
Desde o final de semana, o assunto vem ganhando repercussão nas redes sociais e apoio de diversos autores e profissionais do livro.
A diretora de uma escola no município de Santa Cruz do Sul (RS) fez um vídeo criticando o vocabulário "de baixo calão" da obra e um funcionário da 6ª Coordenadoria Regional de Educação chegou a mandar que os exemplares do livro fossem recolhidos das escolas. A Secretaria de Educação do estado posteriormente negou o recolhimento das obras.
Além do caso no Rio Grande do Sul, o Núcleo Regional de Educação de Curitiba mandou recolher os exemplares da obra das escolas públicas. O requerimento foi assinado pela chefe do Núcleo, Laura Patrícia Lopes.
A ordem é para que todos “os colégios sob a jurisdição do NRE de Curitiba realizem a entrega de O avesso da pele até o dia 8 de março de 2024". O ofício alega “a necessidade e a importância da orientação para a realização de encaminhamentos pedagógicos a partir dos livros que fazem parte do Programa PNLD literário, com foco na construção das aprendizagens em cada uma das etapas de escolarização”, porém só a obra de Tenório é alvo do pedido.
Em nota, a Companhia das Letras disse que “ao decidir pelo recolhimento dos livros, a Secretaria de Educação não apenas limita o acesso à informação, mas também mina a autonomia dos educadores e das escolas prevista no PNLD e na legislação educacional. Ela também cerceia a liberdade de pensamento, o direito à educação e à literatura dos jovens”.
Já Tenório lembrou que a obra já foi adotada em centenas de escolas pelo Brasil, venceu o prêmio Jabuti, foi finalistas de outros prêmios, teve direitos de publicação vendidos para mais de 10 países e foi adaptada para o teatro. Além de ser avaliada pelo PNLD em 2021, ainda no governo Bolsonaro. “As distorções e fake news são estratégias de uma extrema direita que promove a desinformação. O mais curioso é que as palavras de "baixo calão" e os atos sexuais do livro causam mais incômodo do que o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras”.
"É importante lembrar que nenhuma autoridade, seja ela diretora, secretário, vereador, deputado, governador ou presidente tem o poder de mandar recolher materiais pedagógicos de uma escola. É uma atitude inconstitucional. É um ato que fere um dos pilares da democracia que é o direito à cultura e à educação", frisou Jeferson em uma rede social.
Confira a repercussão da notícia:
Gente, peço o apoio de todos, todas e todes na assinatura e divulgação deste abaixo-assinado contra a censura ao livro e literatura de @jefempessoa. Vamos juntos? A. https://t.co/9X1FaBplim
— Afonso Borges (@afonsoborges) March 4, 2024
“Me causa sempre espanto”, diz o escritor Jeferson Tenório, autor de “O Avesso da Pele”, sobre diretora de escola no Rio Grande do Sul pedir que o livro seja retirado das salas de aula. “Deveríamos estar preocupados em formar leitores, e não censurar livros”.
Assista ao… pic.twitter.com/uWZI40Fsgu
— GloboNews (@GloboNews) March 4, 2024
Repudio a tentativa de censura e deixo um abraço ao Jeferson Tenório.
Sem meias palavras, sabemos que a censura sempre na verdade oculta os preconceitos e discriminações dos indivíduos e das sociedades que a propõem. Trata-se de um ato de racismo.
Bom dia a todos. pic.twitter.com/uVBYm1P6P2
— Ricardo Lísias (@ricardolisias) March 6, 2024
É um absurdo essa perseguição a O AVESSO DA PELE, de Jeferson Tenório. Todo meu apoio a ele. Sou e sempre serei contra qualquer tipo de censura.https://t.co/1SAivbfWIb
— Veronica Stigger (@veronicastigger) March 6, 2024
Em 2022, Tenório também veio a público denunciar as ameaças de morte que sofreu após o anúncio de uma palestra em uma escola na Bahia.
"O que aconteceu comigo na Bahia e que tem acontecido sistematicamente é reflexo também dessa ansiedade do Ocidente. É reflexo desse medo de perder o privilégio...", disse no Podcast do PublishNews. "Acho que faz sentido a gente dizer que o Brasil prefere ser racista do que ser capitalista", complementa.
Ouça o episódio inteiro: