Catálogo 'Capistas 24-25' oferece serviço ao mercado editorial e panorama da produção de capa de livros no Brasil
PublishNews, Guilherme Sobota, 02/07/2024
Projeto surgiu de uma necessidade percebida pelo editor Daniel Lameira durante o seu já célebre curso de formação editorial, Vida do Livro

Capa do catálogo 'Capistas 24-25', assinada por por Giovanna Cianelli e Victoria Servilhano | © Seiva
Capa do catálogo 'Capistas 24-25', assinada por por Giovanna Cianelli e Victoria Servilhano | © Seiva
O catálogo Capistas 24-25, lançado recentemente pela Seiva, surgiu de uma necessidade percebida pelo editor Daniel Lameira durante o seu já célebre curso de formação editorial, Vida do Livro. “A aula sobre capas é sempre uma hora que os alunos ficam muito animados. Eu mostro os bastidores de como se chega a uma capa. Mas a cada ano que eu ia dar essa aula, eu buscava no Google uma lista de capistas, um blog sobre o assunto, sei lá, alguma coisa que eu pudesse mostrar. Fazia então uma seleção e ia mostrando ali, mas pensava que poderia ter algo mais estruturado”, explica, em conversa com o PublishNews – um podcast com a entrevista completa vai ao ar na próxima segunda-feira (8).

A ideia então foi criar o catálogo e demonstrar o caminho criativo dos profissionais de design e editoriais, para ajudar a ampliar a percepção sobre o livro e seu desenvolvimento – o que resultou neste novo livro, lançado em junho e disponível para download gratuito na página da Seiva. A ideia é também lançar em breve uma edição física limitada, viabilizada pela Ipsis, que será distribuída entre capistas e mercado.

O livro reúne algumas capas, uma entrevista e os contatos de 100 capistas em diferentes estágios das suas carreiras – de nomes conhecidos e consagrados, como Alceu Chiesorin Nunes e Elaine Ramos, a profissionais mais jovens. Cada um foi convidado a compartilhar três capas de livro representativas de seu trabalho e responder a quatro perguntas sobre o ofício, incluindo reflexões sobre o que faz uma boa capa e dicas para pessoas que desejam ingressar nesse mercado – veja abaixo algumas das respostas.

O resultado foi um livro que pode ajudar editoras de diferentes tamanhos na produção de seus livros, bem como oferecer um panorama desse trabalho de capistas – tão abrangente e ao mesmo tempo específico – no Brasil do século XXI. Novos trabalhos serão acrescentados até o fim do mês, quando deve ser lançada uma “versão 1.0.1” do catálogo.

“Minha ideia não é de fazer necessariamente uma curadoria, ou de eu falar quem são os 100 principais capistas no Brasil. Pelo contrário, acho que o mais legal foi mostrar inclusive os profissionais que não se relacionam diretamente com o que eu me envolvi ou com a minha visão do que eu acho que é interessante, tanto que tem ali dos mais diversos”, detalha Lameira.

Projeto gráfico e capa do catálogo são assinados por Giovanna Cianelli e Victoria Servilhano. Giovanna também vai ministrar um curso na Seiva – Como Criar Capas –, que está com inscrições abertas e começa no próximo dia 9 de julho. “Uma das inspirações para a capa do livro foram as Páginas Amarelas”, explica Giovanna ao PN. “Aquele volume físico remeteu muito a essa sensação do catálogo de capistas, uma grande consulta de um conhecimento específico ou de alguém que você pode chamar para resolver determinado problema”, comentou.

Para ela, a relação dos capistas com o mercado acaba sendo mais distante do que de outras pessoas envolvidas no livro. “Acredito que poucos profissionais trabalham exclusivamente com o mercado editorial”, afirma.

Exemplo de página dupla do catálogo 'Capistas 24-25' | © Seiva
Exemplo de página dupla do catálogo 'Capistas 24-25' | © Seiva
Questionada sobre o que pode fazer uma boa capa, ela conta que foi difícil responder essa mesma pergunta para o catálogo. “É uma necessidade de atingir um grande equilíbrio entre agradar o cliente (que é o editor ou editora), agradar o quem vai comprar (se apela comercialmente), e me agradar. Geralmente, essa balança está desequilibrada em alguma dessas questões”, explica.

“Acredito que o mais fácil ali é agradar o editor, que está trabalhando diretamente com você e te solicita uma coisa, mas alcançar esse equilíbrio comercial, que a editora fica feliz e que você como artista se sinta representada ali de alguma maneira, é complicado e não é uma coisa que você vai atingir em todas as capas”, observa.

Para Lameira, uma boa capa é algo que não pode ser repetido. “Ela é fruto de um momento muito específico: o encontro entre um editor, um diretor de arte e um capista, naquele momento da vida dos três, naquele momento da vida da empresa, quando aquele livro está sendo lançado. A boa capa sai quase como um registro desse encontro”, teoriza.

“Eu gostaria muito de demonstrar isso para as pessoas e acho que os leitores saberem isso também ganham uma riqueza enorme. Tem vários profissionais de design que começam a criar uma identidade que os leitores, ou talvez pelo menos os leitores mais críticos, às vezes influenciadores, às vezes jornalistas, às vezes pessoas interessadas mais próximas desse mundo, começam a identificar e essa escolha, essa decisão desse designer acaba influenciando a recepção do livro, a leitura do livro. Então, eu acho que é um grande mistério, essa boa capa, mas é muito poderosa ao mesmo tempo”, avalia o editor.

Para Giovanna, há alguns avanços na estruturação do mercado para os capistas, mas ainda há espaço para avançar, claro. “Faço parte de um grupo que se chama o Sindicato dos Capistas, onde a gente começa a fofocar, vale tudo ali, mas é muito também uma grande sala de terapia coletiva, onde a gente divide coisas não tão legais sobre esse processo”, compartilha. “Mas começou uma conversa sobre valores, por exemplo. Antes, no passado, era um pouco mais escondido, e agora a gente discute valores abertamente, eu acho que isso é bem importante para estabelecer um mínimo e a gente a partir disso pensar em reajustes anuais, porque também é muito comum esses valores ficarem congelados durante anos”, lamenta.

O catálogo já conta com mais de 2 mil downloads e tem apoio da Gráfica Ipsis, além de contar com a parceria da Metabooks e do PublishNews.

Clique aqui para acessar o catálogo.

Veja algumas das respostas de capistas para a pergunta “O que faz uma boa capa?”, presentes no catálogo 'Capistas 24–25':

  • Alceu Chiesorin Nunes, diretor de arte do Grupo Companhia das Letras:

“Uma boa capa deve vestir o livro da melhor maneira possível. Eu poderia dizer que uma boa capa deveria contemplar preceitos básicos de design, mas não há regras; a capa pode permitir ousadias, surpresas e tudo o que faça sentido e seja justificável ao tema. O mais importante é criar o desejo de ler esse livro, de ter esse objeto. Já para quem cria, o máximo a ser alcançado é que a capa seja inesquecível aos olhos de quem lê, que seja lembrada ao passar dos anos, conquistando um espaço na memória do leitor”.

Capas de Alceu Chiesorin Nunes no catálogo | © Seiva
Capas de Alceu Chiesorin Nunes no catálogo | © Seiva
  • Elaine Ramos, designer e sócia da Ubu Editora:

"Uma boa capa é a que prende o olhar do leitor em meio ao excesso de informações visuais em que estamos mergulhados. E não de qualquer leitor, mas de um leitor que vá gostar daquele livro. Ela seduz, desperta a curiosidade e comunica um conceito que vem do conteúdo. Pra mim, uma boa capa é aquela que me fez ler o livro e ficou melhor depois disso".

Capas de Elaine Ramos | © Seiva
Capas de Elaine Ramos | © Seiva
  • Gustavo Piqueira, Casa Rex:

"Não creio que exista uma definição absoluta. A “boa capa” pode ser uma para X e outra, totalmente oposta, para Y. E para Z, A, B... É a mesma impossibilidade que existe em se definir o que faz um “bom livro” (afinal, o conteúdo de um livro não é apenas aquilo que se definiu como “literatura”). Mas posso dar uma resposta pessoal: uma boa capa, para mim, é aquela que cumpre suas tarefas funcionais — dialogar com o segmento no qual se insere, com o perfil da editora e com o conteúdo da obra —, mas, acima de tudo, projeta em seu discurso gráfico algum tipo de visão particular".

Capas de Gustavo Piqueira | © Seiva
Capas de Gustavo Piqueira | © Seiva
  • Julia Custodio, diretora de arte na Globo e colaboradora de editoras:

"Eu amo quando compram um livro pela capa. Eu acho que esse é o nosso papel enquanto capista. Tem uma parte do trabalho um pouco mais rígida, que é representar a história. Essa parte é importante, porque os livros em que trabalho não são ilustrados, então a capa é a única visualidade mais sólida que o leitor tem daquele universo. Cabe uma poesia e um tom imaginativo que é o que nos dá liberdade para criar. Mas há também uma função comercial – que me interessa um pouco mais – que é chamar atenção para aquele objeto. Uma livraria tem uma infinidade de capas disputando entre si, lado a lado... Eu acho que quando você para em uma, ela é uma boa capa".

Capas de Julia Custódio | © Seiva
Capas de Julia Custódio | © Seiva
  • Kiko Farkas, Máquina Estúdio:

"O equilíbrio entre o que a capa esconde e o que ela revela".

Capas de Kiko Farkas | © Seiva
Capas de Kiko Farkas | © Seiva
  • Violaine Cadinot, designer freelancer:

"Gosto da ideia de que a capa de um livro numa estante de livraria é como um “grito silencioso”: ela precisa chamar a atenção e seduzir, formando um conjunto coerente entre a sua aparência, o título e a obra do autor. Uma boa capa deve entregar o suficiente sem dizer tudo. Ela transforma o livro num objeto de desejo, numa promessa. Ela deixa um espaço a tudo que não é necessariamente visível, estimula a imaginação e desperta a curiosidade".

Capas de Violaine Cadinot | © Seiva
Capas de Violaine Cadinot | © Seiva
[02/07/2024 10:40:00]