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A fita da sua máquina de escrever acabou?
PublishNews, 01/03/2013
A fita da sua máquina de escrever acabou?

Você está precisando de fita nova para a sua máquina de escrever Remington ou Olivetti? Seja pelo prazer de reativar uma máquina de “escrita mecânica” ouvindo o inconfundível tec-tec-tec do teclado ou outro motivo, um endereço precioso que abre inclusive aos sábados e propicia uma viagem ao mundo destas máquinas é a Agil, Comércio de Máquinas de Escritório.

Próximo à Estação Sé do Metrô, a loja/oficina que vende peças, faz manutenção, conserta e vende máquinas restauradas, fica no final da Rua Tabatinguera, n. 416, após passar a Livraria Marxista e a lateral da Igreja Nossa. Sra. da Boa Morte (sobre a livraria, www.publishnews.com.br/telas/colunas/detalhes.aspx?id=69555).

Na vizinha Rua do Carmo, n. 112 (4º andar / conj. 41), e n. 156, encontram-se outras duas lojas/oficinas, a Condez e a Pema, honrando a tradição paulistana de ruas/regiões de comércio especializado. Existem pelo menos dois fornecedores de fita para as máquinas: Datatech e Ibrafitas, que atendem aos modelos mecânicos e elétricos.

Ao olhar na Agil uma Remington anos 1920 restaurada em seu design e potência mecânica que inspiram a escrita, é difícil não pensar que a máquina de escrever talvez reponha, em nível pessoal, certo gosto gutenberguiano de produzir e acompanhar o movimento das hastes imprimindo materialmente as letras em alto relevo no papel, de forma que o trabalho de escrever e a sua impressão mecânica, gráfica, se tornam simultâneos.

Esta redação mecânica moldou cem anos de escrita e outros registros, entre séculos de manuscritos (convivendo com a impressão gráfica) e o mundo digital com seu eletrônico silêncio (além de “eletricodependente”).

Há pouco mais de duas, três décadas, o tec-tec-tec das máquinas de escrever era o som dominante em escritórios e outros locais de trabalho, um som mecânico-metálico, depois ligeiramente mecânico-elétrico, que desapareceu do nosso horizonte sonoro.

Havia também o rolar da folha de papel sendo encaixado e o som da manivela virando a linha, que acabava num pequeno baque com variados acordes dependendo do usuário e do modelo, e cujo ruído dava a sensação, linha após linha, de progredir no trabalho.

Escrever à máquina parecia sempre colocar o desafio de contabilizar os tempos e as velocidades entre o pensamento, a capacidade manual de datilografar e a eficiência do engenho da impressão...

Marcas como Olivetti e Remington faziam parte da seleta lista de máquinas desejadas e havia os modelos lendários, com as maletas portáteis (associados, por exemplo, a escritores célebres) que garantiam uma invejável independência de trabalho no espaço e no tempo.

Escritores como Hemingway pareciam definir sua identidade nas fotografias ao posar ao lado de uma máquina de escrever, a máquina definindo o ofício de escritor e, mais do que isso, ferramenta de trabalho disponível dia e noite, portátil, autônoma em seu funcionamento, indicando uma fusão indissociável entre vida e literatura.

As oficinas das ruas Tabatinguera e Carmo, no centro de São Paulo, são evidência de que existem ainda pessoas e máquinas ativas neste campo da escrita mecânica. É possível imaginar pessoas que continuam usando as máquinas mecânicas ou elétricas por prazer, por hábito, e também que uma parcela de pessoas, talvez as de mais idade, simplesmente não se adaptou à mudança tecnológica – ou que a máquina de escrever simplesmente ainda dá conta das tarefas necessárias.

A máquina de escrever tem se tornado, cada vez mais, objeto de reivindicação de que teria sido inventada por um brasileiro: o padre e professor paraibano Francisco João de Azevedo (1814-1880). Ele construiu um protótipo de madeira de uma máquina taquigráfica que lembrava uma pianola, vencedora da medalha de ouro em 1861 na Exposição Nacional no Rio de Janeiro, que visava exibir novos engenhos industriais.

Esta história é o ponto de partida do romance Máquina de Madeira, de Miguel Sanches Neto, recém-publicado pela Companhia das Letras, que narra ficcionalmente a trajetória do padre Azevedo. O mais interessante do livro são os perfis que o autor traça do próprio Azevedo e de sua companheira Benedita, escrava, e a dramática persistência do padre inventor e professor (com suas questões entre a fé e o progresso tecnológico) em desenvolver e industrializar a máquina, em contraste com o ambiente hostil às inovações e à indústria durante o Império.

A máquina da escrita mecânica representava uma aspiração e promessa de progresso e futuro envoltas em uma permanente névoa de obstáculos objetivos e subjetivos, privados e públicos, que impediam a sua “realização” – metáfora permanente que o escritor atribui ao destino da sociedade escravocrata – os capítulos finais sobre Benedita são muito comoventes e incisivos ao compor um retrato íntimo dos pensamentos e ações de uma mulher escrava que transpôs a fronteira da liberdade.

Miguel Sanches Neto assume a tese de que ela foi inventada por Azevedo e copiada indevidamente, em uma tortuosa história, pela Remington – o que é sustentado também por outros autores. A escrita mecânica se disseminou com suas promessas de padronização das letras e dos documentos, rapidez, legibilidade, organização e impessoalidade que pareciam vantajosas em relação à escrita manuscrita, manual.

A exata atribuição da invenção da máquina de escrita mecânica é uma tarefa muito complicada, já que diferentes inventores em diferentes datas e lugares criaram engenhos semelhantes e o ponto de partida industrial só se deu a partir de 1870 e se celebrizou com a Remington nos Estados Unidos, que já fabricava máquinas de costura. Sites como o www.maquinasdeescreverantigas.com.br trazem incríveis projetos de máquinas de escrever e navegando pela rede se encontra vários museus virtuais com as mais inusitadas máquinas (personagens e colecionadores).

Datilografar em uma máquina de escrever hoje pode não ser apenas uma atitude nostálgica ou antiquada (dos que não entraram no mundo do computador) ou um divertimento extravagante. A máquina de escrever pode ser uma boa companheira para horas solitárias, daquele tipo de solidão às vezes voluntária que não se quer preencher com “amigos” virtuais-digitais e relações-conexões que duram a imensidão de um clique.

Como se existissem solidões longas ou momentâneas que talvez valham a pena serem vividas com a solitária e bem resolvida autonomia da máquina mecânica, sem o aprisionamento das redes e das virtualidades que indiferenciam vida pessoal e pública, e afirmando a solitária força da impressão tipográfica no papel e o ruído surdo da manivela girando para a linha seguinte, exigindo a cada baque e nova linha o esforço de recomeçar – compartilhar ou não é para resolver em outro momento.

Enquanto concluía esta coluna entrou na minha caixa postal uma mensagem eletrônica anunciando um curso de caligrafia: “Realize seu sonho, faça de sua letra uma arte” e “em apenas 40 horas de treinamento, transforme sua letra em um manuscrito de admirável beleza”. É claro que fiquei dividido, nesta conclusão digital, entre a escrita mecânica e a caligrafia manuscrita artística.

Roney Cytrynowicz é historiador e escritor, autor de A duna do tesouro (Companhia das Letrinhas), Quando vovó perdeu a memória (Edições SM) e Guerra sem guerra: a mobilização e o cotidiano em São Paulo durante a Segunda Guerra Mundial (Edusp). É diretor da Editora Narrativa Um - Projetos e Pesquisas de História e editor de uma coleção de guias de passeios a pé pela cidade de São Paulo, entre eles Dez roteiros históricos a pé em São Paulo e Dez roteiros a pé com crianças pela história de São Paulo.

Sua coluna conta histórias em torno de livros, leituras, bibliotecas, editoras, gráficas e livrarias e narra episódios sobre como autores e leitores se relacionam com o mundo dos livros.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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