‘O mundo vai voltar a se encontrar aqui’, garante Juergen Boos na abertura de Frankfurt
PublishNews, Leonardo Neto e Talita Facchini, 14/10/2020
Esperança e defesa da liberdade de expressão marcam a abertura da Feira de Frankfurt, que teve a participação de autoridades e do escritor David Grossman

Juergen Boos na cerimônia de abertura da Feira do Livro de Frankfurt | © Marc Jacquemin / Buchmesse
Juergen Boos na cerimônia de abertura da Feira do Livro de Frankfurt | © Marc Jacquemin / Buchmesse
“A feira de Frankfurt é um grande palco, esse palco reflete o que acontece ao redor do mundo e o mundo está cheio de conflitos”, assim Juergen Boos descreveu o cenário em que a 72ª edição da Feira do Livro de Frankfurt está inserida. “Podemos ver o que está acontecendo de errado ao redor do mundo, não só pela pandemia mas também em termos de política”, completou o diretor da maior feira de livros do mundo.

Apesar do panorama pouco animador, a cerimônia de abertura, ocorrida nesta terça-feira (13) quis passar uma mensagem de esperança. Sobre o futuro do evento, Juergen garantiu que, em 2021, teremos uma Frankfurt ainda mais política e que o mundo voltará a se encontrar lá no ano que vem.

Antes mesmo de o diretor da feira usar o microfone, Justin Trudeau, primeiro-ministro canadense, deu o seu recado transmitido em vídeo gravado anteriormente. Ele apontou que, durante esses tempos desafiadores, pessoas ao redor do mundo estão procurando formas de tirar suas mentes dos impactos da pandemia e os livros têm papel importante neste contexto. “Eles nos dão esperança, nos permitem sonhar e nos dão conhecimento para aprender e crescer”, disse o líder político do país que seria o homenageado nesta edição. Por conta da pandemia, o calendário de homenagens foi postergado em um ano.

David Grossman falou sobre esperança na abertura da Feira de Frankfurt | © Marc Jacquemin
David Grossman falou sobre esperança na abertura da Feira de Frankfurt | © Marc Jacquemin
O ponto alto da cerimônia foi a fala do escritor e pacifista israelense David Grossman, convidado para falar de esperança. Desde a sua casa, nas cercanias de Jerusalém, ele se questionou: “No momento, Israel tem o maior número de casos per capita no mundo. Como posso falar de esperança quando a realidade em que estou vivendo traz tanto desespero?”.

“Então, eu pensei, falar em esperança é uma coisa boa. Talvez seja o modo que eu possa encontrar forças para agir contra a gravitação da angústia e tristeza que eu sinto desde que a covid 19 entrou na minha vida”, continuou.

"Esperança é um substantivo, mas contém um verbo que impulsiona para o futuro (...) Quando ousamos ter esperança, estamos provando que ainda existe um lugar em nossa alma onde somos livres. Um lugar que ninguém foi capaz de suprimir”, completou o escritor em seu discurso.

Em seu primeiro discurso como presidente da Associação Alemã de Editores e Livreiros, Karin Schmidt-Friderichs ressaltou a resiliência do mercado editorial e chamou a edição de 2020 da Feira como resultado do “milagre da indústria editorial”. Ao fim da cerimônia, ela entregou a medalha de patrona dos livros à ministra Monika Grütters. Foi Grütters quem articulou a liberação de quatro milhões de euros para dar suporte à versão virtual da Feira do Livro de Frankfurt cuja programação oficial (de dar inveja à Netflix, como sustentou Karin Schmidt-Friderichs) segue até o próximo domingo (18).

Mais cedo nesta terça-feira, aconteceu a Press Conference. Sem a presença de um autor - como nos anos anteriores - o rápido evento focou na campanha desta edição da feira: os sinais de esperança. "Estou orgulhoso de fazer parte do mercado do livro, que tem o propósito maravilhoso de educar nossas crianças, informar o público e inspirar pessoas com suas incríveis histórias. Estou esperançoso com o futuro da indústria do livro e esperançoso com o futuro da Feira do Livro de Frankfurt, esse é meu sinal de esperança”, disse Boos em seu discurso. Já Karin, focou na importância de se condenar a censura e dar voz à todas as pessoas. "Liberdade de opinião não significa apenas ter a chance de falar, liberdade de opinião também significa que nós temos que ouvir. Ouvir as vozes dos negros e pessoas de cor, porque nós não ouvimos o suficiente no passado e não falamos sobre isso o suficiente”, frisou.

[14/10/2020 09:00:00]