
“O bacana dos audiolivros é que eles adicionam um tom emocional a partir da narração, o que as pessoas valorizam muito nas obras gerais de ficção ou não ficção. É um ramo importante do mercado editorial, que também vem crescendo com a chegada dos serviços de assinatura de áudio”, afirmou Dante Cid, presidente do SNEL.
Dados da pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, encomendada pelo Sindicato Nacional das Editoras de Livros (SNEL) e pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), mostram que, dos 15 mil títulos digitais lançados em 2024, 21% estão relacionados a audiolivros, contra 17% no ano anterior.
Segundo a atriz Denise Fraga, que narra o audiolivro Orgulho e preconceito, de Jane Austen, ela que teve que fazer exercícios de respiração, além de se preparar para a linguagem mais rebuscada da história, entendendo melhor “a cabeça” dos personagens para qualificar a sua interpretação. “O ator tem a função de transformar o que parece ser complicado, de jogar as palavras no colo da plateia, do ouvinte”, disse a atriz, que sempre gostou de atuar com a voz.
Já o ator Milhem Cortaz, a voz de O Grande Irmão no multicast em áudio 1984, de George Orwell, relatou que leu esse livro aos 14 anos, e que agora tem novo significado. “Meu pai me deu de presente de aniversário. Passam-se trinta e poucos anos, leio novamente e encontro uma leitura muito mais política do que amorosa”.
O experiente ator e diretor de voz, Mauro Ramos, que interpreta os personagens de O senhor dos anéis, de J.R.R. Tolkien, entre outros clássicos da literatura, acredita que essa seja sua missão. “Estou aqui para mostrar para o público o que ele não consegue ver. Eu gosto muito de narrar. Eu lia para meus filhos fazendo vozes”, contou.
Pelos corredores da Bienal do Livro Rio, outros autores também apostam no segmento. Autor do best seller Torto arado (Todavia), Itamar Vieira Júnior se diz um entusiasta dos audiolivros, inclusive para consumo próprio. “A leitura é feita com o corpo de muitas maneiras e não muda se você ler ou se escutar. As pessoas que não têm a visão, por exemplo, ou vão ler pelo contato em braile ou vão escutar o áudio. Li um livro do Stephen King sobre escrita que falava do repertório dele de leitura ao longo do ano e de como conseguiu aumentar essa lista de leitura com audiolivros. Depois disso, comecei a escutar audiolivros e acho maravilhoso. É no seu caminho que você pode escutar o livro, quando você não pode ler por causa do desconforto do balanço do carro, quando vai fazer atividade física, enquanto cozinha, limpa a casa. Desde que comecei a consumir esse tipo de leitura, aumentei a minha lista de livros por ano”, diz ele.
Famosa por suas obras infantis e juvenis, a autora Ana Maria Machado considera que os audiolivros vão trazer cada dia mais conhecedores de livros. “No exterior, esse mercado existe há pelo menos 20 anos. Aqui no Brasil, por exemplo, só durante a pandemia eu gravei uns 14. Como fui locutora de rádio, também os gravei com experiência profissional. É sempre uma maneira de expandir a literatura, o contato com o livro. Eu sou muito favorável e acho necessário desenvolver cada vez mais”, conclui a autora, que tem 40 livros gravados nesse formato.