Arlete afirma que pensou em abrir uma livraria após deixar de trabalhar na FTD. Ela percebeu que não havia nenhuma livraria voltada para livros que falassem de amor — e não apenas o "amor romântico" — e de sexo no Brasil. "Observei projetos como esses no México, na Espanha e na Argentina, mas nada no Brasil", comenta.
"Não tem por que a sexualidade ser vista como suja e seja reprimida. A ideia é dar um lugar para que as pessoas sejam livres para dialogar sobre o tema", afirma. Na busca por um endereço para o espaço, Arlete afirma ter sido negada duas vezes quando os donos dos imóveis descobriram que o projeto seria uma livraria sobre o tema.
A dona da livraria afirma que ainda há muito o que ser "normalizado" sobre o assunto: "Desde a questão da dificuldade de encontrar uma locação e da dificuldade de utilizar algumas palavras nas redes sociais, dá pra ver o quanto o assunto da sexualidade é algo proibido. E não tem o porquê disso. É algo natural do ser humano. E a livraria trata isso com a maior normalidade".
Ela contou ao PublishNews que a Insulto trabalha com cerca de 150 editoras e destaca o relacionamento com as editoras Lacre, Portal Editora, Editora 34, Universo dos Livros, Editora Jandaira e Editora Lote 42. Em torno de 70% dos títulos da livraria são obras de ficção que envolvem uma história de amor, 15% de literatura erótica, sejam romances ou poesias, 10% de sexualidade (inclui tantra/kama sutra) e 5% de obras relacionadas a outras formas de amor que não englobam o chamado amor romântico, como amizade, família e relacionamento e religião. No caso específico de religião, são títulos que abordam, segundo Arlete, a relação da Bíblia e a homoafetividade, ou do gênero "casamento blindado".
O bairro em que a Insulto está localizada tem muita relação com a família de Arlete, de origem croata. Por isso, ela quis manter a livraria no Tatuapé, bairro nobre na zona leste da cidade e que oferece uma vida noturna agitada – mas que ainda não tem uma cultura significativa de livrarias de rua. Ela afirma que, nas redes sociais, é possível notar uma busca e uma curiosidade pelas livrarias de rua.
Dentro da proposta da Insulto, Arlete comenta sobre a "estética de casa de avó" da loja. Ela afirma que não queria que a livraria passasse um ar de "vitrine comercial" e que o espaço tivesse um ar intimista, e que permitisse que pessoas ainda "desconfortáveis com a temática" pudessem se sentir mais confortáveis em explorar as possibilidades dos livros. Da mesma forma que não quis trabalhar a livraria com as cores vermelha e preta, para não associar à estereótipos de amor e de sexualidade.
Um dos diferenciais do espaço é a abertura a autores independentes dentro do segmento de livros eróticos. Além disso, a Insulto conta com uma sessão de livros LGBTQIAPN+, onde os volumes são identificados pelas bandeiras de cada sigla conforme o gênero/sexualidade, ou seja, estão separados por temas lésbicos, transexuais etc. Isso tem agradado bastante o público jovem adulto, conta.
No próximo sábado, dia 16 de dezembro, às 17h, a Insulto promove um evento que falará sobre literatura "hot" em um bate-papo com seis autores de literatura da Editora Lacre, que virão do Rio de Janeiro, junto com a editora Flavia Portela, fazer o lançamento do selo Kama através de apresentação literária da Coletânea Kama – poemas e contos eróticos.
"São espaços que as pessoas procuravam e que não existiam", diz Arlete. A Livraria tem alguns sex toys à venda, mas eles não estão dispostos de forma explícita na loja. A dona da livraria fala que a Insulto também tem a intenção de disponibilizar conteúdo infantil e adolescente, livros que abordam as mudanças no corpo no decorrer da adolescência. Ela afirma que os livros que trabalham com a prevenção de abuso sexual são alguns dos mais procurados, e destaca o título Não me toque seu boboca (Aletria).
*Estagiária sob a supervisão de Guilherme Sobota