Um acerto de contas sutil, satírico e genuíno
PublishNews, Redação, 11/06/2024
'Juntas e medulas' é um relato de viagem incômodo e honesto que expõe os efeitos da crueldade tanto em quem a sofreu, como em quem a praticou

Em Juntas e medulas (DBA, 224 pp, R$ 74,90 – Trad.: Tito Lívio Cruz Romão), escrito por Walter Kempowski, Jonathan Fabrizius vive em Hamburgo com Ulla, sua namorada sueca, em um apartamento decrépito que sobreviveu aos bombardeiros dos Aliados na Segunda Guerra. Jornalista de meia-idade, Joe, como é conhecido entre os amigos, abandonou os estudos e sustenta-se com a escrita de artigos, além de receber uma quantia mensal do tio fabricante de móveis. Ulla, por sua vez, estuda história da arte e organiza uma exposição sobre a crueldade nas artes plásticas no museu em que trabalha. Quando recebe uma proposta da fábrica de automóveis de luxo Santubara para ir à República Popular da Polônia escrever sobre a rota para um rali de carros, Jonathan hesita entre permanecer em Hamburgo e aceitar o convite para viajar ao local em que nasceu, em 1945, entre os refugiados que fugiam do avanço dos russos, e onde morreu seu pai, um jovem tenente da Wehrmacht alemã. É apenas quando seu relacionamento com Ulla começa a desmoronar que a ideia de voltar às suas origens – e, ao fazer isso, desenterrar os mortos – torna-se mais atraente. Uma vez começado o percurso, Jonathan deve enfrentar não apenas sua história particular, mas o passado como um todo. Por vezes, o sentimento em relação à Polônia comunista manifesta-se como desprezo ou condescendência, em outras, como culpa. O que se segue é uma viagem de carro sombriamente cômica, uma desventura inquietante de turistas da Alemanha Ocidental e um acerto de contas que é sutil, satírico e genuíno. O romance é um relato de viagem incômodo e honesto que expõe os efeitos da crueldade tanto em quem a sofreu, como em quem a praticou.

[11/06/2024 07:00:00]