística com o objetivo de atrair estrangeiros a conhecer e a consumir em seu país. O slogan utilizado era Spain is different. Um ministro socialista espanhol, jogando com as palavras de forma irônica, inseriu as palavras or not logo a seguir, para referir-se ao fato de que a Espanha vivia, então, sob o regime de Franco, e que, talvez, essa diferença não existisse, e, caso assim fosse, seria negativa.

Sob esses dizeres e utilizando a frase como tema de sua palestra, Daniel Fernández, da Associação Espanhola de Editores, inicia sua fala no The Markets, seminário que antecede a abertura da Feira do Livro de Frankfurt e que, neste ano, mapeou, além da Espanha, o Brasil, o Reino Unido, os Emirados Árabes, Filipinas, Polônia e os convidados de honra desta edição: Holanda e os Flandres.

Em um primeiro momento, ele explicou que as mais de 700 editoras espanholas estão distribuídas entre as diferentes regiões do país, com destaque para Madri, com 41% das companhias, sendo conhecida como a capital das publicações na área educacional, e para Catalunha, com 35%, mais voltada para os livros trade.

Por meio de gráficos, ele mostra que a crise de 2008 teve consequências tardias no mercado de livros espanhol. No primeiro ano, houve recorde no consumo de livros, fenômeno que não se repetiu nos anos seguintes, com os indicadores caindo até 2014, quando uma pequena melhora pode ser observada e se estendeu até 2015. Além disso, houve uma diminuição de 25% no mercado interno e 30% no mercado global.

No entanto, o que pareceu preocupar mais Fernández é o fato de que, desde 2012, duas livrarias fecham suas portas diariamente em seu país. Levando em consideração que a Espanha possui uma grande quantidade de cidades pequenas, onde as livrarias representam as únicas atividades culturais para seus habitantes, esse fato acaba gerando um impacto social muito significativo.

Por outro lado, o interesse da Espanha pelos autores latino-americanos vem crescendo consideravelmente quando se pensa que a população ali nunca foi tão jovem e que, com isso, criam-se novos autores, novos leitores e um novo mercado que precisa ser observado. Esse episódio fez com que o número de novos títulos publicados crescesse substancialmente, diminuindo as tiragens na mesma proporção. A razão é a constante mudança do mercado: além do grande número de novos autores e do fechamento das livrarias, como citado, a tecnologia - falando aqui especificamente da autopublicação – e a escolha das editoras por outros meios de distribuição, que não os antigos, contribuem para esse cenário.

De toda a produção espanhola, cujo domínio sobre o mercado latino-americano é visível, as traduções estão entre 8% e 20%, sendo o inglês a língua mais trabalhada – diferentemente de 30 anos atrás, em que em seu lugar estaria a língua francesa.

Por fim, Fernández apresentou um panorama geral sobre os livros digitais e confirmou o que muitos vêm dizendo: de fato, a ideia de que o digital diminuiria o consumo do livro de papel não se concretizou. Na Espanha, 80% ainda optam pelo livro físico e, o que pareceu surpreendente, aqueles que escolhem o digital não o fazem nas áreas de não ficção / ficção, e sim nas áreas jurídicas, médicas e técnicas. Mesmo assim, 35% da população espanhola não têm interesse pelos livros, e o exemplo dado por ele nós brasileiros, pelos menos os paulistas, conhecemos bem: ao observamos os transportes públicos, raros são aqueles que são vistos com papéis nas mãos. Em seu lugar, celulares, tablets e quaisquer outros tipos de dispositivos eletrônicos ocupam a mente e as mãos de todos.


* Marcela Prada Neublum, 24 anos, editora de livros universitários, estudante de letras na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), apaixonada por astrologia, fotografia e política, vivendo atualmente em Londres.

[19/10/2016 09:25:16]