Um dos painéis da Feira do Livro de Frankfurt na quarta-feira (18) reuniu editores independentes e representantes da Alemanha, Taiwan, Brasil e África para darem um panorama dos mercados dos seus países e contar sobre os desafios de pequenas editoras.
A importância da colaboração foi o consenso entre todos os integrantes do painel. Segundo eles, se juntar a outras editoras que vivem situações parecidas e usá-las como uma rede de apoio pode fazer toda a diferença na hora de empreender tendo um negócio menor.
Tom Kraushaar, diretor editorial da alemã Klett-Cotta, disse que um dos seus esforços é criar um relacionamento com editoras internacionais para aprender e ter uma visão mais ampla de outros mercados. Com uma editora com boa visibilidade na Alemanha, para Kraushaar, é muito importante que as editoras independentes trabalhem no seu perfil e na sua marca. “Personalidade é o ponto mais fascinante das empresas independentes”.
Direto de Taiwan, Sharky Chen, fundador da Comma Books, contou que sua empresa foi um presente que ganhou, mas que “se arrepende muito”, brincou, tirando risos da plateia. É que em Taiwan o mercado editorial passa por um momento complicado e a maioria das editoras são pequenas, com menos de cinco funcionários. “Por isso a colaboração é tão importante”, disse.
Chen contou ainda que ele e seus amigos criaram uma associação dos editores independentes que atualmente tem 40 membros. O objetivo do grupo é trocar informações sobre qual a melhor maneira de publicar, saber quem são as melhores gráficas e os melhores fornecedores, por exemplo.
Representando o Brasil, Sevani Matos, diretora-geral da VR Editora e presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), deu um panorama do mercado editorial brasileiro ao explicar sobre a importância dos programas governamentais para compras de livros, o crescente papel das redes sociais, principalmente o TikTok na venda de livros, e a atuação da Amazon no país.
Outro ponto tocado por Sevani foi sobre a importância das feiras literárias nas cidades brasileiras e sobre como a CBL tem atuado para apoiar essas iniciativas.
Otieno Polycarp, da Sol Kids Africa, baseada em Nairobi, compartilhou que no seu mercado, a colaboração também é a chave. “Tentamos colaborar com a maior quantidade possível de editoras independentes e livrarias. Queremos manter viva a nossa cultura, esse é nosso principal desafio”, disse o editor, que publica obras infantis.
E sobre as bibliotecas?
Outro painel na Feira abordou a situação das bibliotecas tendo como ponto central a pergunta: há livros suficientes nas bibliotecas públicas?
Frauke Untiedt, membro da Associação de Bibliotecas Alemãs e diretora da Biblioteca Pública de Hamburg, foi categórica em sua resposta: “Nunca há livros suficientes nas bibliotecas públicas, sempre tem que haver mais”.
Ao apresentar uma pesquisa com dados dos últimos anos envolvendo diversas bibliotecas, Tim Coates, lead investigator for the Freckle Project, mostrou que o número de obras nesses espaços públicos caiu consideravelmente nos últimos 20 anos. Segundo apresentou no painel, nos EUA, o estoque de livros em bibliotecas caiu para 155 milhões de livros desde 2008. Antes dessa marca, o número chegava a quase 300 milhões de obras.
Para Coates, ações devem ser tomadas para minimizar a situação como, por exemplo, aumentar os gastos da biblioteca com livros, especialmente livros impressos – ação que ele reconhece ser difícil de ser executada; redobrar a atenção com a curadoria; rever “gestão de cobrança”; fornecer mais informações sobre acervos, circulações e contagem de entradas para autores, editores e o público; e buscar ativamente o crescimento no uso da biblioteca, especialmente por crianças.
Indo na direção contrária do que Tim apresentou, Frauke compartilhou que na Biblioteca de Hamburg, uma das mais importantes na Alemanha, o número de visitas não caiu, pelo contrário, está aumentando.
Por outro lado, o número de livros segue mesmo em queda. “E o livro que não for lido pelas pessoas, não fica. Temos sempre que renovar o que temos”, disse. Ainda segundo Untiedt, em Hamburg, até as crianças que querem usar a biblioteca precisam pagar, “Acredito que é por isso que as pessoas realmente vão e usam a biblioteca”. “Agora precisamos entreter mais as pessoas do que antes. Isso significa que temos que investir em tecnologias e novas maneiras de chamar a atenção do leitor. Temos que facilitar a entrada dos leitores”, concluiu.