
Editoras chinesas demonstraram interesse em se aproximar do mercado brasileiro – na segunda (24), o PublishNews noticiou que a biografia de Lula, de Fernando Morais, vai ser publicada por lá pela Yilin Press, selo do grupo Phoenix, um dos maiores do país. A Feira também anunciou um negócio que envolve o Brasil, entre os principais acordos realizados durante a semana: a editora Jilin Science and Technology Publishing House vendeu os direitos para publicação no Brasil de um livro de fotos das Montanhas Changbai para o Grupo Editorial The Books, que tem bom trânsito com o mercado asiático.
Empresas chinesas que já têm autores brasileiros no catálogo incluem as editoras de Guangxi e Shanghai, a Central Compilation and Translation Press, a People’s Literature Publishing House (do China Publishing Group Corporation), e a Lijiang Books – que estava ausente da Feira, mas que publicou recentemente livros de autores como Itamar Vieira Junior e Jeferson Tenório. Representantes de empresas como a própria Yilin e a Beijing Book Press também manifestaram interesse em se aproximar do mercado brasileiro.

“Ainda não trabalhamos com editoras brasileiras, não vendemos nenhum direito no Brasil”, explica Siyi Ma. “Ao adquirir direitos do Brasil – como o da biografia escrita pelo Fernando Morais – nós começamos a estabelecer contatos, isso nos ajuda a entender as necessidades e os interesses do mercado brasileiro, para tentar compreender melhor que livros da China podem chamar atenção dos leitores de lá”, disse em uma conversa com o PN na Feira. “Planejamos fazer mais disso daqui em diante”.
“Na indústria editorial, o conteúdo é a chave. Em termos de literatura, acho que o que pode funcionar por aqui são livros com emoções universais, com as quais os leitores chineses possam se identificar. Ou, claro, autores muito grandes, premiados”, diz ainda a editora.
Para o editor da Aboio, Leopoldo Cavalcante – que esteve em Pequim e fez reuniões com editoras locais sobre o assunto –, um bom tradutor talvez seja mesmo o melhor caminho. “Uma dica pra se aproximar do mercado chinês é fazer amizade com tradutores do chinês para o português”, afirma. “Procurar uma galera que já publicou livros no Brasil, ou ver quem publicou artigos acadêmicos sobre o assunto, e perguntar o que eles andam lendo”. A Aboio publicou em 2022 o livro Ervas daninhas, uma coletânea de 23 poemas em prosa, escritos entre os anos de 1924 e 1926 pelo pai do modernismo chinês, Lu Xun 魯迅 (1881-1936), em edição bilíngue.
Já a diretora de direitos internacionais e digitais da editora britânica Michael O’Mara Books, Pinelopi Pourpoutidou, conta que esta foi a sua 11ª Feira Internacional do Livro de Pequim. Então “viajar muito” é a sua primeira resposta quando questionada sobre como vender um livro para a China. “Estar aqui e em outras feiras conversando com eles é fundamental, porque a pesquisa online muitas vezes não ajuda ou não é suficiente”, explica.
Com base nessas e outras conversas, o PublishNews listou algumas dicas de como se aproximar do mercado editorial chinês:
- Até por conta da linguagem escrita em ideogramas, o mercado chinês valoriza muito o design dos livros, da capa ao projeto gráfico;
- Quanto mais informações estiverem disponíveis sobre os autores de cada título, melhor; e melhor ainda se há informações sobre premiações, especializações acadêmicas e outras distinções;
- Traduções para outros idiomas asiáticos, como coreano e japonês, ajudam muito no diálogo;
- A presença nas feiras internacionais é fundamental para ficar alinhado às tendências do mercado chinês;
- Séries de livros (com cinco ou mais títulos) são desejadas, simplesmente pelo fato de chamarem atenção nas livrarias;
- É mesmo difícil tratar de assuntos sensíveis à política chinesa;
- Livros com bandeiras e mapas são um problema por conta de regulações internas sobre o assunto;
- Livros infantis que promovam mensagens positivas e envolvam processos de aprendizagem costumam ir bem nas negociações;
- A próxima tendência deve se consolidar em livros para adolescentes, porque com a recente tendência de diminuição da população, eles serão a faixa etária mais numerosa.
*O repórter viajou a convite da Feira Internacional do Livro de Pequim.