E eu lá preciso de agente literário! (Parte I)
PublishNews, 21/06/2011
Nessa nova ordem digital que as publicações estão seguindo, posso controlar tudo, daqui mesmo da minha mesa

Nessa nova ordem digital que as publicações estão seguindo, posso controlar tudo, daqui mesmo da minha mesa. Vigio tudo no mesmo computador em que escrevo meus queridos livros. Vou contar os segredos. Faço assim:

1. Acompanho todas as principais publicações na internet. Já uso o que chamam de “robôs de pesquisa” de vários navegadores. Assim, fico o tempo todo recebendo informações sobre a literatura, sobre editores que mudam de casa editorial, leis etc. etc. Confesso que, no começo, fiquei muito aturdido com o volume de 500 e-mails dia que chegavam, mas agora só fico 5 horas por dia acompanhando as novidades.

2. No quesito da administração dos recebimentos dos meus direitos autorais, uso um aplicativo que nunca falha e sempre me lembra o momento certo de receber ou cobrar direitos em atrasos. Aqui, confesso um certo alívio de só ter 5 livros publicados, pois eles me consomem 5 horas bimestrais para essa função. Há também momentos mais complicados, aqueles em que você sabe que a editora não tem como pagar, mas sabe que um dia ela vai pagar. Esses casos me levam mais umas 3 horas semanais e, muitas vezes, não consigo resolvê-los da minha cadeira. Mesmo com telefone móvel ou fixo, ainda assim preciso ir até a editora e ouvir as explicações, mas são apenas mais 6 horas por mês, e só nessas confusões.

3. Admito que o entendimento das leis de direitos autorais de vários países foi a pior parte. Como minha proposta era assumir o controle total de tudo, gastei um bom tempo com o aprendizado de expressões jurídicas nos idiomas que utilizo e outro maior buscando livros do tipo “Como entender tudo de direitos autorais e contratos”. Reserve uns 6 meses para o estudo do básico em direitos e mais 2 horas semanais para atualizações e macetes.

4. Gosto da minha cadeira, de onde saem as minhas ideias, mas procuro pelo menos 3 vezes por semana freqüentar lançamentos de livros, feira de livros, enfim, eventos do mercado editorial. Você pode achar que estou usando muito do meu tempo de escrever em funções que esse tal de agente literário poderia fazer... Não é bem assim, ver e ser vistos por pessoas é muito importante. Revelo só para você que essa solidão compartilhada com a tela do meu computador portátil me entristece às vezes, mesmo quando estou superempolgado com um novo personagem ou pesquisa.

5. Já soube de inúmeros colegas que tiveram ofertas de várias editoras ao mesmo tempo para a mesma obra. Nossa, que tensão meus colegas passaram, não posso me alongar aqui (fico devendo detalhes dos casos). Ficavam direto com os agentes ou no telefone ou por e-mail tentando decifrar as propostas de publicação que iam oferecendo a cada minuto mais e mais novidades para o livro. Cá, só para você, de novo, sem mais ninguém especulando possibilidades para carreira do meu livro, fico sossegado só considerando onde me sinto melhor publicado. Você pode achar o que quiser, mas, além de mim, não tem mais ninguém que entenda as necessidades dos meus textos.

Bom, tenho de terminar – dizem que, em textos como este aqui, não podemos passar de 3.500 toques, e já estou quase lá. Sei que você ficou superempolgado em fazer a mesma coisa que faço. Não lhe envio a planilha de como usar o seu tempo aqui, por causa dos toques (limite, sabe como é...), mas garanto para você que terá suas 5 horas semestrais só para escrever seu próximo livro.

O quê? Ficou indignado? Então, procure um agente literário que deixe você fazer só o que gosta. (Se achar me manda um e-mail, por aqui mesmo).

[20/06/2011 21:00:00]