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Esses hóspedes sem peso
Publicado pela Nave Editora, o livro de crônicas faz releituras e “reviagens” por todas as regiões do Brasil, do Acre e do Mato Grosso às Alagoas, do Pará e do Paraná ao Espírito Santo, entre tantos estados, com uma seção final "Vidas lidas", incluindo "Causas incidentais da leitura" - uma meditação intertextual sobre a perda da sua mãe - e "Quando o acaso disser o seu nome", reunindo "retratos de familia" atravessados pela leitura das escritoras Isabela Figueiredo, Lina Meruane, Maria Esther Maciel, Sylvia Molloy e Valeria Luiselli.
Em "Reviagens", primeiro capítulo, os percursos do escritor são ilustrados pelas fotografias que fez, recriadas pela escritora-artista Patrícia Galelli, que assina a coordenação editorial da publicação e o projeto gráfico. Segundo Radünz, “Esses hóspedes sem peso é meu livro mais vívido e vivido, em uma linguagem ao mesmo tempo documental, musical, ensaística e intimista. Um livro em que estou 'exposto'”.
Dennis Radünz é mestre em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e autor de "Roça barroca: mundos torrentes" (2021), ensaio que obteve o Prêmio Catarinense de Literatura, e do reconto "Foi no Campo da Dúvida" (2022), selo Altamente Recomendável da FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil). Publicou, entre outros livros, "Cidades marinhas: solidões moradas" (2009), antologia das crônicas semanais no jornal Diário Catarinense, e o volume de poemas "Ossama: último livro" (2016, 2ª.ed., 2018).
Sem os dentes da frente
O desaparecimento dos objetos do apartamento de uma mulher, uma chuva misteriosa sobre um cemitério à beira da privatização, a luta pela sobrevivência de uma nova espécie, o segredo de um casal de búfalos, o testemunho de um anão de jardim, as relações entre divórcio, dentes e autoritarismo.
Esse apanhado de situações serve como um desenho do caminho trilhado por Sem os dentes da frente. A aleatoriedade que o resumo acima sugere, contudo, não passa de ilusão. Segundo Cristhiano Aguiar, “a unidade do livro repousa na utilização da ideia de ausência como elo articulador dos contos”.
“A maior parte das narrativas segue uma mesma estrutura, privilegiando o desenrolar dos fatos e um tempo linear. Aqui e ali, porém, Balbo nos brinda com estruturas mais experimentais, o que acrescenta um bom sabor ao livro, como no conto ‘Os desaparecidos’. Outros contos, como é o caso de ‘Híbridos’, fazem variações do neofantástico típico ao incorporarem ingredientes da ficção científica e do horror”, arremata Aguiar.
Mas se engana quem imagina que, ao trabalhar com atmosferas de horror, o livro seja sóbrio ou circunspecto. Sem os dentes da frente expande as possibilidades do insólito latino-americano ao alimentar os medos e o sobrenatural com toques de sarcasmo e de humor nonsense bastante originais.
Para crítica literária Tammy Ghannam, “Balbo suspende a ordem natural das coisas e nos coloca de cara com o estranho, tão esquisito que nos arranca o riso – ainda que desdentado”.