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Dia Mundial do Livro, Leitura e Direito Autoral – A Frustração
PublishNews, 29/04/2014
Dia Mundial do Livro - a frustração

O dia 23 de abril foi declarado pela UNESCO o Dia Mundial do livro, da Leitura e do Direito Autoral. Essa é a data do nascimento de Shakespeare, morte de Cervantes e do Inca Garcilaso de la Vega, assim como data do nascimento ou morte de outros autores proeminentes, como Maurice Druon, Vladimir Nabokov, Josep Pla e Manuel Mejía Vallejo, e sabe-se lá de quantos outros escritores. Mas esses nomes foram o pretexto para que, em 1995, a Assembleia Geral da UNESCO decidisse que o dia celebraria livros, autores, direito autoral, e serviria como encorajamento para que todos, e em particular os jovens, descobrissem o prazer de ler e renovassem seu respeito pela contribuição inestimável do livro e seus autores para o progresso social e cultural da humanidade.

Foi uma iniciativa que partiu da Catalunha (que , como os ingleses e os cariocas, têm S. Jorge como patrono). Em Barcelona, há décadas, as livrarias instalam bancas nas calçadas, com ofertas especiais e, para cada livro comprado, dão uma flor de presente.

Essa iniciativa vem, a cada ano, aumentando seu alcance. As editoras e livrarias de muitos países compreendem perfeitamente que, sob o pretexto da celebração, as ações de marketing podem resultar em seu benefício.

Assim, alguns exemplos: nos EUA, vinte e cinco mil voluntários distribuem, pelo país inteiro, meio milhão de exemplares de livros doados pelas editoras, tendo como alvo preferencial pessoas e comunidades onde o hábito de leitura é escasso. A mesma iniciativa acontece no Reino Unido e na Irlanda. No Reino Unido, adicionalmente, são distribuídos quatorze milhões de fichas para crianças e jovens com menos de 18 anos de idade, para sejam trocadas nas livrarias por um exemplar de um dos dez títulos selecionados para o programa. Na Índia, os editores colaboram com ONGs locais para distribuir livros em favelas e promover sessões de leitura de livros. Na Islândia, editores colaboram por duas semanas com ações feitas por um dos principais jornais do país para promoção de sessões de leitura e discussões de livros.

São apenas alguns exemplo. Como podemos ver, todos muito significativos.

Milhões de exemplares distribuídos gratuitamente, colaboração entre editoras e livrarias, foco na juventude e em comunidades de baixo poder aquisitivo ou em condições de fragilidade social e econômica.

Podem ter certeza que editores e livreiros desenvolvem essas ações não apenas motivados por altruísmo – que sim, existe, e é muito importante. Mas porque compreendem perfeitamente que essas ações concentradas resultam, no final das contas, em mais leitores. Esses compram diretamente mais livros, ou fazem pressão para que haja mais livros em bibliotecas. Em suma, sabem que as comemorações são também um investimento.

Aqui pelas plagas da Pindorama, o máximo que se conseguiu foram anêmicas manifestações nas newsletters das entidades de editores. Muitas pessoas publicaram posts no Facebook e no Twitter. Ações de caráter estritamente individual.

O silêncio e a omissão do Ministério da Cultura, da Biblioteca Nacional e do Programa Nacional do Livro e Leitura foram ensurdecedores. Pelo que li nos jornais, o MinC apenas republicou o chamamento para editais já divulgados, relacionadas com bibliotecas e programas de leitura. O mesmo – fora as já mencionadas anêmicas menções em newsletters – por parte das instituições do mercado editorial e livreiro. Também não li – mas pode ter acontecido, é claro – nada sobre ações de secretarias estaduais de Cultura, ou dos municípios maiores.

A verdade é que, infelizmente, editores e livreiros, na prática, não desenvolvem o mercado. Não se preocupam de fato com esse assunto. Vivem na pura inércia.

A última edição do jornal da ANL –Associação Nacional de Livrarias -, publica um artigo sobre a importância dos livreiros “conhecerem seus clientes”. Mas perde a oportunidade de indicar e liderar a mobilização das livrarias para efetivamente, de modo organizado e fazendo volume, promovendo repercussão, no desenvolvimento de ações no Dia Mundial do Livro e da Leitura.

Em resumo, ficam todos nas boas intenções. E não conseguem aproveitar a data que bem poderia ser, para a indústria editorial e o mercado livreiro, um dia tão significativo quanto essa quantidade de datas comemorativas do varejo em geral.

Autores também não se manifestam, não tomam iniciativas, não cobram de suas editoras nem das livrarias que frequentam a organização de eventos.

Feliz Dia Mundial do Livro, Leitura e Direito Autoral para todos que, individualmente, fizeram alguma coisa.

Felipe Lindoso é jornalista, tradutor, editor e consultor de políticas públicas para o livro e leitura. Foi sócio da Editora Marco Zero, diretor da Câmara Brasileira do Livro e consultor do CERLALC – Centro Regional para o Livro na América Latina e Caribe, órgão da UNESCO. Publicou, em 2004, O Brasil pode ser um país de leitores? Política para a cultura, política para o livro, pela Summus Editorial. Mantêm o blog www.oxisdoproblema.com.br. Em sua coluna, Lindoso traz reflexões sobre as peculiaridades e dificuldades da vida editorial nesse nosso país de dimensões continentais, sem bibliotecas e com uma rede de livrarias muito precária. Sob uma visão sociológica, ele analisa, entre outras coisas, as razões que impedem belos e substanciosos livros de chegarem às mãos dos leitores brasileiros na quantidade e preço que merecem.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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