Uma trama sutil, inquietante e cheia de simbolismos
PublishNews, Redação, 20/05/2025
Em 'Zisa bela', vozes que das narrativas se desenvolvem em via de mão dupla

É com surpresa que Paulo, um ex-delegado da Polícia Federal, recebe uma mensagem de Jorge, um homem que havia se casado com seu grande amor não correspondido de juventude, pedindo para encontrá-lo. Fazia três décadas que não pensava nela. Jorge, piloto de aviões e helicópteros, que mantinha um blog de nome Comandante Jorge, diz que vem se entregar pois era culpado de muitos crimes. No plano da conversa sincera entre esses dois homens, amados de maneiras diferentes por uma mulher em duas fases de sua vida, descobrimos quem se tornaram. Paulo fez carreira como delegado na Polícia Federal, até ser afastado do cargo por atuar no combate ao banditismo na Amazônia. Jorge descambou para a ilegalidade em sua atuação indiferente e fria como piloto cooptado por criminosos, perdendo sua humanidade. Nos monólogos de Paulo e Jorge, mediados pelas pujantes ausências de Zisa e Bela, revelam-se não apenas seus caminhos e descaminhos, mas o Brasil contemporâneo atravessado pela devastadora covid-19. Em Zisa bela (Grua, 254 p, R$ 69,90), de Carlos Eduardo de Magalhães, vozes que das narrativas se desenvolvem em via de mão dupla, um vetor indo do presente em diante, outro indo do presente para o passado na forma de um blog. Elas ocorrem um registro amorosamente contido, mesmo para descrever uma realidade em estado de delírio. Com uma trama sutil, inquietante e cheia de simbolismos, em que o rinoceronte real e o de brinquedo são peças-chave, e o amor à bicicleta é um elogio da liberdade do indivíduo, o autor constrói um romance sobre uma forma de sobrevivência que cultiva o amor mesmo nos eventos mais extremos.

Tags: Grua, romance
[20/05/2025 07:00:00]