Flima chega a 6ª edição com mais de 100 atividades e homenagem a Ailton Krenak
PublishNews, Redação, 04/10/2023
Festa Literária da Mantiqueira traz 11 mesas literárias, lançamentos de livros e filmes, estreias teatrais, mostra audiovisual indígena, 30 sessões de autógrafos, além de diversas atividades em torno do livro e da leitura

Flima © Divulgação
Flima © Divulgação
Com o tema "Sonhar, imaginar, transformar", a Flima – Festa Literária da Mantiqueira chega à sua 6ª edição, a maior em diversidade de atividades e número de participantes desde seu início. Com homenagem ao escritor e ativista indígena Ailton Krenak, a Festa ocorre no feriado prolongado do Dia das Crianças, de 12 a 15 de outubro (quinta a domingo), em Santo Antônio do Pinhal, cidade localizada a duas horas de São Paulo. Todas as atividades da programação são gratuitas.

“Essa é a Flima mais democrática, inclusiva e diversa que já fizemos”, conta Roberto Guimarães, idealizador e curador da festa. Em relação ao tema, ele explica que “os últimos anos foram asfixiantes e complicados demais; além de emergência climática, pandemia e ascensão da extrema direita no Brasil e no mundo. Mais do que nunca, é preciso voltar a sonhar!”. E emenda a escolha pelo tema do sonho: “alguns povos indígenas entendem o sonho como fonte de conhecimento. Como diz nosso homenageado, Ailton Krenak, o futuro é ancestral”.

"Com relação aos ‘paraquedas’, explica: Em Ideias para adiar o fim do mundo, Krenak sugere que a gente construa, com ciência e arte, paraquedas coloridos para aproveitar a queda, que é inevitável. Foi com esta inspiração que pensamos o festival este ano!”, finaliza o curador.

Cortejo de abertura e show de abertura

Patrimônio Cultural Imaterial de São Bento do Sapucaí, o Bloco do Zé Pereira abre a Flima no dia 12 de outubro, a partir das 10h. O seu tradicional cortejo, que há mais de 100 anos arrasta gerações pelas ruas da cidade, irá irromper a programação da festa com seus bonecos gigantes, mostrando que a diversidade dará o tom desta edição. Logo após, às 11h30, acontece o show de abertura Brasileirinhos – Música para os Bichos do Brasil, com Paulo Bira (violão e voz), Kennya Macedo (voz), Beto Sporleder (sax, flauta e voz), Bruno Iasi (bateria) e Caio Goes (baixo). As músicas tratam, com leveza e humor, curiosidades sobre animais da fauna brasileira que correm risco de extinção.

Lançamentos de livros

“Mulher, negra, pobre e caipira", a escritora, tradutora, professora, jornalista e pesquisadora da cultura popular Ruth Guimaraes, falecida em 2014, terá o seu livro de crônicas Marinheira no mundo (Primavera Editorial) lançado na Flima, dia 12, quinta-feira, às 17h. Com a presença dos seus filhos Júnia Botelho e Joaquim Maria Botelho (organizador da obra), a mesa "Crônicas de uma observadora-vivente – o Brasil pelo olhar de Ruth Guimarães" terá mediação de Camilla Dias. Ruth foi a primeira escritora brasileira negra a ter reconhecimento nacional, com o romance Água Funda, de 1946, além de ter nascido e sido criada no Vale do Paraíba, região próxima à Mantiqueira.

Outro lançamento na Flima é da escritora Karin Hueck. Ela publica seu primeiro romance na festa, A segunda mãe (Todavia), uma obra distópica que revela, num pano de fundo de uma crise conjugal de duas mulheres, as diversas formas de opressão na sociedade. No dia 13 de outubro, sexta, às 19h30, a autora conversa com o escritor Joca Reiners Terron com mediação de Vanessa Passos sobre o tema “Para além do realismo – sonho e pesadelo na literatura não-realista”.

Além dos lançamentos, haverá sessões de autógrafos de livros que acabam de ser lançados e estão em turnê pelo Brasil. É o caso de A fé e o fuzil: crime e religião no Brasil do século XXI (Todavia), de Bruno Paes Manso, que terá o segundo lançamento nacional feito na Flima. Gambé (Cia das Letras), de Fred D Giacomo, terá também seu segundo lançamento com sessão de autógrafos. A escritora Natalia Timerman, Lilia Guerra, entre muitos outros, também farão sessões de autógrafos com suas obras recém-lançadas.

Mesas literárias com escritores e jornalistas

São 11 mesas literárias no total com a participação de escritores, jornalistas e pesquisadores. Com a tradição de olhar para o território em que está inserida e pensar nas questões ambientais acerca do mundo, a Flima traz, em sua mesa de abertura, o tema 'Puris da Mantiqueira e caiçaras de Ubatuba', dia 12 de outubro, quinta-feira, às 15h. Com Aline Rochedo Pachamama e Adilson Zambaldi e mediação de Roberto Guimarães, curador da festa, a conversa vai tratar das questões e interlocuções entre o povo puri da Mantiqueira e os caiçaras do litoral norte. A historiadora Aline Rochedo Pachamama vai falar sobre a vida deste povo originário da Serra da Mantiqueira antes da chegada do homem branco e como está a vida da comunidade hoje. O escritor Adilson Zambaldi acaba de lançar “Tronco de canoa” (Reformatório, 2023), obra ficcional que retrata a sua imersão em mais de 100 comunidades caiçaras de Ubatuba.

Em "A arte de falar sobre livros nas redes sociais", mesa que acontece dia 13 de outubro, sexta-feira, às 15h, a assistente social Camila Dias, e o jornalista, colunista da UOL e escritor Rodrigo Casarin – que acaba de lançar A biblioteca no fim do túnel: um leitor em seu tempo (Arquipélago) –, conversam sobre a era dos livros nas redes sociais, espaço na imprensa, crítica literária e outros temas com mediação do jornalista Lino Bocchini.

Sidarta Ribeiro, referência no estudo do sono e do sonho no Brasil, estará na mesa "Sonhos, psicodélicos e (cosmo) visões", sexta-feira, dia 13, a partir das 17h, ao lado de Marcelo Leite, um dos principais jornalistas científicos do país, colunista da Folha de São Paulo e autor de Psiconautas: viagens com a ciência psicodélica brasileira (Fósforo, 2021). Nesta conversa, eles vão tratar da importância de sonhar coletivamente com o futuro do planeta, por meio dos ensinamentos de cientistas, pajés, xamãs, mestras e mestres de saber popular, artistas e inventores, dialogando diretamente com a temática da Flima. E vão falar também dos caminhos de autoconsciência e poderes curativos dos psicodélicos e da maconha.

Em "Imagens e fraturas de um país múltiplo", mesa que acontece dia 14 de outubro, sábado, às 15h, a escritora e jornalista Marilene Felinto conversa com o também escritor e jornalista Fred Di Giacomo Rocha, com mediação da jornalista Adriana Ferreira Silva. Nascida em Recife, Marilene lançou, em 2022, Mulher feita (Fósforo), e é autora do consagrado “As mulheres de Tijucopapo”, que lhe rendeu o Prêmio Jabuti de Autora Revelação, em 1982, aos 22 anos. Fred Di Giacomo é nascido em Penápolis, extremo oeste paulista, autor dos romances Desamparo (Reformatório), finalista do Prêmio São Paulo de Literatura de 2019, e Gambé (Companhia das Letras), “uma história pensada nos termos de um Mano Brown e contada no espírito de Guimarães Rosa”, que acaba de ser lançado.

No sábado, dia 14, às 17h, o jornalista Bruno Paes Manso, também pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, autor de República das milícias (Todavia), conversa com o cientista político e antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública, autor de Elite da Tropa (Objetiva)- livros que deram origem aos filmes Tropa de Elite. O tema da mesa será 'Fato e ficção no Brasil do século 21;, com mediação da jornalista Marcella Franco.

Natalia Timerman, também médica psiquiatra, autora do recente As pequenas chances (Todavia), participa da mesa 'Narrativas que dialogam com a memória coletiva', no dia 14 de outubro, sábado, às 19h. Seu primeiro romance, Copo vazio (Todavia), foi considerado pela revista Quatro Cinco Um como um dos melhores do ano, além de ter sido um dos mais vendidos do período. Com ela, estará o escritor e crítico literário Julián Fuks, considerado um dos 20 melhores jovens escritores brasileiros pela Granta, em 2012, cujo livro mais recente, Lembremos do futuro (Cia das Letras), de crônicas, é semifinalista do Prêmio Oceanos.

Na programação da Flima, também haverá shows, estreias teatrais, lançamento de filme e mostra audiovisual. Intitulada “Narrativas Originárias, Imagens e Oralidade: cinemas de autoria indígena”, a mostra de filmes indígenas tem curadoria da antropóloga, documentarista e organizadora do festival Fórum Doc.BH Júnia Torres.

Ailton Krenak, o autor homenageado

Mantendo a tradição de celebrar autores vivos e brasileiros, neste ano o homenageado é Ailton Krenak. Membro da Academia Mineira de Letras, ativista do movimento socioambiental, filósofo, poeta e escritor da etnia indígena crenaque, Krenak é doutor honoris causa pela Universidade Federal de Minas Gerais e recebeu a Ordem de Mérito Cultural da Presidência da República, em 2015. É considerado uma das maiores lideranças indígenas no Brasil. Seu pensamento original está em livros que se tornaram clássicos instantâneos, como Ideias para adiar o fim do mundo (2019), A Vida Não é Útil (2020) e Futuro Ancestral (2022), publicados pela Companhia das Letras e lançados em mais de 10 países.

A programação completa pode ser acessada no site.

[04/10/2023 11:00:00]