Além da crise financeira, Saraiva enfrenta crise com sócios minoritários
PublishNews, Leonardo Neto, 05/05/2016
Sócios estariam descontentes com a atual gestão e pedem mudanças

A Saraiva, hoje maior rede varejista de livros do País, com 112 lojas, tem enfrentado uma crise com seus acionistas. Matéria veiculada pelo jornal Valor Econômico desta quinta-feira (5), aponta que o descontentamento de acionistas minoritários levou à suspensão das assembleias gerais extraordinária e ordinária da empresa realizadas no fim da semana passada e remarcadas para esta quinta-feira. Os acionistas discordam de bônus no valor total de R$ 3,4 milhões prometido aos administradores e empregados envolvidos na transação de venda dos ativos editoriais da Saraiva à Somos Educação, em 2015. Os sócios minoritários questionaram o provisionamento desse valor, considerando o cenário atual, que levou a companhia suspender, pela primeira vez na sua história, os pagamentos de dividendos relativos a 2015. Se não é possível o pagamento de dividendos, investidores têm questionado a rede sobre a razão para o pagamento do bônus. Além disso, os sócios minoritários estariam em desacordo com o balanço de 2015, apresentado pela companhia em março passado.

Além da crise financeira, Saraiva enfrenta crise com sócios minoritários | © Leonardo Neto
Além da crise financeira, Saraiva enfrenta crise com sócios minoritários | © Leonardo Neto

O jornal aponta, no entanto, que a reação dos sócios é apenas a ponta do iceberg. Segundo fontes ouvidas pelo Valor, os minoritários estão descontentes com decisões do comando da empresa, que enfrenta dificuldades para reerguer sua operação de varejo. “A deterioração do desempenho, anterior à crise econômica, acompanha uma perda de valor de mercado de quase 30% neste ano e de 40% em 2015. A rede vale R$ 128 milhões hoje, para um patrimônio de R$ 520 milhões”, diz a matéria assinada pela jornalista Adriana Mattos.

Como consequência desse descontentamento, os sócios minoritários têm feito pressão para a troca da presidência da companhia, hoje comandada por Jorge Saraiva Neto. A matéria diz ainda que, nos bastidores, circulam informações de que a família Gonçalves, detentora de 20% das ações Ordinárias (ONs, com direito a voto), é quem lidera a posição mais crítica aos controladores atuais da empresa. A gestora GWI Asset Management (38,98% das ações Preferenciais -- PNs, com voto restrito -- e 25,86% do capital total da Saraiva) também estaria reforçando o discurso favorável às mudanças na empresa.

O Valor apurou que a família Gonçalves deve indicar um membro para o conselho de administração da empresa e que, ainda na semana passada, Maria Cecilia Saraiva Gonçalves, titular de 5,13% das ONs, fez requerimento à companhia pedindo voto múltiplo na reunião de sexta. Essa ação aumenta a possibilidade de os minoritários ganharem representatividade no conselho, de acordo com o Valor. Além disso, a GWI também deve indicar um candidato. Se forem eleitos, os indicados integrarão a chapa com Jorge e Olga Saraiva; o filho deles, Jorge Saraiva Neto; e Julio Sergio Cardozo, hoje no conselho fiscal.

Como o PublishNews publicou em março, a Saraiva só fechou no azul em 2015 graças à venda dos seus ativos editoriais à Somos. A empresa fechou o ano passado com lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortização (EBITDA) de R$ 329 milhões. No ano anterior, o EBITDA foi de R$ 35 milhões. Excluindo das contas os valores apurados com a venda da editora Saraiva à somos, o EBITDA de 2015 fecha em R$ 3 milhões, menos de um décimo do apurado no ano anterior.

Procurados pelo Valor, os controladores da Saraiva não deram entrevista ao Valor. Em nota, a empresa diz que "a partir da necessidade de esclarecimentos adicionais sobre as matérias a serem deliberadas na assembleia, que demandam diligências por parte dos administradores, os acionistas, sem qualquer manifestação em contrário, aprovaram suspender os trabalhos para os devidos esclarecimentos".

Tags: Saraiva
[05/05/2016 10:18:54]