Parece haver um certo incômodo em relação à pergunta "como está o andamento da produção?". Os “chefes” parecem querer ouvir apenas "está tudo andando" e os funcionários também parecem achar que o melhor é dizer o que o chefe quer ouvir. E assim todos ficamos chocadíssimos quando um livro sai dos trilhos e “de repente” se atrasa todo e vai parar, por exemplo, nos lançamentos do ano seguinte ou mesmo no lixo...
O que terá havido de errado com algo que estava andando tão bem? Andou superbem, só que para o precipício. Ninguém mentiu. A pergunta é que estava incompleta...
Já estive envolvida ou assisti à produção de milhares de livros e não consigo me lembrar de nenhum que tenha atrasado de maneira surpreendente. Normalmente é fácil prever desde o início o que vai acontecer, pois os problemas graves acontecem quase sempre na tradução ou no copidesque.
Aqui é bom dar uma parada para explicar melhor: me preocupo tanto com o atraso na produção de livros porque geralmente esse atraso traz consigo muitos outros problemas, como aumento do custo da produção, diminuição da qualidade e muitas horas extras que não serão pagas. E é aí nessas horas extras (muitas vezes feitas em casa) que reside o que considero o ponto cego do editorial, pois os custos serão verificados pelo departamento financeiro mais cedo ou mais tarde. A baixa qualidade, na pior das hipóteses, vai aparecer exposta em matérias nas mídias ou nos emails enviados que recebemos dos leitores, mas o grau de desgaste do pessoal do editorial só vai aparecer para quem quiser ver. Ainda não conheci um RH que tivesse poder/interesse para/em corrigir esse tipo de anomalia.
Acredito que elevar a organização do dia a dia de trabalho (não organização individual, mas sim de equipes) significa “menos estresse”, e menos estresse significa “vida melhor”, e “vida melhor” significa “mundo melhor”. (Sim, sim, tenho mais de 30 anos e ainda quero e acredito em “mundo melhor”. Acontece...)
Mas aí aparece um novo “incômodo”: se o editorial se organiza e aumenta sua produtividade de modo a fazer tudo dentro do cronograma, os chefes poderão sempre querer uma organização ainda maior para que seja possível, por exemplo, dobrar a produção de livros sem aumentar salários nem número de funcionários. Isto é, minha bonita ideia de melhorar o mundo pode servir de fato como justificativa para piorar muito a qualidade de vida dos funcionários do editorial.
Assim, voltamos ao primeiro parágrafo e à pergunta "como está o andamento da produção?" De fato, ela está andando, mas nem sempre para onde queremos.
A próxima coluna finalmente vai sair um pouco do tom descritivo. Apresentarei meu rascunho de ideia de como montar um departamento editorial ainda lucrativo para a empresa e que trabalhe para um “mundo melhor”.
Até lá!
Cindy Leopoldo é graduada em Letras pela UFRJ e pós-graduada em Gerenciamento de Projetos pela UFF. Em 2015, cursou o Yale Publishing Course e, em 2020, iniciou a especialização em Negócios Digitais, da Unicamp. Trabalha em editoras há uns 15 anos. Na Intrínseca, onde trabalhou por 7 anos, foi criadora e gerente do departamento de edições digitais e editora de livros nacionais. Atualmente, é editora de livros digitais da Globo Livros.
Escreve quinzenalmente, só que não, para o PublishNews. Sua coluna trata de mercado editorial, livros e leituras.
Acesse aqui o LinkedIn da Cindy.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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