O coreano Mu Hak You é uma figurinha conhecida entre os investidores brasileiros pelo seu comportamento ousado e pelos seus investimentos de alto risco. Foi à bancarrota duas vezes e conseguiu se reerguer. Em uma dessas se indispôs com os megaempresários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, ao conseguir assento no conselho de administração das Lojas Americanas, empresa controladas pelo trio. A história parece se repetir, tendo agora como antagonista de Mu, a Saraiva. Na última segunda-feira, acionistas e investidores da Saraiva receberam um e-mail do seu RI (serviço de relacionamento com investidores) através do qual a empresa convocava os titulares de ações da companhia para uma assembleia geral extraordinária para deliberarem sobre a destituição de Mu do cargo de conselheiro e de Ana Maria Loureiro Recart, que trabalha com o investidor coreano, do cargo de membro do Conselho Fiscal da empresa. A assembleia, marcada para o dia 16 de julho vai debater ainda a suspensão dos direitos dos fundos de investimentos liderados pela GWI, empresa comandada por Mu Hak You, uma possível ação de responsabilidade contra os dois investidores.
A crise começou no início de maio, quando Mu e a GWI se levantaram contra o bônus no valor de R$ 3,4 milhões prometido aos administradores e empregados envolvidos na transação de venda dos ativos editoriais do grupo à Somos Educação. Poucos dias depois, Mu vencia a sua primeira batalha, quando conseguiu que os bônus fossem cancelados. Além disso, foi nessa mesma ocasião que a GWI – dona de 44,9% das ações preferenciais e 25,86% do capital total da Saraiva – conseguiu eleger Mu como membro do Conselho de Administração da companhia.
De acordo com apuração da revista Exame, Mu e Ana foram flagrados pelas câmeras de segurança da empresa mexendo em papeis e objetos dentro da sede da Saraiva durante o feriado de Corpus Christi (27/05), quando o local estava vazio. A família Saraiva – majoritária da empresa – considerou a visita uma invasão e já se preparava para acionar a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com uma queixa contra os acionista, quando, no dia 21 de junho, a GWI convocou, por conta própria, uma assembleia geral extraordinária para deliberar sobre os desafios da Saraiva frente ao atual cenário econômico, sua atual situação econômico-financeira e quais são as medidas necessárias “para evitar o iminente estado de insolvência da agravada e o quase certo pedido de recuperação judicial no futuro”.
A resposta da Saraiva foi imediata e conseguiu na Justiça a suspensão da assembleia. Mu Hak You e a GWI recorreram, mas, em uma decisão interlocutória ao recurso, ou seja, intermediária no processo, o magistrado Hamid Bdine, da 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, disse que “não há fatos novos que justifiquem a convocação imediata de Assembleia Geral Extraordinária como medida imprescindível para que a agravada (Saraiva) possa ‘dar um último suspiro e ressurgir das cinzas’”, conforme alegou a GWI para convocar a assembleia. Agora, a Saraiva será ouvida no recurso antes de sair a decisão colegiada do tribunal – o que deve acontecer nas próximas semanas. Após isso, o processo em primeira instância terá prosseguimento conforme a decisão da justiça.
Paralelo a isso, no último dia 28, a Saraiva entrou de fato com a ação na CVM pedindo que o órgão investigue indícios de infração por parte do investidor coreano sobre o qual “instilam suspeitas de regras do mercado de capitais brasileiro, demandando investigação”.
Mas em troca do que Mu, um acionista minoritário da Saraiva, estaria espalhando boatos sobre a situação de “insolvência” da empresa já que a notícia poderia gerar preocupação entre outros acionistas derrubando os valores das ações, fazendo o próprio investidor perder dinheiro? Ainda de acordo com a Exame, os Saraiva acusam Mu de querer espalhar notícias negativas sobre a empresa para se beneficiar da queda nas cotações das ações, possibilitando assim que a GWI compre mais ações e amplie a sua participação na companhia.