
A ideia então foi criar o catálogo e demonstrar o caminho criativo dos profissionais de design e editoriais, para ajudar a ampliar a percepção sobre o livro e seu desenvolvimento – o que resultou neste novo livro, lançado em junho e disponível para download gratuito na página da Seiva. A ideia é também lançar em breve uma edição física limitada, viabilizada pela Ipsis, que será distribuída entre capistas e mercado.
O livro reúne algumas capas, uma entrevista e os contatos de 100 capistas em diferentes estágios das suas carreiras – de nomes conhecidos e consagrados, como Alceu Chiesorin Nunes e Elaine Ramos, a profissionais mais jovens. Cada um foi convidado a compartilhar três capas de livro representativas de seu trabalho e responder a quatro perguntas sobre o ofício, incluindo reflexões sobre o que faz uma boa capa e dicas para pessoas que desejam ingressar nesse mercado – veja abaixo algumas das respostas.
O resultado foi um livro que pode ajudar editoras de diferentes tamanhos na produção de seus livros, bem como oferecer um panorama desse trabalho de capistas – tão abrangente e ao mesmo tempo específico – no Brasil do século XXI. Novos trabalhos serão acrescentados até o fim do mês, quando deve ser lançada uma “versão 1.0.1” do catálogo.
“Minha ideia não é de fazer necessariamente uma curadoria, ou de eu falar quem são os 100 principais capistas no Brasil. Pelo contrário, acho que o mais legal foi mostrar inclusive os profissionais que não se relacionam diretamente com o que eu me envolvi ou com a minha visão do que eu acho que é interessante, tanto que tem ali dos mais diversos”, detalha Lameira.
Projeto gráfico e capa do catálogo são assinados por Giovanna Cianelli e Victoria Servilhano. Giovanna também vai ministrar um curso na Seiva – Como Criar Capas –, que está com inscrições abertas e começa no próximo dia 9 de julho. “Uma das inspirações para a capa do livro foram as Páginas Amarelas”, explica Giovanna ao PN. “Aquele volume físico remeteu muito a essa sensação do catálogo de capistas, uma grande consulta de um conhecimento específico ou de alguém que você pode chamar para resolver determinado problema”, comentou.
Para ela, a relação dos capistas com o mercado acaba sendo mais distante do que de outras pessoas envolvidas no livro. “Acredito que poucos profissionais trabalham exclusivamente com o mercado editorial”, afirma.

“Acredito que o mais fácil ali é agradar o editor, que está trabalhando diretamente com você e te solicita uma coisa, mas alcançar esse equilíbrio comercial, que a editora fica feliz e que você como artista se sinta representada ali de alguma maneira, é complicado e não é uma coisa que você vai atingir em todas as capas”, observa.
Para Lameira, uma boa capa é algo que não pode ser repetido. “Ela é fruto de um momento muito específico: o encontro entre um editor, um diretor de arte e um capista, naquele momento da vida dos três, naquele momento da vida da empresa, quando aquele livro está sendo lançado. A boa capa sai quase como um registro desse encontro”, teoriza.
“Eu gostaria muito de demonstrar isso para as pessoas e acho que os leitores saberem isso também ganham uma riqueza enorme. Tem vários profissionais de design que começam a criar uma identidade que os leitores, ou talvez pelo menos os leitores mais críticos, às vezes influenciadores, às vezes jornalistas, às vezes pessoas interessadas mais próximas desse mundo, começam a identificar e essa escolha, essa decisão desse designer acaba influenciando a recepção do livro, a leitura do livro. Então, eu acho que é um grande mistério, essa boa capa, mas é muito poderosa ao mesmo tempo”, avalia o editor.
Para Giovanna, há alguns avanços na estruturação do mercado para os capistas, mas ainda há espaço para avançar, claro. “Faço parte de um grupo que se chama o Sindicato dos Capistas, onde a gente começa a fofocar, vale tudo ali, mas é muito também uma grande sala de terapia coletiva, onde a gente divide coisas não tão legais sobre esse processo”, compartilha. “Mas começou uma conversa sobre valores, por exemplo. Antes, no passado, era um pouco mais escondido, e agora a gente discute valores abertamente, eu acho que isso é bem importante para estabelecer um mínimo e a gente a partir disso pensar em reajustes anuais, porque também é muito comum esses valores ficarem congelados durante anos”, lamenta.
O catálogo já conta com mais de 2 mil downloads e tem apoio da Gráfica Ipsis, além de contar com a parceria da Metabooks e do PublishNews.
Clique aqui para acessar o catálogo.
Veja algumas das respostas de capistas para a pergunta “O que faz uma boa capa?”, presentes no catálogo 'Capistas 24–25':
- Alceu Chiesorin Nunes, diretor de arte do Grupo Companhia das Letras:
“Uma boa capa deve vestir o livro da melhor maneira possível. Eu poderia dizer que uma boa capa deveria contemplar preceitos básicos de design, mas não há regras; a capa pode permitir ousadias, surpresas e tudo o que faça sentido e seja justificável ao tema. O mais importante é criar o desejo de ler esse livro, de ter esse objeto. Já para quem cria, o máximo a ser alcançado é que a capa seja inesquecível aos olhos de quem lê, que seja lembrada ao passar dos anos, conquistando um espaço na memória do leitor”.

- Elaine Ramos, designer e sócia da Ubu Editora:
"Uma boa capa é a que prende o olhar do leitor em meio ao excesso de informações visuais em que estamos mergulhados. E não de qualquer leitor, mas de um leitor que vá gostar daquele livro. Ela seduz, desperta a curiosidade e comunica um conceito que vem do conteúdo. Pra mim, uma boa capa é aquela que me fez ler o livro e ficou melhor depois disso".

- Gustavo Piqueira, Casa Rex:
"Não creio que exista uma definição absoluta. A “boa capa” pode ser uma para X e outra, totalmente oposta, para Y. E para Z, A, B... É a mesma impossibilidade que existe em se definir o que faz um “bom livro” (afinal, o conteúdo de um livro não é apenas aquilo que se definiu como “literatura”). Mas posso dar uma resposta pessoal: uma boa capa, para mim, é aquela que cumpre suas tarefas funcionais — dialogar com o segmento no qual se insere, com o perfil da editora e com o conteúdo da obra —, mas, acima de tudo, projeta em seu discurso gráfico algum tipo de visão particular".

- Julia Custodio, diretora de arte na Globo e colaboradora de editoras:
"Eu amo quando compram um livro pela capa. Eu acho que esse é o nosso papel enquanto capista. Tem uma parte do trabalho um pouco mais rígida, que é representar a história. Essa parte é importante, porque os livros em que trabalho não são ilustrados, então a capa é a única visualidade mais sólida que o leitor tem daquele universo. Cabe uma poesia e um tom imaginativo que é o que nos dá liberdade para criar. Mas há também uma função comercial – que me interessa um pouco mais – que é chamar atenção para aquele objeto. Uma livraria tem uma infinidade de capas disputando entre si, lado a lado... Eu acho que quando você para em uma, ela é uma boa capa".

- Kiko Farkas, Máquina Estúdio:
"O equilíbrio entre o que a capa esconde e o que ela revela".

- Violaine Cadinot, designer freelancer:
"Gosto da ideia de que a capa de um livro numa estante de livraria é como um “grito silencioso”: ela precisa chamar a atenção e seduzir, formando um conjunto coerente entre a sua aparência, o título e a obra do autor. Uma boa capa deve entregar o suficiente sem dizer tudo. Ela transforma o livro num objeto de desejo, numa promessa. Ela deixa um espaço a tudo que não é necessariamente visível, estimula a imaginação e desperta a curiosidade".
