O livro digital e o designer editorial
PublishNews, Rubens Lima*, 15/04/2016
Em artigo de opinião, Rubens Lima fala sobre as possibilidades e formatos que o livro digital pode ter

“O livro digital chegou para ficar”. Para muitos profissionais envolvidos na produção de um livro, esta sentença já equivale, em obviedade, a frases como "o céu é azul" ou "a água do mar é salgada".

Mas isso não se aplica a todos os profissionais. É quase um tabu falar nisso mas, existe um tipo de profissional que ainda torce o nariz para esta nova forma de publicação: os designers editoriais.

Sim, muitos dos designers mais tradicionais e com mais nome no mercado veem esta inovação como uma sentença de morte ao livro impresso. Outros veem a ascensão do e-book como a chegada de um produto inferior ao mercado editorial — que não merece muito sua consideração profissional ou sua atenção.

Para apoiar estas afirmações, estes designers citam sempre os aspectos negativos do livro digital:

• A impossibilidade de se trabalhar com materiais diversos, de explorar formatos inusitados e acabamentos gráficos criativos.

• a falta da relação pessoal, afetuosa e, principalmente, sensorial entre o leitor e o "objeto livro", relação esta que o trabalho do designer sempre buscou intensificar.

Para eles, o livro digital seria, consequentemente, um arremedo de livro: sem toque, sem cheiro, sem volume, sem peso — e, consequentemente, sem gosto.

Mas é preciso ressaltar que, independente da opinião destes profissionais, o fato continua o mesmo: o livro digital chegou para ficar. Não existe volta. Não adianta espernear.

E, ao contrário de muitos colegas, vejo o livro digital como um formato cheio de possibilidades e opções a serem exploradas pelos editores, gerentes comerciais e também —por que não? — pelos designers editoriais.

Claro que hoje estamos ainda tateando na busca de um melhor formato de saída para este livro eletrônico. Temos o formato PDF, um formato mais engessado que permite um trabalho visual mais elaborado mas estático, não explorando muitas das possibilidades do ambiente digital. Temos os formatos ePub, Mobi que são hoje mais simples, mais crus quanto às possibilidades de projeto visual — mas que tem muita flexibilidade, ou seja, são responsivos (se adequam a qualquer interface: tablet, computador, celulares) e obedecem personalizações do usuário quanto a cores, tamanhos, tipos de letras etc. E mais recentemente temos o formato e-Pub3 que explora a experiência completa do que um livro digital deve ser, ou seja, apresenta interatividade, áudio e animações mas que , por enquanto, só funciona nos iBooks da Apple.

Estas possibilidades e formatos vão acompanhando e melhorando de acordo com a evolução da tecnologia — e nós designers editoriais podemos assumir uma nova postura: de colaborar e auxiliar este desenvolvimento, nos envolvendo mais e lutando menos contra este novo formato.


* Rubens Lima é formado em Arquitetura pela Universidade de São Paulo (FAU-USP), onde descobriu a sua verdadeira vocação: nas disciplinas ligadas ao Design e à Comunicação Visual ministradas pelo professor e designer Francisco Homem de Mello. A partir dali, o arquiteto foi se distanciando das plantas, cortes e fachadas e iniciou sua carreira nas artes gráficas, focando em sua paixão: os livros e o mercado editorial. Rubens é designer editorial há 20 anos, capista especializado em livros técnicos, acadêmicos e profissionais e autor do blog O Capista, sobre criação de capas de livros e a relação entre designers, editores e autores. Dirige também, desde 2006, a Ilustranet, estúdio on-line de ilustração e desenho.

[14/04/2016 23:37:55]