FILBo é inaugurada com discursos sobre literatura e realidade ambiental no Brasil e Colômbia
PublishNews, Mariana Vilela*, 18/04/2024
Escritora brasileira baiana Luciany Aparecida faz discurso e lembra a importância das narrativas de mulheres negras de origem de vulnerabilidade social na literatura

Autoridades brasileiras e colombianas na abertura da 36ª FILBo
Autoridades brasileiras e colombianas na abertura da 36ª FILBo

Na tarde da última quarta (17) foi inaugurada a FILBo, a Feira Internacional do livro de Bogotá, no recinto Corferias de eventos na cidade de Bogotá, na Colômbia.

Presidente Lula e sua esposa Janja Lula da Silva estiveram presentes na cerimônia junto com o presidente Gustavo Petro e outras autoridades, além da ministra da cultura Margareth Menezes e duas escritoras homenageadas, a espanhola Irene Valejo e a baiana Luciany Aparecida, representando os outros escritores brasileiros homenageados nesta 36ª edição da feira.

O cerimônia aconteceu após o presidente Lula sair do evento empresarial Brasil-Colômbia, onde discursou em torno de 20 minutos e disse que o Brasil fará uma aposta maior em seu governo para que os negócios entre os dois países sejam feitos com maior reciprocidade e na base da parceria. “Que sejam destravados todos os obstáculos que impedem a relação de entre os dois países aliados em busca de fortalecer a América do Sul”.

Já no evento da FILBo, a parceria cultural entre os dois países também foi destacada. Em seu discurso, a escritora Luciany Aparecida, autora de Mata Doce (Alfaguara), fez menção à escritora Maria Firmina dos Reis, a primeira romancista brasileira. Uma mulher negra que escrevia sobre a realidade das pessoas negras saindo do regime de escravidão na primeira metade do século XIX, com personagens complexos e livres. “O que estou dizendo é que podemos ler a natureza por diferentes perspectivas. Assim como Guimarães Rosa também fez em seus livros”.

“Eu venho de um pequeno povoado da Bahia chamado charco, neste lugar aprendi a ler e a escrever, e foram os velhos de minha casa que me ensinaram amar a literatura e a natureza, tudo junto. Ali não tínhamos televisão. Então, da mesma forma que Maria Firmina dos Reis, uma mulher como eu, de origens de lugares de vulnerabilidade social, chegar aqui, na comitiva brasileira como escritora convidada, em minha primeira viagem internacional, é revolucionário”.

Lula e Gustavo Petro
Lula e Gustavo Petro
Em sua fala, o presidente Lula mencionou a importância para o Brasil de ser novamente homenageado pela FILBo, uma das mais importantes feiras da América Latina, depois de 1995 e 2012, mencionando que “retribuiremos a gentileza homenageando a Colômbia na Bienal do Livro de São Paulo em setembro deste ano".

Seguindo o discurso, Lula mencionou alguns escritores que mencionaram a natureza em sua literatura, como Euclides da Cunha abordando a caatinga em Os Sertões e Erico Veríssimo, que narra a realidade dos pampas do Rio Grande do Sul no seu livro O tempo e o vento. Também lembrou de Milton Hatoum em Orfãos do Eldorado, falando do ciclo da borracha e “a loucura da exportação, não só com violência para a natureza mas também para a nossa gente”.

“O Brasil que desejamos não é o da destruição. Queremos transformar a destruição em cidadania e inclusão. Por isso este tema da FILBo, Ler a natureza, é fundamental, pois expõe a dicotomia ocidental dos homens e do mundo da natureza que está em catástrofe climática, que também é a mensagem que transmite nosso querido Ailton Krenak que se encontra presente e participa desta feira, primeiro indígena em mais de 125 anos a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras”

Presidente Lula ainda destacou a transformação pela atual literatura contemporânea brasileira, em que aqueles que foram marginalizados ocupam o seu protagonismo por narrar as suas experiências na literatura. Estão na delegação brasileira escritores como Luciany Aparecida, Daniel Munduruku, Eliane Potiguara, Eliane Marques, Giovani Martins e Jeferson Costa, pessoas indígenas e afrodescendentes. “Este é o magnífico regresso à ancestralidade, como propõe nossa escritora Ana Maria Gonçalves em seu magnífico romance Um defeito de Cor”, disse.

Gustavo Petro fala do problema da Água

O presidente colombiano Gustavo Petro também fez seu discurso após o presidente Lula e mencionou a urgência de se discutir por várias vias a questão da Amazônia, e lembrou da literatura colombiana que já fazia ênfase aos problemas climáticos, no entanto “Não demos a atenção devida”.

A Colômbia está passando por racionamento de água devido à falta de chuvas e a poluição dos rios, de forma que as chuvas são originadas pela selva amazônica que está sofrendo desmatamento e corre perigo, como destacou o presidente Petro, além de mencionar as violências porque passou o país por diversas guerras como as Farc e que agora busca um novo período com o Recente Acordo de Paz e Reconciliação, que foi assinado no ano de 2016 pelo Governo Colombiano e as Farc.

Dessa forma, ambos apostam na Feira Internacional do Livro de Bogotá tendo o Brasil como país homenageado e tema “Leia a Natureza” em busca de apoio mútuo por via da cultura para os problemas sociais e ambientais da atualidade, já que ambos países compartilham a Amazônia e histórias similares de violência social em comum.


* É jornalista e escritora, escreve também em www.jornalistahumanista.com.br e é autora do romance Compulsão de Clarisse, editado pela Penalux.


[18/04/2024 11:00:00]