O programa Livro do Mês, que se seguirá à entrega do prêmio, acontece no âmbito do Plano Anual Academia Mineira de Letras – AML (PRONAC 220355), realizado mediante a Lei Federal de Incentivo à Cultura, com patrocínio do Instituto Unimed-BH – por meio do incentivo fiscal de mais de cinco mil e trezentos médicos cooperados e colaboradores – e da Cemig. Na trama de Caruncho (Impressões de Minas), o livro premiado, um maestro precisa reger um concerto com uma violoncelista, que foi sua aluna no passado, e recebe a notícia de que ela vai desistir da carreira de musicista em seu auge, aos trinta e cinco anos de idade – e está feliz com isso. Uma violoncelista fala a um homem que enlouqueceu, sobre um festival do qual participaram há dez anos e onde se desdobraram conflitos que a afastaram de um amigo em comum dos dois, o maestro. Nesta inversão – um homem doente que deseja continuar, uma mulher em plena força que compõe uma desistência feliz – erguem-se questões a respeito de hierarquias, poder e deterioração: de corpos, de sanidades, de instituições.
Apesar de essa não ser a primeira imersão de Laura num universo ficcional da música, a escritora relata que, às vésperas do lançamento, se questionava por ter escrito esses dois personagens tão diferentes dela. “É como se eles não me dissessem respeito. Quem sou eu para escrever sobre esse homem e sobre essa mulher? Eu escutei o suficiente para construir esses dois de forma real e plausível? O que eu sei sobre o ambiente musical? Eu não toco instrumento musical algum, posso falar sobre música? Para que serve a literatura, se não para conseguirmos sair da nossa pele, conseguir se tornar o outro? Um outro que deforma a mim mesma”, explica a escritora e editora belo-horizontina, Laura Cohen.
Mestre em Estudos Literários pela FALE/UFMG, Laura Cohen Rabelo já publicou outros três romances: História da Água (Impressões de Minas), Ainda (Leme) e Canção sem palavras (Scriptum), além dos livretos de poesia Ferro (Leme) e Escrever é uma maneira de se pensar para fora (Leme).
Sobre o diferencial do Prêmio Academia Mineira de Letras, que também premeia a editora, a vencedora Elza Silveira comenta: “Na maioria das vezes, os leitores não percebem as inúmeras escolhas que são feitas para que, no final, o livro fique bonito e confortável para a leitura. Reconhecer o trabalho das editoras é também reconhecer que o livro faz parte de uma larga escala cultural, social e econômica, é valorizar os protagonistas que fazem parte de todo esse processo”.
Em 2010, Elza conta que ela e seu sócio Wallison Gontijo assumiram a pequena gráfica de seu pai, Osvaldo Silveira, e compraram, além das máquinas que ele tinha, uma impressora offset capaz de potencializar a produção de livros. “A ideia era que a Impressões de Minas fosse, aos poucos, se tornando uma editora que tivesse uma oficina gráfica para que toda a produção do livro fosse feita no mesmo lugar: da preparação dos originais à impressão. Desde então, essa produção foi potencializada e a editora cresceu”, conta.
O valor do prêmio da Academia Mineira de Letras é de R$100 mil, sendo R$60 mil destinados ao autor e R$40 mil à editora. A comissão julgadora foi presidida pelo Secretário Geral da AML, J.D.Vital, e composta ainda por Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, Humberto Werneck, Maria Antonieta Antunes Cunha, Maria Esther Maciel, Olavo Romano, Wander Melo Miranda que receberam, de acadêmicos da instituição, sugestões de obras já publicadas entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2022, por autores mineiros ou residentes há pelo menos cinco anos no Estado.
Segundo o presidente da AML Jacyntho Lins Brandão, realizar a primeira edição do prêmio demonstrou como o último ano foi rico em termos de publicações excelentes. Foram ao todo 12 obras sugeridas pelos acadêmicos. Cada jurado deveria fazer duas indicações. “Caruncho foi escolhido por unanimidade pela comissão julgadora e acredito que representa bem essa riqueza, destacando-se pela temática, pelo domínio das estratégias narrativas e pelo estilo maduro e contemporâneo”, comenta.