Festivais literários paulistanos, como a Feira do Livro da Rocha, buscam atrair leitores para a rua
PublishNews, Talita Facchini, 29/04/2025
Idealizada pela Livraria Simples, Feira segue o movimento de outros eventos que integram suas programações com os espaços da cidade, como o Festival Poesia no Centro

Neste mês de maio, São Paulo terá dois eventos literários que ocuparão as ruas do centro da cidade em um movimento que busca tirar os leitores e não leitores de casa. O primeiro deles é a nova Feira do Livro da Rocha, idealizada pela Livraria Simples e que ocorre já neste final de semana, nos dias 3 e 4 de maio, na Rua Rocha, no Bixiga. O segundo é o Circuito Poesia no Centro, que ocorre de 6 a 16 de maio, integrando a programação do 1º Festival Poesia no Centro, idealizado pela Livraria Megafauna.

“Essa movimentação soa quase como uma reação à digitalização da vida, um esforço de retomada urbana e cultural, levando as pessoas a aproveitar o espaço público como palco de fruição e sociabilidade”, comenta João Varella, dono da Banca Tatuí e Lote 42, agitador cultural e produtor de diversas ações com a mesma premissa. “São ações sumamente democráticas, que promovem o acesso à leitura e o fortalecimento da convivência comunitária, além da circulação econômica local”, completa.

Organizada em conjunto com mais de 20 organizações, coletivos e movimentos do Bairro, a primeira feira literária do Bixiga tem como principal objetivo fortalecer laços comunitários e integrar editoras e livrarias à vida do bairro. Com programação gratuita que une debates, intervenções artísticas e ações sociais, a Feira pretende celebrar a diversidade cultural do Bixiga e engajar a comunidade do bairro em uma programação social e cultural.

“Acredito muito que eventos como esse podem ganhar força”, comenta Beto Ribeiro, sócio da Livraria Simples, citando a já estabelecida A Feira do Livro, no Pacaembu, e o Festival de poesia idealizado pela Megafauna como outros exemplos de eventos que exploram a cidade. “Acho que, no final das contas, citando só esses três eventos por estarem mais próximos, tem tudo para ganhar força. Temos percebido que a comunidade em torno da livraria está muito empenhada e contente com a realização do evento”.

Varella dá coro à fala de Beto: “Os eventos mencionados sinalizam uma tendência. Torço para que os órgãos públicos, iniciativa privada e o ecossistema do livro reconheçam e apoiem essas iniciativas”.

A Feira do Livro da Rocha é realizada com o apoio da Transpo, mas sem patrocínio ou leis de incentivo. “O que esperamos é que muita gente venha e consuma os livros”, confessa Beto. Sendo assim, a expectativa é receber cerca de 5 mil pessoas.

A organização do evento também criou uma campanha de financiamento coletivo para continuar viabilizando a feira. O dinheiro arrecadado ajudará a garantir estruturas como o som, gestão de resíduos e pagamento dos artistas, moderadores e equipe. Interessados podem ajudar clicando aqui.

No caso do Festival e Circuito Poesia no Centro, a livreira Irene de Hollanda, que dirige o festival ao lado de Fernanda Diamant, explica que a ideia para essa primeira edição era buscar formatos que ampliassem perspectivas para discussões e leituras, por isso a organização decidiu complementar a programação estendendo o convite a livrarias e centros culturais. “Ao criar esse eixo colaborativo, conseguimos expandir os pontos de vista para se pensar a poesia, e também chamamos atenção para inúmeras organizações que, cada qual com suas particularidades, se dedicam ao livro e à literatura na região”. Sobre a participação e importância das livrarias neste tipo de ação, ela acrescenta. "As livrarias de rua têm essa vocação de promover encontros de leitores, de abrir as portas como verdadeiros centros culturais, incentivando debates e encontros do público leitor. É algo extremamente saudável para a vida cultural da cidade, que pode contribuir com a formação de leitores e com a difusão de autores e livros".

Beto conta ainda que a ideia da Feira do Livro da Rocha surgiu há um bom tempo pensando em provocar os não leitores. Desde setembro, as ideias foram saindo do papel e o apoio dos outros estabelecimentos do bairro veio fácil. “Temos a vantagem de termos muitos atores sociais do bairro que já organizam eventos por aqui e que imediatamente passaram a apoiar a gente”.

Além das 20 organizações parceiras, Beto ressalta que as 40 editoras participantes se dispuseram a dar uma margem maior de desconto para o evento para que seja possível repassar esse desconto para o público final. Editoras como Autêntica, Carambaia, DBA, Cepe, FTD, Malê, Lote 42, Veneta, Melhoramentos, Telha, Ubu, Boitempo, Companhia das Letras, Dublinense, Fósforo, Perspectiva, Planeta, Record e Todavia participam do evento. A operação de vendas será feita pelas livrarias Simples, Banca Tatuí, da Tarde, Barrilete, Faz de Conta e Miúda.

Para essa integração acontecer, a Feira terá dez espaços – localizados em diferentes pontos da Rua Rocha – com programações distintas. O Espaço Florestinha, por exemplo, terá a presença de nomes como Natalia Timerman, Erica Malunguinho, Tiago Rogero, Geni Nuñez e Amara Moira.

O Espaço Bar do Seu Manoel, tradicional ponto de encontro da Rua Rocha, terá uma aula pública com Miguel Nicolelis no sábado e outra com Néli Pereira no domingo. A Tenda das Ações Sociais – reservado para atender moradores e frequentadores do Bixiga – terá troca de muda de plantas, corte de cabelo, oficina de reciclagem e outras ações.

Haverá ainda um roteiro histórico pelo Bixiga, palco musical, espaço infantil, e o Espaço Mercadinho Simples – voltado para os livros seminovos, café e ponto de encontro, todos com programação própria. Outros nomes como Sérgio Vaz, Bel Santos Mayer, Carmen Silva, Jeferson Tenório e Raquel Rolnik também participarão de debates e conversas com o público.

Integrada a outro evento cultural da cidade, a Livraria Simples também participa do circuito de encontros e oficinas, parte da programação do 1º Festival Poesia no Centro.

A livraria recebe uma "Oficina de poesia falada" com os poetas Lirinha e Luiza Romão. O evento será para um publico fechado e específico: adolescentes de um projeto social de contraturno escolar da Igreja Nossa Senhora Achiropita.

A ideia central do Circuito Poesia no Centro é chamar atenção para algumas das organizações que, cada qual com suas particularidades, se dedicam ao livro e à literatura na região. Entre o dia 6 de maio e 16 de maio, cinco livrarias e cinco organizações culturais da região central de São Paulo receberão os encontros. "Desde que abrimos diálogo com livrarias para pensar a programação do Circuito Poesia no Centro, sentimos grande adesão ao projeto. Nossa expectativa era que cada organização contribuísse com as discussões em torno da poesia, e que também trouxesse um pouco das particularidades de suas linhas de pesquisa e de trabalho", conta Irene.

[29/04/2025 10:00:00]