
Considerado um dos livros centrais de sua obra, Bella mia explora temas caros à autora — memória, maternidade, luto e reconstrução — a partir da tragédia que devastou a cidade italiana de L’Aquila, em 2009. Após a morte repentina da irmã gêmea, Olivia, nos escombros do terremoto, a protagonista Caterina se vê responsável por Marco, o sobrinho adolescente. Entre silêncios, tensões familiares e a presença constante da perda, ela precisa reconstruir vínculos afetivos enquanto tenta reorganizar a sua própria identidade.
Em sua leitura crítica, o escritor e crítico literário Antonio Debenedetti, também vencedor do Prêmio Strega, descreve o livro como “um romance frio e, ao mesmo tempo, ardente, sem artifícios, mas nada ingênuo. Bella mia é uma obra comovente justamente porque não faz nada para parecê-lo.”
A narrativa acompanha o cotidiano de uma família marcada pela catástrofe — a mãe idosa, as filhas gêmeas e o sobrinho — e o lento processo de adaptação às moradias provisórias. O romance trata não apenas do luto íntimo, mas do luto territorial, refletido na transformação de L’Aquila em uma cidade fantasma tomada por ruínas, poeira e ausência.
Maternidade e luto como eixos da obra

A relação entre trauma e corpo aparece de forma contundente: após a morte da irmã, Caterina perde o ciclo menstrual, fenômeno que ela mesma interpreta como ruptura do vínculo simbiótico entre as gêmeas. A cerâmica, seu ofício, torna-se elemento central na recuperação — é manipulando o barro que modela duas estátuas gêmeas e, com elas, tenta nomear o que resta.
Para a tradutora Patricia Peterle, o trabalho com a autora exigiu imersão total. “A energia que Donatella coloca em cada palavra é impressionante. Bella mia tem seu próprio fluxo e é marcado por escolhas precisas”, disse em nota enviada à imprensa.
Nascida em 1962, Donatella Di Pietrantonio é um dos principais nomes da literatura italiana contemporânea. Estreou em 2011 com Mia madre è un fiume, mas alcançou projeção internacional com L’Arminuta (2017), vencedor do Prêmio Campiello. Depois publicou Borgo Sud (2020), finalista do Strega, antes de conquistar o prêmio máximo das letras italianas com L’età fragile (2024). Os seus livros abordam abandono, identidade, vínculos familiares e rupturas — sempre com uma prosa intensa e sem concessões, que Walter Siti definiu como “palavras que têm músculos”.






