O grande boom econômico do Brasil chegou ao fim, o país perdeu o gás e a economia se prepara para uma estagnação. Esse é o entendimento que predomina internacionalmente, particularmente na Europa, e tem sido repercutido por publicações especializadas. No meio disso tudo, como fica a indústria editorial? Ela que se beneficiou tanto, julgam estudos, do surgimento da nova classe média.
Apesar das previsões pessimistas para outros setores da economia, o mercado de entretenimento não desacelerou. É o que mostrou o painel do varejo da GfK, apresentado na Feira de Frankfurt, no dia 9/10. O estudo se refere ao período de janeiro a agosto de 2013, em comparação ao mesmo período do ano anterior.
A receita do setor de entretenimento (que inclui games, brinquedos, livros e filmes) cresceu 13% no período (em relação ao mesmo período em 2012), puxado principalmente pelas vendas de games, cuja receita cresceu – ou melhor, saltou – 28,8%. Os livros cresceram abaixo da média, com 10,6%, atrás dos brinquedos (16,2%). Apenas a receita dos filmes (para consumo doméstico) caiu, em 4,2%.
Mas se engana quem acha que os games dominam. Segundo os dados da GfK, eles representaram apenas 6% da receita de entretenimento no mesmo período. O maior peso vai para os brinquedos, que possuem 46% desse mercado, sendo que livros seguem logo atrás, com 41%. “[O livro] é um setor muito importante; se tirarmos os brinquedos, o livro passa de 41 a 75% do mercado de entretenimento”, explica Claudia Bindo, diretora de negócios da GfK no Brasil.Os filmes ficam com 7% da receita de entretenimento.
Em volume, o crescimento do livro entre janeiro e agosto de 2013 foi de 9,7%. Dentro dessa categoria, o destaque vai para a ficção, que cresceu 24,6% (em volume, no mesmo período) e para o infantil e juvenil, com 17,1%. Mais detalhadamente, em ficção, a ficção estrangeira cresceu 29,8% (com o livro Inferno, de Dan Brown, sendo o segundo livro mais vendido no período). Mas os títulos por autores brasileiros não fizeram feio: ficção brasileira cresceu 12,1% em volume no período.
Comparando ‘literatura geral’ com o setor ‘educacional e profissional’, o primeiro cresceu em importância e possui hoje 64% do mercado (um aumento de 15,5% em relação ao período anterior) enquanto ‘educação e profissional’ ficou com 36% (permaneceu estável, com um crescimento de 0,7%).
Dentro da categoria literatura geral, os títulos estrangeiros representam 33%, infantil e juvenil 28%, religiosos 11%, literatura brasileira 7%, autoajuda 7%, turismo/lazer/cozinha ficou com 6%, biografias 5% e comics 3%.
Já no ‘educacional e profissional’, a participação dos gêneros é a seguinte: ciências (22%), economia/negócios (14%), educação (14%), direito (13%), medicina e psicologia (13%), idiomas (11%), arte e comunicação (10%) e setor público (3%).
Religiosidade e o ‘efeito papa’
“Uma das principais mensagens que queríamos passar é que os livros religiosos são muito importantes no Brasil”, comentou Claudia. Não é por menos: como mostra a analista, com dados da World Christian Database, 86% dos brasileiros são cristãos (a média mundial é 32%), e 12,5% dos católicos do mundo inteiro estão no Brasil.
Dentro da categoria ‘literatura geral’, ‘religião’ é a terceira mais importante, com 11% das vendas. Outro aspecto é a “brasilidade” da categoria: os autores brasileiros são responsáveis por 82% das vendas dos 50 títulos mais vendidos. Há também uma forte concentração: os dez primeiros títulos mais vendidos representam 28% do total de vendas, os ‘Top 30’ cobrem 37%, e os ‘Top 50’, 43%.
A categoria ‘religião’ cresceu 3% em volume em 2013, porém, considerando a biografia do bispo Edir Macedo e os livros relacionados ao papa Francisco, esse crescimento pula para 9%.
A Jornada Mundial da Juventude, aliás, deu um gás nas vendas de livros sobre o papa Francisco. Na semana da visita do papa ao Brasil (28/07), as vendas em volume cresceram 113% em relação à semana anterior (21/07). Atingiram um pico na semana seguinte (04/08), aumentando mais 25% em relação à semana anterior. Na terceira semana voltaram ao nível de semana de 28/07.
Padre Marcelo Rossi encabeça a lista de livros mais vendidos na categoria de livros religiosos (sem incluir a biografia de Edir Macedo), com o primeiro, terceito e quarto lugares, todos da editora Globo. Zíbia Gasparetto fica em segundo, bispo Rodovalho em quinto (Leya), seguido, na ordem, de Reginaldo Mantotti (Ediouro), Augusto Cury (Sextante), Fabio de Melo (Planeta), Reginaldo Mantotti novamente (Ediouro) e, repetindo também, Fabio de Melo (Planeta) em décimo lugar.
E não é apenas no Brasil. Em 2013, segundo a GfK, 6% dos livros brasileiros vendidos na Europa (Áustria, Alemanha, Itália, Portugal, Espanha e Suíça) são religiosos. O mercado mais importante para esta categoria é Portugal. Desses países, 87% dos livros religiosos são vendidos para Portugal. Em Portugal, 20% dos livros comprados dos brasileiros são religiosos.
Se abrangermos o conceito da categoria religioso, os autores mais vendidos nessa categoria são Edir Macedo, Padre Marcelo Rossi, Zibia Gasparetto e Leonardo Boff.
Autoajuda
Autoajuda é outro gênero que vem crescendo no Brasil: as vendas em volume cresceram 15,9%, sendo o quarto gênero que mais cresceu no período. Aqui também os autores brasileiros têm uma presença maior, responsáveis por 55% das vendas dos 50 títulos mais vendidos.
A concentração também existe nesta categoria: os ‘Top 10’ representam 23% das vendas, ‘Top 30’ cobrem 28% e os ‘Top 50’, 46%.
Literatura Brasileira
No Painel do Livro apresentado no ano passado, a GfK mostrou que as vendas em volume da literatura brasileira havia crescido 9,7%. A boa notícia é que esse crescimento continuou acelerando: esse ano foi de 12%. É o quarto gênero mais importante em termos de vendas e ainda menos concentrado que os livros de religião e autoajuda. Os ‘Top 10’ cobrem 16% das vendas, ‘Top 30’ representam 31%, e ‘Top 50’, 38%.
Efeito Frankfurt
Literatura brasileira e autoajuda também fazem sucesso no exterior.Noventa e três por cento dos títulos vendidos lá fora (considerando os países Áustria, Alemanha, Itália, Portugal, Espanha e Suíça) são de ficção ou autoajuda.
Entre os autores mais vendidos nesses seis países, há desde os chamados ‘comerciais’ Paulo Coelho e Augusto Cury (o primeiro e segundo autores mais vendidos respectivamente), seguidos do clássico Jorge Amado. Depois vem Guilherme Fiuza (um grande viva para as novelas brasileiras que fazem sucesso em Portugal, onde o autor é destaque com Giane, sobre o ator Reynaldo Gianecchini) e Clarice Lispector.
A Alemanha publicou 38% dessas obras de ficção e autoajuda, seguida de Portugal, que lançou 28%, Espanha 22%, Áustria 8% e Itália/Suiça com 4%.
Brasil Kids
A categoria dos livros infantis e juvenis, como mencionado acima, foi um dos grandes motores da produção editorial no período analisado pela GfK. É o segundo gênero com maior crescimento em 2013 (17%) e é o segundo mais importante, com 28% das vendas de literatura geral.
O número de títulos da categoria também aumentou este ano, em 7% em volume. Assim como no ano passado, outra característica do gênero é a baixa concentração: os 10 livros mais vendidos representam apenas 8% do total de vendas. ‘Top 30’ tem 16% e os ‘Top 50’ apenas um quinto das vendas das categorias, com 20%.
O futuro
Claudia Bindo destacou a mudança demográfica pela qual o país deve passar nos próximos anos. Com dados do IBGE, ela aponta que a jovem população do Brasil – que foi inclusive mencionada no discurso do Ministro de Relações Exteriores alemão na abertura da Feira – vai passar por mudanças. “A população deve crescer até 2042, quando chegará aos 228 milhões, depois começar a cair.” O número de crianças por casal também vem diminuindo nas últimas décadas. Tudo isso deve afetar o mercado de entretenimento.
Mas, como aponta o ranking Consumer Experience da GfK, a qualidade da educação é a terceira maior preocupação da população brasileira. Esse ponto também foi ressaltado por Marcus Leaver, do Quarto Group, grupo editorial que deve chegar ao Brasil em pouco tempo. “Há uma preocupação dos pais em educar bem as crianças aqui. Como editor vindo de fora, eu vejo como uma oportunidade de crescimento no mercado editorial daqui”, disse o executivo ao PublishNews. Outro elemento a ser considerado é o Vale Cultura que, para Claudia, “vai beneficiar o mercado editorial, sem sombra de dúvida”.
Mais vendidos
Segundo o ranking da GfK, os livros mais vendidos, com suas categorias, entre janeiro e agosto de 2013 foram:
1.Kairós (religiões / crenças / esoterismo)
2.Inferno (literatura estrangeira)
3.Cinquenta tons de cinza (literatura estrangeira)
4.Cinquenta tons mais escuros (literatura estrangeira)
5.Cinquenta tons de liberdade (literatura estrangeira)
6.Nada a perder - Momentos de convicção que mudaram a minha vida (biografias)
7.A culpa e das estrelas (literatura estrangeira)
8.O lado bom da vida (literatura estrangeira)
9.Eu nao consigo emagrecer (medicina e saude / psicologia)
10.Vade mecum saraiva 2013 (direito)