A edição que celebrou os 70 anos da Feira do Livro de Porto Alegre terminou na última quinta-feira (20) com o tradicional cortejo do evento, em que rosas são distribuídas aos livreiros. Os dados da Feira foram bastante positivos: 241.246 livros foram vendidos entre as 72 bancas ao longo dos 20 dias de evento. O resultado é 14% maior do que o registrado na edição anterior — um marco forte para retomada do setor editorial na cidade, fortemente atingido pelas enchentes em maio deste ano.
Os números foram divulgados pela Câmara Rio-Grandense do Livro. No total, a programação destinada ao público adulto contou com 209 eventos, incluindo 22 oficinas, 30 apresentações artísticas, 70 mesas de discussão e bate-papos, e 87 vitrines de lançamento. Quase 400 escritores participaram da 70ª edição da Feira do Livro, sendo 349 autores gaúchos, 37 de outros estados e 12 escritores internacionais.
“Estamos muito emocionados com a forma com que os gaúchos abraçaram essa edição que foi tão importante para os livreiros. A Feira do Livro vai além das vendas, é um momento de encontro com a literatura, com os autores e, também, uma oportunidade de viver a cultura em suas diferentes formas. O público prestigiou as atividades, as sessões de autógrafos, os bate-papos, isso é muito recompensador”, destaca Maximiliano Ledur, presidente da entidade.
Outro dado interessante foi que quase 1.770 pessoas autografaram livros — entre autores, ilustradores, tradutores e organizadores — nas 669 sessões que aconteceram nos 20 dias. “A Praça de Autógrafos Gerdau é um espaço de destaque da feira porque é lá que acontece o encontro dos leitores com seus escritores favoritos. Nesta edição, filas enormes se formaram para prestigiar os convidados”, comemora Ledur.
Os três feriados que aconteceram entre 1˚ e 20 de novembro deixaram a Praça da Alfândega lotada. Segundo Nóia Kern, responsável pelo Balcão de Informações, o movimento deste ano foi intenso, com mais de 15 mil atendimentos. Para o PublishNews, o presidente acrescenta que um dos momentos mais emocionantes do evento foi o lançamento do documentário que reconta um pouco dos 70 anos de história da Feira do Livro: "Também foi bastante emocionante ver como o público abraçou essa retomada do setor livreiro, que foi fortemente atingido pela enchente", comenta.
Curadoria de Literatura e Cultura Negra
Pela primeira vez, a Feira do Livro de Porto Alegre contou com uma Curadoria de Literatura e Cultura Negra. Sob a responsabilidade da escritora e musicista Lilian Rocha, as atividades receberam 71 autores, sendo 65 deles gaúchos e seis nacionais. Desde a abertura, foram realizados 19 sessões de autógrafos e 23 eventos culturais, entre oficinas, bate-papos, saraus, vitrines de lançamentos, batalhas de rima e shows musicais, que contaram com a participação de 13 músicos representantes da cultura negra.
“A experiência da Curadoria foi extremamente significativa, um hiato no tempo com relação à valorização da literatura e da cultura negra, dentro da maior feira a céu aberto da América Latina. E, nos seus 70 anos, finaliza no primeiro feriado nacional da Consciência Negra. O evento oportunizou a presença da escrita de autoras e autores consagrados, assim como abriu portas para aqueles que merecem maior visibilidade pelas suas produções literárias altamente qualificadas. A diversidade da cultura também foi mostrada e apreciada por variados públicos”, ressalta Lilian Rocha.
Público prestigiou mais de mil eventos culturais
Neste ano, a programação teve um número de atividades maior do que a edição passada. Ao longo de quase três semanas, foram mais de mil eventos culturais gratuitos para todos os públicos na Praça da Alfândega, no Espaço Força e Luz e no Clube do Comércio.
“Foi uma Feira do Livro feita por gaúchos para os gaúchos, com o prestígio e apoio de autores e visitantes de outros estados e países. Esse ano, especialmente, quem passou por aqui estava feliz de participar e nos ver resilientes e com uma programação tão bonita na praça”, ressalta a coordenadora de programação para público adulto, Sandra La Porta.
Mais de 17 mil alunos passaram pela Feira do Livro
A área infantil e juvenil realizou 480 atividades. Entre elas, 90 encontros entre autores e estudantes dos Ensinos Fundamental e Médio. As escolas também promoveram 32 sessões de autógrafos. Ao todo, mais de 17 mil alunos das redes pública e privada passaram pela Praça da Alfândega durante os dias de feira.
Crianças e adolescentes acompanharam 178 contações de história, três exposições e seis saraus. O espaço também promoveu 23 rodas de conversa do ciclo inclusivo— que tratou de assuntos ligados à inclusão social, acessibilidade e autonomia com pais e especialistas. Além disso, as famílias puderam assistir a quatro concertos e desfrutar de 78 eventos realizados por parceiros da Feira do Livro.
"Embora a inundação tenha causado um estrago imenso na Praça da Alfândega, em prédios de entidades culturais que costumávamos ocupar para realizar atividades e muitas perdas para empresas associadas à Câmara Rio-Grandense do Livro, em nenhum momento eu duvidei de que a Feira sairia. Tantas foram as manifestações de apoio que recebemos de autores e editores de literatura infantil e juvenil e de professores parceiros. E a 70ª edição da Feira foi uma beleza, com dias ensolarados, praça cheia e mais de 17 mil alunos nas atividades oferecidas às escolas. Uma bênção” , ressalta Sônia Zanchetta, responsável pela programação infantil e juvenil.
Retomada de atividades
O crescimento de 14% é bastante animador, e depois deste balanço positivo da Feira do Livro, Maximiliano destrincha quais os próximos passos para o setor livreiro do Rio Grande do Sul. "Nós temos passos importantes a serem seguidos nessa retomada de atividades do mercado literário. A Câmara Rio-Grandense do Livro seguirá buscando oportunidades, espaços e formas de apoiar o setor livreiro. Também vamos buscar maneiras de continuar incentivando o lançamento de novos livros, apoiando os autores locais e, principalmente, pensando em estratégias para promover cada vez mais o acesso à leitura, especialmente nas escolas", afirma.
Em maio de 2024, a Livraria Santos, com sede na cidade em Porto Alegre e em Canoas e 17 lojas no estado, anunciou que teve extensas perdas pelos efeitos das enchentes: prejuízo milionário, alguns funcionários perderam tudo, outras lojas permaneceram fechadas ou sem movimento por semanas, os desafios foram enormes. Em 2024, foi a primeira vez que tiveram uma barraca na Feira do Livro. O proprietário Jonatas Santos afirma que a livraria vendeu mais de 2 mil livros no decorrer do evento.
A TAG Experiências Literárias também foi fortemente afetada com perdas materiais. Laura Zuanazzi, diretora de Marketing da TAG, detalha uma perda em mais de 200 mil reais: "Estimamos uma perda material de R$ 200 mil, incluindo notebooks, móveis e nosso pequeno acervo de livros (nosso estoque fica em São Paulo). O mais dolorido foram as perdas simbólicas, como livros autografados, edições únicas e mensagens de pessoas que admiramos, como uma carta do escritor Luis Fernando Veríssimo". Depois de ficar sem escritório físico por cinco meses, a empresa começou a reconstrução de sua sala no Instituto Caldeira, em Porto Alegre. Durante o processo de reconstrução, a empresa fez um mapeamento de seus associados e realizou ações emergenciais por meio de doações de itens de higiene e vestuário.
"Arrecadamos mais de R$ 100 mil com a comunidade tagger para ONGs que estavam na linha de frente durante as enchentes. Fizemos uma venda solidária do livro Ela se chama Rodolfo, da Julia Dantas, que teve a casa devastada pelas águas, e doamos 100% do valor arrecadado para a autora. Participamos de uma campanha muito importante com a Secretaria da Educação do RS e com várias editoras parceiras para doar mais de 30 mil livros para as bibliotecas afetadas do estado. A TAG doou 10 mil livros", complementa.