
“Quando estava na Etiópia, trabalhava em um ambiente opressor e quando você trabalha em um ambiente assim, você tem opções limitadas: ficar quieto, ser preso ou fugir. Uma razão pela qual posso estar aqui é que eu fugi”, disse Girma à plateia que assistia atenta à sua apresentação no início da noite da última sexta (6). “Muitos países do mundo ganharam uma nova justificativa para silenciar seus escritores em nome da guerra contra o terror. Desde 11 de setembro, os escritores são os novos terroristas”, declarou. De acordo com Girma, no seu país, mais de 80 escritores foram presos e torturados em nome da política anti-terror e muitos dos seus amigos foram condenados a 18 meses de prisão pelo mesmo motivo. “No meu país, usam leis anti-terror para desmantelar qualquer discordância”, arrematou. Quem participou ao lado de Girma em sua apresentação foi Safaa Fathy, poeta, ensaísta e cineasta egípcia, abrigada pelo Icorn no México. Safaa chamou a atenção para o fato de que tanto o seu país natal quanto o de Girma são banhados pelo Rio Nilo. “O Rio Nilo é o lugar mais importante para mim e eu tenho que ficar longe dele. Eu tenho que me adaptar à ausência da minha essência”, disse emocionando a plateia.

Cabra busca apoios
Na edição do ano passado do Fórum das Letras, a Ufop e a Icorn assinaram uma carta de intenções através da qual começaram a parceria para transformar Ouro Preto em uma “cidade-refúgio”. O convênio entre as duas entidades ainda não foi assinado, mas a vinda de Girma ao Brasil servirá de piloto para uma parceria mais duradoura. “Normalmente, os autores atendidos pelo Icorn estabelecem residência nas cidades que aderem ao programa por dois anos. Estamos fazendo um teste ao mesmo tempo que buscamos parcerias que viabilizem Ouro Preto como membro definitivo do Icorn”, explicou Elisabeth. O PublishNews acompanhou, com exclusividade, um encontro no qual representantes da entidade buscaram esse tipo de apoio. Foi com Maria da Glória dos Santos, diretora do campus do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) em Ouro Preto e, além de Sylvie e Elisabeth, esteve presente Guiomar de Grammont, coordenadora e idealizadora do Fórum das Letras. “É muito enriquecedor para a gente ter alguém de outra cultura na nossa instituição”, reconheceu Glória.
Os custos para trazer um autor não são grandes, explicaram as representantes do Icorn. No caso de Girma, a Ufop, além de ceder a casa, dará alimentação (almoço e jantar) no Restaurante Universitário e o Fórum das Letras garantiu uma bolsa no valor de R$ 1 mil por mês. Além disso, é preciso pagar as passagens. “Do jeito que está, garantimos que abrigaremos pelo menos um autor por ano durante quatro meses”, explicou Guiomar. Mas a ideia é que seja adotado o modelo do Icorn, de abrigar o autor por dois anos.
Para Fábio Faversani, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Ufop, a iniciativa piloto de Ouro Preto deve servir de exemplo. “A nossa expectativa é que isso sirva de estímulo para que outras cidades do Brasil façam o mesmo”, disse.
Depois da participação em Ouro Preto, Sylvie e Elisabeth embarcaram para Belo Horizonte onde cumprem uma agenda de encontros com o Governo do Estado, com a Universidade Federal de Minas Gerais e com o SESC-MG. As reuniões visam, além de buscar apoio para a Cabra Ouro Preto, criar outras unidades da casa em solo mineiro.