
O interesse pela obra surgiu antes mesmo do contato com a autora. “Conheci a Rafaela graças ao trabalho dela. Primeiro surgiu o projeto de tradução do livro e quando tudo começou a ganhar contornos mais sólidos, entrei em contato para perguntar sobre a situação dos direitos para pedir a permissão dela para trabalhar na tradução no romance. Desde o início a Rafaela foi super receptiva e generosa com seu tempo, seu feedback e suas ideias. Fomos conversando e acho que conseguimos estabelecer um diálogo super produtivo”, rebobina Robin, atualmente radicado na Irlanda.
Rafaela conta da alegria que foi ser procurada pelo tradutor. “Ao longo de 2025, trocamos muitas ideias sobre o livro e até sobre outros trabalhos meus. Ele traduziu os capítulos iniciais de Peixes e outros contos que também pretende enviar para revistas literárias, além de solicitar alguns materiais para a inscrição da Pen, como notícias, resenhas, pesquisas acadêmicas que mencionaram o livro. Conversamos bastante e quando ele mostrou os primeiros trechos traduzidos, confiei totalmente no trabalho dele", atesta a autora.

“É fascinante ver a prosa transportada para outra língua, mas com um ritmo que tenha muito das intencionalidades de quando escrevi. A tradução dele mantém não só elementos culturais japoneses, que fazem sentido para os personagens, como muita brasilidade", completa ela, aos 38 anos, autora de Enterrando gatos (Editora Patuá, 2018), Memórias de água (Telaranha Edições, 2025) e Venha ver a revoada, romance apoiado pelo edital Rumos 2023-2024 do Itaú Cultural, previsto para ser lançado em 2026, também pela Telaranha.
A trama acompanha uma enchente que isola as três irmãs em um sobrado no interior paulista, e a revisita que as três fazem às memórias familiares desde os anos 1940. Rafaela mergulhou em lutos, repressões e silêncios que foram herdados ao longo de gerações pela comunidade nipo-brasileira. Em inglês, Peixes de aquário se chamará Aquarium fish e a dupla — autora e tradutor — ainda não sabe se o livro será publicado por alguma casa editorial gringa.
“A Rafaela tem um estilo muito expressivo, que traz um olhar muito próprio sobre as situações e relacionamentos que ela descreve, revelando um lirismo até em coisas aparentemente prosaicas. Também gostei muito da forma sensível e contemplativa com que ela retrata os relacionamentos entre os personagens e reflete acerca de temas importantes, mas complexos – o envelhecimento, a identidade, a memória”, comenta Robin sobre o impacto que vivenciou ao ler o romance, na época em que frequentou as atividades do Centro Brasileiro de Língua Japonesa, em São Paulo.
No anúncio do prêmio, a Pen America descreveu a obra como uma “estreia contemplativa”, uma saga centrada em mulheres que ilumina a experiência de imigrantes japoneses em São Paulo. A instituição destacou a prosa de Kawasaki como “lírico-elegíaca, mas nunca excessivamente sentimental”, e elogiou a tradução de Driver por captar “com precisão o tom delicado e introspectivo” do romance, contribuindo para apresentar ao público uma história tão delicada e profunda sobre a história da imigração japonesa no Brasil.
“Quis traduzir o livro a fim de ajudar a levar uma parte da história da comunidade nikkei no Brasil, que ainda é muito desconhecida fora do país, para outros leitores. Ao mesmo tempo, é um prazer enorme – bem como um desafio instigante – trabalhar com o texto da Rafaela, que considero de grande qualidade literária”, contou o tradutor, empolgado com a sua descoberta e fascinado com a possibilidade de tirar esse plano do mundo das ideias, através do apoio financeiro da instituição, criada em 2003 pela PEN America a partir de uma doação do filantropo e tradutor americano Michael Henry Heim (1943-2012).
Em sua 23ª edição, a PEN/Heim Translation Fund Grants já apoiou inúmeras traduções de obras literárias internacionais para o inglês, incentivando a sua publicação no mercado editorial de língua inglesa. Desde a sua criação, apenas nove livros em português haviam sido contemplados — entre eles obras de Hilda Hilst (1930-2004), Mia Couto, Caio Fernando Abreu (1948-1996), Angélica Freitas e Paulo Henriques Britto, o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), eleito no final deste ano.






