Adeílza, uma agente de leitura
PublishNews, Carlo Carrenho, 15/03/2005
Projeto Arca das Letras capacita agentes de leitura quilombolas em Pernambuco

 'As pessoas vão achar muito bom', declarou a quilombola Adeílza Henrique sobre a chegada de uma Arca das Letras em sua comunidade © Lima Andruška
'As pessoas vão achar muito bom', declarou a quilombola Adeílza Henrique sobre a chegada de uma Arca das Letras em sua comunidade © Lima Andruška
Adeílza Henrique não tirava os olhos da funcionária do Arca das Letras e ouvia atentamente suas instruções. O auditório do Seminário São José, em Garanhuns, com as janelas abertas devido ao calor, era invadido por melodias perdidas de axé music e outros sons de trio elétricos que, mais tarde, naquela noite de 11 de março, tomariam conta da cidade em mais uma micareta. Mas Adeílza permanecia atenta, ainda que segurasse nas mãos seu bebê de 1 mês e 16 dias, Raí Henrique de Araújo. Sempre fazendo perguntas quando não entendia alguma coisa, Adeílza parecia feliz em participar da capacitação do projeto Arca das Letras para se tornar uma agente de leitura na comunidade quilombola Sítio Craíbas, na cidade pernambucana de São Bento do Una.

"Vim porque achei que seria divertido", disse a quilombola, que tem na poesia seu gênero literário preferido. Após a capacitação, Adeílza ainda participaria com outros agentes de leitura da cerimônia de entrega das minibibliotecas do Arca das Letras para 52 comunidades quilombolas de Pernambuco. Com a entrega, todas as 62 comunidades quilombolas daquele estado passam a ter sua arca – como as minibibliotecas de 230 livros feitas em madeira são chamadas. São 9.526 famílias que agora têm acesso a 14.152 livros. Segundo Adeílza, a chegada da arca em sua comunidade será muito positiva. "As pessoas vão achar muito bom", declarou com simplicidade e timidez.

Quando era criança, Adeílza não tinha livros à disposição. Mas agora, graças ao esforço e força de vontade dos oito funcionários do Ministério do Desenvolvimento Agrário que são responsáveis pelo Arca das Letras, o pequeno Raí, filho de Adeílza, poderá contar uma história diferente. Afinal, ele vai crescer bem pertinho destes grandes amigos de papel e tinta.

[Carlo Carrenho viajou a convite do MDA.]

[15/03/2005 00:00:00]