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Os e-books e as startups
PublishNews, 17/01/2012
Os e-books exigem uma entrega profunda por parte dos que trabalham com eles

Em primeiro lugar, peço desculpas por me manter no assunto dos e-books quando minha coluna prometia ser uma espécie de conversa sobre os bastidores do departamento editorial. O que ocorre é que o os e-books invadiram o editorial e, principalmente, invadiram minha vida de tal forma que está complicado pensar em outra coisa.

Os livros digitais me fascinam desde que li sobre eles em O negócio dos livros, de Jason Epstein, e não pelo yuppismo tecnológico (apesar de eu não poder negar que os aparelhinhos me divertem), mas pela destruição em massa que eles iriam causar nas certezas editoriais. O editorial (e muitos outros setores das editoras), na minha visão e de outros colegas, estava muito engessado, havia regra para tudo há 500 anos, e fugir delas não era de bom tom. Porém, agora, com o digital, voltamos tão ao zero que sequer sabemos como nossos leitores leem. E, o melhor, é um mercado tão dinâmico que, quando soubermos, eles já poderão estar lendo de outras formas...

Os e-books exigem uma entrega profunda por parte dos que trabalham com eles. Você não pode, por exemplo, simplesmente aprender a converter um “.doc” para “.epub” e repetir isso infinitamente, pois cada “.epub” convertido traz problemas que você nunca viu antes. E isso acontece por diferentes motivos: bugs do software que converte, bugs do software que lê e inexperiência de quase todo mundo no assunto. E, quando dizemos “e-books”, podemos estar falando de pdf, e-books para Kindle, para iBooks, e-books que são aplicativos, formato fixo, ePubs para Adobe Digital Editions... Cada um desses tem custo, contrato, possibilidades de design e formas de produzir diferentes uns dos outros. Diz-se que o formato universal é o ePub para ADE, mas na prática cada conteúdo pede um deles e, se você trabalha com e-books dentro de uma editora, você tem que ler muitas vezes para saber que tipo seria melhor. Por isso, se decidir direcionar sua carreira para essa área, aconselho que goste tanto disso que não se sinta infeliz quando perceber que estará estudando em vários de seus horários livres. E estudar não é pegar um livro e ler; você tem que inventar sua forma de estudar, porque as informações estão espalhadas pela internet. Você tem que aprender onde encontrar as que são realmente relevantes e confiáveis.

Toda essa velocidade nos aproxima muito dos setores de tecnologia, principalmente os relacionados a web. Da mesma forma que já achei (e ainda acho) que poderíamos aprender muito com a engenharia de produção, agora acredito que ganharemos muito analisando as chamadas startups. Meu conhecimento sobre o assunto é raso, mas pretendo, aqui, apenas apresentar a ideia geral para que possamos aprofundá-la depois.

Em uma entrevista para a Exame, em 2010, Yuri Gitahy diz que: “Muitas pessoas dizem que qualquer pequena empresa em seu período inicial pode ser considerada uma startup. Outros defendem que startup é uma empresa com custos de manutenção muito baixos, mas que consegue crescer rapidamente e gerar lucros cada vez maiores. Mas há uma definição mais atual, que parece satisfazer a diversos especialistas e investidores: startup é um grupo de pessoas à procura de um modelo de negócios repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza.”

Além de me identificar com as “condições de extrema incerteza”, uma das coisas que mais me interessam nas startups é sua capacidade e desejo de ouvir as pessoas para desenvolver um produto que elas queiram ou que elas nem sabem que querem, porque nunca acharam que fosse possível produzi-lo. Acho isso diretamente relacionado ao editor de aquisições, que tem que sentir o que um país pode estar querendo ler, mas tem poucas formas de confirmar essa informação.

Para quem trabalha com e-books, é ainda mais fundamental descobrir não necessariamente o que as pessoas querem ler, mas como elas querem. Elas querem que seja igual ao impresso? Elas querem muitas cores? Elas querem animações? Ou até: elas querem mesmo ler livros em aparelhos eletrônicos? Se sim, em quais circunstâncias? As startups desenvolveram seus métodos de lidar com toda essa incerteza. Por que não segui-los?

E, finalmente, chegamos à questão que se repete das mais variadas formas: as editoras estão mesmo dispostas a apostar em inovação ou acreditam que não são como a indústria fonográfica? Eu, sinceramente, não vejo muitas saídas para as editoras que não alterarem seu modelo de negócio e se reinventarem - buscando reinventar também o mercado -, e ficarem apenas esperando que alguma espécie de Spotify venha mostrar um caminho depois de anos de prejuízo.

Cindy Leopoldo é graduada em Letras pela UFRJ e pós-graduada em Gerenciamento de Projetos pela UFF. Em 2015, cursou o Yale Publishing Course e, em 2020, iniciou a especialização em Negócios Digitais, da Unicamp. Trabalha em editoras há uns 15 anos. Na Intrínseca, onde trabalhou por 7 anos, foi criadora e gerente do departamento de edições digitais e editora de livros nacionais. Atualmente, é editora de livros digitais da Globo Livros.

Escreve quinzenalmente, só que não, para o PublishNews. Sua coluna trata de mercado editorial, livros e leituras.

Acesse aqui o LinkedIn da Cindy.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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