
Nascido em Araraquara (SP) em 1936, Ignácio inscreveu seu nome na literatura brasileira com romances, crônicas, livros infanto-juvenis, biografias, relatos de viagens, peças de teatro, entre tantos outros textos. O documentário resgata de forma pessoal essa trajetória a partir de depoimentos do escritor e um extenso material de arquivo.
O filme nasceu na pandemia, quando, vivendo novamente com seu pai, André começou a filmar despretensiosamente o cotidiano deles. Depois, percebeu que desse material poderia surgir um documentário. "O filme é muito caseiro, feito a poucas mãos. Pegávamos uma câmera e um tripé e íamos para algum lugar com ele para fazer uma entrevista. Fizemos oito entrevistas de duas a três horas cada, principalmente na casa dele, mas também no entorno da Praça Roosevelt, onde morou por dez anos quando chegou em São Paulo, na estação de trem de Araraquara, na Biblioteca Municipal de Araraquara, lugares importantes na história dele", resume o diretor.
André, que teve uma longa carreira como fotógrafo, e fez uma transição para o cinema em 2015, conta que muito do material de arquivo do filme veio do próprio Ignácio. O artista mantém organizada uma coleção de materiais: “Atrelado ao escritório dele tem um pequeno quartinho, com muitas caixas, e cada uma tem muitos envelopes dentro. A maioria dos envelopes tem fotos, mas tem também uma boa quantidade com cartões postais, programas de peças, de museus, exposições etc. E cada envelope tem um texto escrito do lado de fora, explicando, em detalhes, o que tem lá dentro".
Além disso, André encontrou nesse arquivo 38 rolos de Super-8, todos filmados pelo escritor durante a década de 1970. Essas imagens acabaram se tornando uma parte importante do filme. Numa camada mais íntima, são imagens da família, de São Paulo, dele próprio, Araraquara, Berlim, até do nascimento do cineasta.
“Durante o meu nascimento, nos dias em que ele ficou na maternidade acompanhando a minha mãe, ele escreveu um pequeno conto chamado ‘A montanha mágica – O nascimento de André’", conta o diretor. "Ao fazer a pesquisa para o filme reencontrei esse conto em uma caixa, e encontrei também muitas cartas que ele me escreveu quando eu morei fora do Brasil, entre 1991 e 1997. Esse material acabou entrando como falas, na minha voz e na voz dele", relembra.
O realizador explica, também, que Não sei viver sem palavras foi uma construção coletiva. Era importante trazer olhares de fora, que não tivessem intimidade com o protagonista e o material filmado, como seu antigo sócio Ricardo Carioba, que é codiretor do filme, a montadora Mari Moraga e os roteiristas André Collazzo e Vivian Brito.
“Para além da construção criativa em conjunto do filme todo, o ponto mais importante desse olhar de fora foi encontrar o equilíbrio de qual deveria ser o tamanho e o tom da minha presença no filme", avalia André. "Desde o começo sabíamos que o filme era sobre ele, sobre a vida e a obra do pai, mas ao mesmo tempo não podíamos, e nem devíamos, ignorar que era o filme de um filho. Foi uma pergunta que esteve presente o tempo todo", complementa.
O diretor confessa que sempre teve uma relação bem próxima com o pai, mas fazer o filme uniu-os ainda mais. "Sinto que esse filme de fato também é um pouco dele. O fato de que ele sempre quis fazer um filme, mas nunca fez, e nesse filme, além de personagem, ele também filmou uma parte importante do material (o Super8), e o texto é inteiro dele, sejam as entrevistas, sejam os trechos de livros, faz com que esse filme seja também em parte dele", acredita. "É um pouco uma simbiose, uma passagem de bastão, é o meu primeiro filme, uma releitura da vida e da obra dele partindo de textos e algumas imagens dele, mas com o meu ponto de vista. É algo sutil mas muito forte ao mesmo tempo, difícil explicar", elabora André.
Serviço
O que: Estreia de Não sei viver sem palavras, de André Brandão
Onde e quando: 27º Festival do Rio, de 2 a 12 de outubro de 2025
Mostra: Première Brasil Retratos
Longa-metragem | Documentário | Duração: 80min | País: Brasil | Ano: 2025 | 12 anos
Ficha Técnica
- Direção: André Brandão
- Produtores: Felipe Soutello, Luana Furquim, André Brandão
- Produtora Associada: Deborah Osborn
- Roteiro: André Brandão, André Meirelles Collazzo, Vivian Brito, Ricardo Carioba
- Direção de Fotografia: André Brandão
- Montagem: Mari Moraga, edt., Ricardo Carioba
- Montagem Adicional: Fernanda Sgroglia
- Arte: Leandro N Lima
- Edição de Som: Pedro Noizyman, A3pS, Rosana Stefanoni, A3pS
- Trilha Sonora: Gabriel Ferreira
- Elenco: Ignácio de Loyola Brandão
- Empresas Produtoras: andré+, Prosperidade Conent
- Distribuição: Bretz Filmes