Ernesto Mané estreia em livro que revira as suas raízes paternas
PublishNews, Redação, 1º/09/2025
Físico e diplomata brasileiro-guineense conversa com José Henrique Bortoluci sobre o seu livro nesta quarta (3), no Tapera Taperá, em São Paulo

Ernesto Mané lança 'Antes do início' © Valeria Fiorini
Ernesto Mané lança 'Antes do início' © Valeria Fiorini
O físico e diplomata Ernesto Mané lança nesta quarta-feira (3), às 18h30, na livraria e espaço cultural Tapera Taperá (Av. São Luís, 187 – 2º andar, loja 29, na República - São Paulo/SP), Antes do início, o seu livro de estreia publicado pela Tinta-da-China Brasil. O encontro será mediado pelo sociólogo, professor e escritor José Henrique Bortoluci, autor de O que é meu (Fósforo, 2023), no qual reconstitui a vida do pai caminhoneiro e, com isso, uma parte da história brasileira. Os dois devem falar da figura do pai na literatura, ensaio autobiográfico, física, entre outros temas de interesse comum.

Em Antes do início, Mané narra sua jornada pessoal em busca de suas raízes na Guiné-Bissau. A obra mescla diário de viagem e ensaio autobiográfico, enquanto narra a própria experiência ao visitar pela primeira vez a terra de seu pai em 2010. Nascido no Brasil, de mãe paraibana e pai guineense, Mané sempre teve uma inquietação profunda: conhecer o outro lado da kalunga — termo que designa a travessia atlântica que tantos africanos fizeram ao longo dos séculos.

Seu pai, da geração responsável pela independência da Guiné-Bissau, imigra para o Brasil nos anos 1970 graças a uma bolsa de estudos do Itamaraty, em busca de uma formação acadêmica internacional de alto nível. Em São Paulo, acaba sendo repelido pelo racismo nas salas de aula e corredores da universidade, e abandona o jovem Ernesto e a família. Constitui uma nova família em Cabo Verde, e novamente a abandona.

Seria um “sacana”, como dizem alguns, ou apenas alguém que tentava salvar a própria pele em meio à barbárie das guerras coloniais portuguesas? O que têm a dizer os amigos e parentes que ficaram na Guiné-Bissau sobre este homem que parece ter abandonado a todos, mas que é lembrado e mencionado no tempo presente, como se sempre estivesse ali?

Para Mané, conhecer a realidade da Guiné e da família que vive ali traz desalento e dor, frustra expectativas, amplia os questionamentos e o faz revisitar memórias de infância. A paternidade e o divórcio recente o fazem olhar de outra maneira para o pai e para os enredos familiares. As contradições e possibilidades da Guiné chamam a atenção do jovem cientista. Parece-lhe evidente o potencial cultural e político do crioulo, idioma que é falado por toda a população, mas que seu pai não lhe ensinou e não é sequer adotado como uma das línguas oficiais do país.

Entre as muitas decisões que Mané — sobrenome de origem balanta, uma das etnias que compõem a população da Guiné-Bissau — toma a partir da viagem está o pedido de um passaporte da Guiné-Bissau para ter dupla cidadania. Se a história e a política, conforme atestam as páginas de Antes do início, contribuíram para acentuar a distância entre África e Brasil, Mané nos mostra de forma notável que a literatura é uma linguagem privilegiada para nos trazer notícias do outro lado da kalunga.

[01/09/2025 09:48:05]