Bienais do Livro no Brasil são benchmark internacional, diz Tatiana Zaccaro, preparando a Bienal do Livro Bahia 2024
PublishNews, Guilherme Sobota, 14/11/2023
A ser realizada entre os dias 26 de abril e 1º de maio, no Centro de Convenções Salvador, a Bienal 2024 terá curadoria de Joselia Aguiar, Schneider Carpeggiani e Mira Silva

Bienal do Livro da Bahia vai ocorrer entre os dias 26 de abril e 1º de maio de 2024 | © GL
Bienal do Livro da Bahia vai ocorrer entre os dias 26 de abril e 1º de maio de 2024 | © GL
Uma série de circustâncias impediu a Bienal do Livro Bahia de funcionar entre 2010 e 2022, mas o alinhamento de outros fatores permitiu o retorno em 2022. Segundo a diretora da GL Exhibitions, Tatiana Zaccaro, em entrevista ao PublishNews, a demanda de público, imprensa e mercado e a abertura de um novo centro de convenções em Salvador tornaram inevitável o retorno do evento, que pretende crescer em 2024. A ser realizado entre os dias 26 de abril e 1º de maio, no Centro de Convenções Salvador (Av. Octávio Mangabeira, 5.490 – Boca do Rio, Salvador / BA), a Bienal 2024 terá curadoria de Joselia Aguiar, Schneider Carpeggiani e Mira Silva.

Com uma expectativa de público de 90 mil pessoas e de cerca de 150 marcas expositoras, a Bienal pretende atender às demandas de editoras e do público – segundo a diretora, um dos principais feedbacks positivos, dos dois lados, é justamente a oportunidade de estabelecer contatos diretos nos eventos como a Bienal. "Não existe fora do Brasil um evento B2C do livro, que receba centenas de milhares de pessoas assim. Ocorre um movimento de a gente virar benchmark", atesta.

A diretora explica que, diferente do que no Rio, onde o SNEL é sócio, na Bahia o Sindicato é apoiador – e no próximo ano, inclusive, há conversas para que haja ações semelhantes às que se deram no Rio em 2023, como um estande próprio ou programação. O evento como um todo, porém, segue o bem sucedido modelo da Bienal do Rio, também administrada pela GL, centrado em três pilares básicos.

"Respeitando muito as questões locais, acreditamos nos formatos que já temos.", explicou. "Um café literário com ar mais intimista, um espaço maior, uma arena, com autores mais midiáticos, e uma atividade infantil que de maneira lúdica e divertida desperte as crianças para essa imersão leitora para que saiam dali empolgadas com os livros".

Na entrevista, a diretora ainda comentou as questões logísticas que envolvem um evento do livro dessa magnitude na região nordeste, preocupações com sustentabilidade e outros assuntos.

Tatiana Zaccaro | © GL
Tatiana Zaccaro | © GL
PublishNews – Como foi a decisão de voltar com a Bienal da Bahia, qual a expectativa para 2024?

Tatiana Zaccaro – Na verdade, a gente nunca teria descontinuado a Bienal da Bahia. Aconteceu um fato muito infeliz em Salvador. O antigo Centro de Convenções foi interditado pela Defesa Civil. Com a amplitude do evento, a Bienal recebe milhares de pessoas, tem que ter espaços de programação, espaços de logísticas, tem especificidades que demandam um espaço necessário. A cidade ficou 10 anos sem um Centro de Convenções, e nada que atendesse a necessidade da Bienal. Aí em janeiro de 2020 foi inaugurado o novo espaço, e voltaríamos com ela em 2020, mas por conta da pandemia só conseguimos realizar ano passado. Fizemos (a GL) a última edição 13 anos atrás, e foi uma excelente surpresa, em 2022, o desejo do público, do mercado e da imprensa. A gente sabia que existia, mas mesmo assim foi tão forte que ficamos surpresos. O evento ficou esgotado quase todos os dias, tivemos visitação escolar muito forte e aderência enorme dos autores convidados da programação oficial. Muita gente querendo somar esforços para fortalecer o evento e marcar o retorno. A ideia é fazer crescer ainda mais em 2024 e atender mais pessoas, principalmente nas áreas de conteúdos prioritários nossos.

– No Rio, há a parceria do SNEL, como funciona na Bahia?

O SNEL é apoiador na Bahia, a diferença é que no Rio somos sócios, na alegria e na tristeza (risos). Estamos conversando e eles provavelmente terão algumas atividades próprias também, como houve no Rio neste ano. Tanto o SNEL quanto algumas editoras, acredito, sentiram a necessidade de estar com presença mais forte no nordeste.

– O foco é levar as grandes editoras (que geralmente têm sede no Rio ou em São Paulo) para lá ou trabalhar com as casas locais?

Um pouco de tudo. A gente respeita muito as especificidades locais na construção do evento. Tem muito mais forte do que no sudeste, por exemplo, a questão do cordel, então tem muitas editoras e autores nesse nicho. Para as editoras locais, é muito difícil para elas participarem das bienais no sudeste por conta da logística. Sobre as editoras que ficam no eixo sul e sudeste, trabalhamos com algumas para levá-las. Existe uma cobrança muito grande do público para que elas não estejam apenas nos eventos do sudeste.

– Porque há uma questão de viabilização desse processo, não há? Como se dá essa negociação?

Normalmente, as editoras contam com apoio e parceria do distribuidor local no nordeste. Normalmente, não vai uma equipe inteira – aliás, como já acontece em Rio e São Paulo. Muitas editoras já trabalham com distribuidores na Bienal. A parte de venda de livros na Bienal é um shopping pop-up, e isso não é o core business da editora. Caixa, sistema de venda, estoque… a distribuidora sim está muito mais próxima disso. A cada Bienal, você vê mais e mais vezes essa presença. Comercial e marketing das editoras sempre estão no dia a dia, as editoras não abdicam de estar na ponta com os clientes, esse contato é sempre apontado pra gente como uma grande vantagem desses eventos, por ambos os lados. Mas muitas vezes essa parte sistêmica é operada por distribuidores para as grandes editoras. Isso se torna mais necessário ainda em outros lugares.

– Há a perspectiva de levar o evento para outras cidades também?

Neste momento, não. Mas sempre estamos abertos a oportunidades, óbvio.

– Sobre o modelo do evento, a ideia é seguir com o modelo do Rio? Expositores, vendas de livros, programação com autores que chamam público?

É o modelo que a gente acredita. Respeitando todas as peculiaridades, a gente procura que os curadores sejam de lá. Trazer autores que não estejam no cenário nacional, grandes nomes e obras locais, isso é fundamental. Temos equipe de conteúdo, construímos junto a programação, mas tem esse elemento. Fora as questões locais, acreditamos muito nos formatos que já temos. O café literário com ar mais intimista, um espaço maior, uma arena, com autores mais midiáticos, e uma atividade infantil que de maneira lúdica e divertida desperte as crianças para essa imersão leitora, para que saiam dali empolgadas com os livros. São os três pilares.

– Os modelos brasileiros de Bienal já estão bem consolidados, existe um acúmulo, digamos assim. Existem eventos estrangeiros, por exemplo, que possam servir de modelo, ou práticas adotadas em eventos semelhantes em outros países que estão no radar?

A gente está sempre de olho. Tem um evento que não existe mais em Nova York, a BookCon, que tem uma leve inspiração para o trabalho que construímos de ir para além do livro. A gente olha uma coisa de um e de outro, mas, com muita satisfação, o que a gente tem no Brasil é um case. Não existe fora do país um evento B2C do livro, que receba centenas de milhares de pessoas, etc. Ocorre um movimento contrário, porque a gente vira benchmark.

– Apesar desse modelo bem consolidado, a gente vê algumas questões surgindo e se incorporando nos últimos anos. Por exemplo, na Bienal desse ano a gente já ouviu algumas editoras anunciando e falando sobre assuntos como sustentabilidade nos estandes. Como essa preocupação aparece para a GL?

Para a gente, enquanto grupo GL, é um pilar muito importante o ESG. A gente vem caminhando, na empresa como um todo, nesse sentido. Na Bienal, o Social sempre foi um pilar muito forte. Já há algumas edições sempre fizemos um trabalho muito grande interno. Esse ano, divulgamos um pouco mais coisas que já vínhamos fazendo, mas também coisas novas. Fizemos coleta seletiva com ONGs com famílias em situação vulnerável, por exemplo. Visitas guiadas com tradução de libras mas também para pessoas com deficiência visual todos dias, parcerias com o Instituto Benjamin Constant, etc. Esse ano a Bienal do Livro pela primeira vez fez a neutralização de carbono do evento. Estamos sempre preocupados com o que podemos melhorar. Em relação a eventos, ainda temos no Brasil uma questão muito forte de estandes de marcenaria, que não se vê em feiras internacionais.

[14/11/2023 09:30:00]