
As conversas no palco – e também nos corredores – giraram em torno do Dia do Editor, criado em 1999 por iniciativa da Libre e já conhecido pelo mercado como uma assinatura do evento, que assumiu ares de maturidade ao ser levado a um museu cuja curadoria pauta a diversidade, seja nas artes visuais, na música ou nos debates. “A Libre começou a partir da Primavera dos Livros, no sentido de cavar um espaço para que editoras pequenas consigam mostrar ao público os seus livros", resumiu Lizandra, com o microfone em mãos.
Preparando os assuntos dos painéis seguintes, Lizandra disse que já ouviu o editor Luiz Schwarcz, fundador e CEO da Companhia das Letras, elogiar o trabalho das editoras pequenas por serem descobridoras das novas vozes literárias nacionais, e pontuou que a Livraria Martins Fontes, em São Paulo, é grande o bastante para colocar mais de 200 mil títulos em exposição versus o espaço geralmente econômico das livrarias de rua do Brasil.
“Dos cem livros mais importantes do século, a maioria era reedição e foi publicada antes por uma editora pequena", destacou ela, puxando, ainda, o fio de outro novelo. “A conta pública ainda responde pela maior parte das finanças do mercado do livro, principalmente federal, mas também estadual e municipal. Temos trabalhado muito e notado a importância de nós, editoras independentes, atuarmos próximos da política do livro", instigou.
Lara reforçou a fala de Lizandra, dizendo que “muitas famílias só acessam o objeto livro através da criança na escola, que ganha um exemplar e leva para casa". Munidas de equipes exíguas, muitas vezes a pequena editora e a pequena livraria não conseguem se organizar para participar de editais públicos. Com essa dificuldade em vista, a Libre produziu a cartilha Princípios e boas práticas nas compras públicas de livros, que foi distribuída gratuitamente aos presentes.
O livro além do livro
Em seguida, o painel "Como inovar sem inventar toda hora: editores compartilham experiências estratégicas de marketing" reuniu editores que já viveram toda a sorte de experiências no mercado de livros: Raquel Menezes (da Oficina Raquel), Daniel Lameira (da Seiva) e Camila Perlingeiro (da MapaLab). Raquel apresentou cases de sucesso de livros já na pré-venda, Daniel reforçou o valor de criar comunidades robustas para falar diretamente com o seu público e apostar no livro além do livro e Camila seguiu a linha de Daniel, lembrando dos cases mais emblemáticos da MapaLab, como uma história contada por meio de um jogo, da autora Luciana de Gnone, colunista do PublishNews.
“Antigamente, só falávamos com os leitores em eventos e era fundamental colocar o livro no programa do Jô Soares ou da Ana Maria Braga para furar a bolha. Hoje, o livro faz parte de uma narrativa maior do que o próprio livro e se estende para cursos, newsletters, clubes de leitura, podcasts, parcerias com marcas e por aí vai", explicou Lameira, idealizador do curso Vida do Livro, que está em vias de realizar mais uma edição. Ele percebeu que o livro pode sair das páginas e fazer parte da vida das pessoas, que consomem mais conteúdo digital do que livros hoje em dia.
Estante Virtual anuncia livraria física em São Paulo

Quem falou para a plateia atenta da Primavera dos Livros foi o head da EV, André Palme, também colunista do PublishNews. Ele contou que, além de patrocinar um desfile de temática afim na São Paulo Fashion Week, a empresa será parceira da Prefeitura do Rio, através da Secretaria Municipal de Cultura e do Rio Capital Mundial do Livro, no legendário Paixão de Ler, festival literário criado há 33 anos – que teve cartazes belíssimos desenhados por Ziraldo nos anos 90.
Na verdade, eles fundiram a sua Feira Literária da Estante Virtual (Flev) com o Paixão de Ler, e a próxima edição já tem data e local para ser realizada: nos dias 6 e 7 de dezembro, no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. O poeta e imortal Ferreira Gullar (1930-2016) será homenageado em grande estilo e a bateria da Portela estará presente.
Palme adianta que o Dia Nacional do Livro, 29 de outubro, foi escolhido para lançar a newsletter Índice, destinada a quem lê, com inscrição gratuita e resultado de uma parceria com a Seiva, de Daniel Lameira. “Somos essa ponte entre quem vende e quem compra livros. Portanto, a nossa ideia com a nova newsletter é fomentar essa comunidade de leitores no país", avisa o executivo. A Estante Virtual atua em todo o Brasil e possui mais de 3,4 mil livreiros cadastrados.
Cariocas e mineiros ganharão livrarias até dezembro
A notável Janela Livraria avisou que vai inaugurar a sua terceira unidade no dia 6 de novembro, em Laranjeiras, um dos bairros mais gostosos do Rio de Janeiro. Provavelmente na mesma quinzena, a quase vizinha Urca verá nascer a Livraria Ceci, sonho antigo da editora Fran Junqueira, fundadora da Editora Tigrito, especializada em literatura infantil desde 2018.
Belo Horizonte também está mirando em novas livrarias – Aletria (na Savassi, com abertura prevista para o dia 4 de outubro) e Ramalhete (em Santa Efigênia) estão em vias de abarrotar novas prateleiras de livros na cidade e outras duas estrearam há semanas: a Aluá, da ilustradora Bruna Lubambo, em Santa Teresa, e a Casa de Cultura Mazza (no Pompeia), que foi pioneira na publicação de livros da mineira Conceição Evaristo, incensada na cena literária nacional.
Com essas notícias, o painel "Eu vendo sim; estou vivendo - Iniciativas para aumentar a capilaridade na venda de livros" se tornou o ponto alto da abertura da Primavera dos Livros, aproximando as vivências de um quarteto fantástico das letras: Rosana Mont’alverne, editora da Aletria e representante da Estante Mineira (uma frente unificada de 30 editoras de BH); Ivan Costa, o estiloso dono da Livraria Belle Époque, no Méier, bairro do subúrbio carioca; Martha Ribas, sócia da Janela e da MapaLab; e a supracitada Fran Junqueira, criadora da Tigrito e da Ceci.
“Essa livraria é um sonho antigo pois vivo entre livros desde que nasci. Sou muito frequentadora de livrarias, todos os livreiros de BH me conhecem, me indicam livros, inclusive. O bonito do livreiro é que ele sabe o que combina com aquele leitor e isso sempre me pareceu muito mágico. Por isso, quero formar leitores e proporcionar esses encontros tão ricos entre leitores, livreiros e escritores na minha cidade", contou a editora Rosana Montalverde, da Aletria, ao PublishNews.
Foi o painel mais descontraído do dia. Ivan contou histórias engraçadíssimas que viveu na Belle Époque e Martha elogiou a iniciativa da Estante Mineira, que faz com que essas editoras tenham muito mais força juntas. “Queremos estimular a bibliodiversidade, mas as nossas livrarias são pequenas. Então, somos obrigadas a pensar no nosso negócio e fazer as opções de catálogo. Sou privilegiada por atuar como livreira e editora. Assim, consigo entender de dentro os dois pontos de vista e trabalhar por ambos", pontuou Martha.
Com um astral nas alturas, Rosana resumiu bem o que leva tantos empreendedores a dedicarem as suas vidas às pequenas editoras, dando nó em pingo d’água para manter o negócio competitivo e saudável. “Jung falava que quando a gente está no modo empreendedor, a gente está, na verdade, encarnando o espírito inocente". Como se sabe, os arquétipos são padrões universais de comportamento que estruturam o inconsciente coletivo, e, especialmente o arquétipo do inocente está ligado ao otimismo e à esperança de que amanhã será melhor. Alguém aí duvida disso?






