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É possível desafiar a Amazon?
PublishNews, 12/03/2013
É possível desafiar a Amazon?

As gigantes do comércio varejista de livros – Amazon, Apple e Kobo (a Google realmente ainda não disse a que veio), têm uma característica comum: todas são ecossistemas de venda, ou seja, possuem a facilidade para a compra dentro do sistema e possibilitam leitura imediata. A Apple foi a pioneira, com o iTunes, e a Kobo também criou um sistema para todos os aparelhos que leem o formato ePub. Mas, no mundo do livro, quem realmente começou a fazer essa ideia funcionar foi a Amazon. A Barnes & Noble tentou fazer o mesmo com seu Nook, mas só vende livros nos EUA e na Inglaterra, e está enfrentando sérias turbulências financeiras, apesar do apoio da Microsoft.

Todas as três dispõem não apenas de aparelhos de leitura dedicados como também aplicativos que possibilitam a leitura em muitos outros aparelhos (a exceção é o Kindle, da Amazon, que lê apenas os formatos PDF, TXT e DOC, além do formato proprietário). Outra característica em comum é que todas apostaram em um catálogo gigantesco.

A Sony saiu na frente, lançando seu leitor digital em 2006, mas jamais conseguiu montar uma plataforma de oferta de conteúdo que a tornasse competitiva. Já a Amazon conseguiu assumir o pioneirismo no comércio digital, convencendo as editoras - quando já era o principal varejista de livros impressos - a disponibilizarem os livros em formato digital e lhe darem liberdade para formular os preços ao consumidor. A Amazon, como sabemos, usou muito bem isso para se consolidar como a maior loja do setor, a ponto de se tornar semi-monopolista, até que as editoras se deram conta de que haviam criado um monstro que podia engolir todas elas.

A Apple quase conseguiu uma importante vitória contra a Amazon, ao inventar o chamado modelo de agenciamento. Ao contrário da Amazon, que define os preços finais ao consumidor, a Apple propôs um sistema diferente, no qual os editores definem o preço e pagam uma comissão fixa para o revendedor. Isso parecia promissor até o Departamento de Justiça dos EUA se colocar do lado da Amazon e exigir uma reformulação desse esquema, o que está prestes a se completar com a adesão da maioria das que haviam adotado o sistema de agenciamento, transformado em uma nova fórmula.

A Kobo, por sua vez, conseguiu montar uma e-bookstore de tamanho considerável, e conseguiu um importante apoio ao fechar um acordo com a ABA, a associação das livrarias independentes dos EUA.

A estratégia de conseguir uma massa de varejistas para dar suporte a seu sistema é, na minha opinião, a única saída possível para que livrarias independentes e mesmo cadeias de livrarias físicas possam efetivamente sobreviver e prosperar no mundo do livro digital. A Saraiva, a principal rede brasileira, até o momento optou por oferecer livros em formato ePub sem um aparelho próprio. Até quando essa estratégia será viável é questão de especulação e depende, em grande medida, da manutenção das vendas de livros impressos. E não quero especular aqui sobre o ritmo de crescimento do mercado de livros eletrônicos no Brasil.

Porém, nos últimos dias, surgiu uma alternativa na Alemanha: um ecossistema de venda de livros eletrônicos local, completo com sistema de vendas, aparelho digital próprio e o suporte de uma grande quantidade de lojas físicas, que vendem os aparelhos. Além disso, conta com a participação da gigantesca Bertelsmann, empresa dona da Random House, e de outras empresas na área editorial, além de outros segmentos.

Trata-se da Tolino, uma associação de três gigantescas redes de livrarias alemãs, Thalia, Weltbild e Hugendubel (que tem algumas das livrarias mais bonitas daquele país), além da citada Berstelmann. Além das empresas diretamente vinculadas ao mercado editorial, a Tolino conta com a participação da Deutsche Telekom e seu caixa forrado de Euros.

A Tolino foi lançada no dia 7 de março, com o aparelho disponível em 1.500 pontos de venda e uma oferta de 300.000 títulos em alemão. Em comparação, a loja Kindle naquele país oferece apenas a metade disso em títulos na língua de Goethe. O Tolino Shine é um leitor touchscreen, com iluminação frontal em led, como alguns dos modelos Kindle, e custa € 99, equivalente a cerca de R$ 250,00. O Tolino Shine permite leitura de arquivos EPUB, PDF e TXT. A infraestrutura nas nuvens da DT oferece espaço ilimitado para livros comprados dos parceiros e até 25 GB de armazenamento em livros adquiridos de outros varejistas. Além disso, a DT oferece mais de 11.000 hotspots WI-FI espalhados pela Alemanha. O aparelho tem capacidade de 4GB internos, expansíveis até 32 GB através de cartões Micro SD.

A informação de que o aparelho permite armazenamento de arquivos adquiridos de outros varejistas indica que livros vendidos na iBookstores, ou pela Kobo, poderão ser lidos também no Tolino Shine. Não consegui apurar a situação das livrarias alemãs independentes em relação à venda de conteúdos digitais.

É bom lembrar que a Kobo, apesar de origem canadense, foi adquirida pela Rakuten, uma empresa japonesa, e que sua tecnologia permite o melhor uso dos caracteres na sua tela. A livraria virtual da Kobo se gaba de oferecer uma grande seleção de títulos em japonês, também supostamente maior que a oferta da loja Kindle local.

Existem outros e-readers, com a tecnologia de tinta eletrônica, comum ao Kindle, ao Kobo e ao Tolino Shine, como é o caso do ainda vivo Sony Reader, e marcas como Hive e Anobii. O desconhecimento da real situação do mercado chinês é o desafio que se apresenta. Como sabemos, os chineses fabricam tudo para o resto do mundo, e fazem aparelhos muito baratos. Entretanto, não conheço as condições reais do mercado de e-readers e e-books naquele país.

As experiências aqui relatadas deixam claro que a imensa vantagem que a Amazon tem nos EUA pode ser contrabalançada pelos seus concorrentes no exterior, desde que sejam criados ecossistemas competitivos. Não se trata apenas de oferecer e-readers ou tablets mais baratos, mas sim de trabalhar para que os leitores tenham acesso fácil aos aparelhos e, principalmente, a uma oferta de títulos realmente significativa em seu idioma nativo.

Com menos de 20.000 títulos disponíveis em formato eletrônico, esse panorama está ainda distante de ser alcançado por aqui.

Felipe Lindoso é jornalista, tradutor, editor e consultor de políticas públicas para o livro e leitura. Foi sócio da Editora Marco Zero, diretor da Câmara Brasileira do Livro e consultor do CERLALC – Centro Regional para o Livro na América Latina e Caribe, órgão da UNESCO. Publicou, em 2004, O Brasil pode ser um país de leitores? Política para a cultura, política para o livro, pela Summus Editorial. Mantêm o blog www.oxisdoproblema.com.br. Em sua coluna, Lindoso traz reflexões sobre as peculiaridades e dificuldades da vida editorial nesse nosso país de dimensões continentais, sem bibliotecas e com uma rede de livrarias muito precária. Sob uma visão sociológica, ele analisa, entre outras coisas, as razões que impedem belos e substanciosos livros de chegarem às mãos dos leitores brasileiros na quantidade e preço que merecem.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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