
Diante de uma plateia de cerca de 600 pessoas, no Teatro Carlos Gomes (centro do Rio), o prefeito Eduardo Paes recebeu a chave simbólica das mãos da prefeita de Estrasburgo, Jeanne Barseghian. A cidade francesa, que sobressai na Europa pelo seu intenso trabalho em prol da literatura infantil, recebeu a honraria em 2024. No ano que vem, será a vez de Rabat, capital do Marrocos.
“O Rio continua lindo. O Rio continua lendo”, com esse slogan-trocadilho, Paes convocou Barseghian para sambar no palco, ao lado dos bailarinos, atores e cantores envolvidos no evento, que durou pouco mais de 1h30 e foi dividido em capítulos, tal qual um livro, sob a direção de Edson Erdmann. O palco foi transformado por livros gigantes feito alegorias de Carnaval e algumas das principais autoridades do segmento na cidade discursaram à plateia, ligando as instituições e empresas que representam a ações relacionadas ao fomento à leitura.
Dante Cid, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livro (SNEL); Tatiana Zaccaro, diretora de negócios da GL Exhibitions Brasil; Merval Pereira, presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL); Sevani Matos, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL); e Oscar Gonçalves, chefe de gabinete da Fundação Biblioteca Nacional, foram alguns que se comprometeram, em suas falas, a trabalhar em prol do livro e da leitura na cidade.
Mais de 70 nomes e rostos há muito familiares dos leitores brasileiros, como Clarice Lispector (1920-1977), Ferreira Gullar (1930-2016), Cecília Meireles (1901-1964) e Vinicius de Moraes (1913-1980), apareceram em citações animadas no livro aberto que se transformava em um telão. Os célebres escritores Heloísa Teixeira (1939-2025), Antonio Cicero (1945-2024), Ziraldo (1932-2024) e Nego Bispo (1959-2023), que nos deixaram nos últimos tempos, foram lembrados e aplaudidos.
Conceição Evaristo estava presente e viu fotos e frases suas serem reproduzidas no palco. Ao PublishNews, a autora que está à frente da Casa Escrevivência falou sobre a eleição do Rio como Capital Mundial do Livro em 2025:
“Essa escolha tem uma importância e, ao mesmo tempo, significa uma responsabilidade muito grande. Porque se formos pensar em falantes da língua portuguesa, a gente extrapola o Brasil, a Europa e a África. Agora é o momento de o Rio promover ações em que os acessos ao livro, à leitura e à escrita sejam considerados como um direito cidadão. Então, é hora de se pensar na escola, formação dos professores, no próprio processo de alfabetização e, acima de tudo, sobre um Rio de Janeiro que consiga incluir as pessoas analfabetas da cidade em suas reflexões", defendeu Conceição.
Citado em diversos momentos, o imortal Ruy Castro foi outro que acompanhou a cerimônia da poltrona do Carlos Gomes, ao lado de sua mulher, a escritora Heloísa Seixas. “Desde a chegada da família real em 1808, o Rio foi finalmente aberto para esse objeto extraordinário, que é o livro e a sua produção. Porque os portugueses liam muito, mas não deixavam que se fizesse os livros aqui. Quando, finalmente, isso foi permitido, o Rio nunca mais deixou de ser a cidade dos livros", filosofou Ruy, com o seu charme característico.
Editais para traduções e círculos de leitura abrem em 1º de maio
Ao final da cerimônia, o gerente de Livro e Leitura da Secretaria Municipal de Cultura (SMC) do Rio de Janeiro, Henrique Dau, informou com exclusividade ao PublishNews sobre uma novidade relacionada à Lei do Imposto Sobre Serviço (Lei do ISS), que destina 1% do ISS pago, por ano, pelas empresas cariocas para a realização de projetos culturais (uma espécie de Lei Rouanet municipal). Neste 2025, a Lei vai destinar R$ 10 milhões para somar nas ações em prol da leitura.
“A nossa missão é usar a Capital Mundial do Livro não só para celebrar o patrimônio literário carioca brasileiro, mas também para impulsionar e fortalecer uma série de políticas públicas de livro e leitura que têm como objetivo deixar um legado perene e consistente de estímulo à leitura no Rio de Janeiro", disse, entusiasmado.
Segundo ele, “R$ 10 milhões serão destinados exclusivamente a essas políticas, que incluirão, por exemplo, um edital para traduções de livros brasileiros para diversos idiomas e o programa Ciclo de Leitura, que tem como objetivo criar círculos de leitura e discussão de livros em vários equipamentos culturais, públicos e em parceria com instituições privadas", adiantou, revelando que esses editais serão lançados no dia 1º de maio, outra data comemorativa, o Dia do Trabalhador.
Henrique Dau – que assumiu o cargo neste mês de abril – destacou que a ideia central é valorizar outras modalidades literárias para além das tradicionais, expressas na periferia carioca. “Há mais de cem anos tínhamos o samba na Pequena África, a maior riqueza literária do Rio e do Brasil e que, na época, sofreu todo o tipo de preconceito. E hoje vemos o mesmo preconceito em relação ao funk, ao slam e a outras manifestações culturais nascidas nos morros, que estão pela cidade e merecem esse reconhecimento no panteão da literacidade".
Outra novidade anunciada na cerimônia desta quarta-feira (23) foi a de que o evento de entrega do Prêmio Jabuti será realizado em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro e ocorrerá no Teatro Municipal. Para marcar esse momento, a 67ª edição do Jabuti contará com uma nova categoria: o Jabuti Especial Fomento à Leitura, voltado exclusivamente a projetos realizados na cidade do Rio.