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Alemanha e suas agências literárias
PublishNews, 15/07/2013
Alemanha e suas agências literárias

por Holger Heimann

Em meados dos anos 90, seguindo os modelos inglês e americano, duas agências literárias foram criadas em Berlim: Graf e Eggers, desencadeando um movimento, que ganhou uma dinâmica maior nos últimos anos. A consequência desse aumento do número de agências – hoje estima-se em torno de 100 – é que autores alemães precisam cada vez menos negociar pessoalmente com as editoras, pois há quem os represente. Karin Graf foi a primeira agente; antes trabalhava como tradutora de inglês. Entre os seus clientes contam alguns dos mais renomados autores de língua alemã, como Ingo Schulze, Karen Duve e Terezia Mora. Segundo ela: “O autor quer e deve escrever”.

Petra Eggers, ex-leitora de manuscritos da tradicional editora S. Fischer, seguiu o mesmo caminho, concentrando-se no início principalmente em autores de livros de não ficção.

Com Matthias Landwehr, que logo se juntou a ela, Eggers fez da agência Eggers & Landwehr uma das mais importantes da Alemanha. Matthias Landwehr, que anteriormente trabalhava como assessor de imprensa da Editora Berlim, ficou conhecido por negociar adiantamentos de até meio milhão de marcos alemães para seus escritores, valores praticamente nunca antes alcançados na Alemanha. Atualmente os dois antigos sócios lideram separadamente agências de sucesso. Landwehr, por exemplo, representa os autores Florian Illies, Christian Kracht, Frank Schirrmacher e Benjamin Lebert. Autores como Christoph Peters, Helene Hegemann e Richard David Precht pertencem à agência de Petra Eggers.

Hoje em dia quase ninguém questiona a legitimidade e importância das agências literárias, enquanto antigamente estas eram vistas como parasitas, que se insinuavam entre editora e autor, e não eram muito necessárias. Certa vez, o editor Jochen Jung chamou o sistema de agências literárias de “um sistema esperto de criação de valores, no qual se vincula o trabalho de terceiros a si próprio de maneira imprescindível”. Os agentes literários sempre argumentavam de outra forma. Diziam que os autores nunca conseguiam agir de igual para igual com as editoras e eram com frequência prejudicados por elas financeiramente, e que isso só mudou depois que a figura do agente apareceu. Nas palavras do agente literário Werner Löcher (Löcher& Lawrence): “Os agentes literários tratam de garantir que seus autores recebam honorários adequados. Os agentes os libertam da sua posição muitas vezes indefesa e inferior diante das editoras. Estes têm conhecimento e experiência necessários, para não deixar escapar nada ante o editor ou diretor de programação; fazem exigências pertinentes; descobrem falhas e omissões, que podem ter consequências terríveis para os autores. Eles tornam os autores parceiros, com os mesmos direitos que as editoras.“

Especialistas calculam que hoje, por volta das 100 agências existentes na Alemanha, mais ou menos vinte conseguem se sustentar. Normalmente as agências recebem 15% dos honorários que negociaram para o seu cliente, e atualmente por volta de 60% dos autores tem agentes que os representam. O agente literário Uwe Held (Mohrbooks Berlim) acha que este número vai aumentar: “Todo autor que quer estabelecer-se no mercado editorial não procura mais em primeiro lugar uma editora, mas sim um agente, e a importância cada vez maior do agente vai de encontro com as mudanças nas estruturas e andamentos nas editoras”. Leitores de manuscritos estão se tornando mais e mais gerenciadores de programas, que recorrem ao trabalho dos agentes, por falta de tempo para selecionar dentre a montanha de manuscritos que recebem. O agente acaba tendo a função adicional de filtrar.

Berlim tornou-se a cidade preferida de novas agências, que têm bons motivos para se estabelecer nesta cidade, onde a maioria dos autores, jornalistas e editoras têm negócio. Mas antes de Berlim, Zurique já era há muito tempo a capital dos agentes literários na região dos países de língua alemã. Há mais de meio século as casas tradicionais Mohrbooks, Liepman e Paul & Peter Fritz estavam localizadas próximas umas das outras. Porém, o modelo de negócios da Suíça foi por muito tempo bem diferente daquele dos seus sucessores em Berlim. Traziam principalmente autores de outros países para a Suíça, Áustria e Alemanha, e atuavam como sub-agentes ou representantes de editoras estrangeiras. Somente nos últimos anos, os agentes de Zurique começaram a dedicar-se cada vez mais aos autores de língua alemã, abriram escritórios em Berlim ou iniciaram parcerias com outras agências. Assim, os agentes literários Uwe Held e Rebekka Göpfert de Berlim trabalham com a Mohrbooks, e a agência Fritz fechou contratos com as agências de Barbara Wenner e Piper & Poppenhusen, também estabelecidas em Berlim.

O trio da Suíça tem como foco principalmente os países de língua inglesa – traduções do inglês correspondem a 60% dos livros traduzidos para o alemão. Enquanto isso, a agência Mertin, sediada em Frankfurt, se concentra na literatura de língua portuguesa e espanhola do mundo inteiro. Esta agência, fundada em 1982 pela tradutora Ray Güde Mertin, traduziu para o alemão, entre outros, os escritores Clarice Lispector, António Lobo Antunes, José Saramago e João Ubaldo Ribeiro. A agência, que desde a morte de Mertin em 2007 é dirigida por Nicole Witt, representa hoje 150 autores, sendo que 60% deles são de língua portuguesa. “Frequentemente, é um trabalho penoso. Muitos autores latino-americanos não são traduzidos, o que é uma injustiça”, conta Witt, que reclama também da predominância da língua inglesa. Enquanto o espanhol ocupa a 7ª posição das traduções do mercado livreiro alemão, que é tradicionalmente rico em traduções, o português não está nem entre as 20 línguas mais traduzidas.

Este quadro talvez mude agora. Só nos dois últimos anos foram traduzidos mais de 40 livros do português para o alemão, a maioria do Brasil. Witt espera que o fato do Brasil ser o país convidado pela segunda vez na Feira de Livros de Frankfurt surta efeito duradouro, e que o mesmo se dê com o interesse das editoras alemãs pela literatura brasileira. Em direção contrária temos a agente Martina Nommel de Hamburgo, que quer trazer autores de histórias infantis para o Brasil. Na bagagem traz os programas de quatro editoras de livros infantis: Thienemann, Ueberreuter, Oetinger e Gerstenberg.Por enquanto as vendas para o Brasil estão aquém das expectativas das editoras alemãs. Martina Nommel espera que o fato da Alemanha ser a convidada de honra na Feira do Livro do Rio traga mudanças para o mercado. É esperar para ver.

O negócio do livro na Alemanha vai bem – e é muito produtivo: cerca de 80 mil novos títulos são publicados todo ano, e as vendas geram um faturamento anual de 9,52 bilhões de euros. Mas quem são os atores no cenário do livro e do mercado editorial na Alemanha? Quais regras específicas se aplicam ao mercado alemão – do preço do livro ao Börsenverein? Em virtude da participação da Alemanha em 2013 como país convidado de honra na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, e do Brasil como país convidado de honra na Feira do Livro de Frankfurt no mesmo ano, a Feira de Frankfurt preparou uma série de artigos sobre o mercado editorial na Alemanha.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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