
“Hoje é 7 de setembro e não vou ser ameaçada por um golpe. Não preciso ficar entendendo mensagens de ódio. Vou conversar sobre livros e Amazônia com pessoas que respeito. Estou muito feliz”, desabafou a jornalista e escritora Miriam Leitão, autora do novo Amazônia na encruzilhada: o poder da destruição e o tempo das possibilidades (Intrínseca).
Ela participou de uma mesa com Eliane Brum e Márcia Kambeba, mediada pela também jornalista Cristina Serra. Intitulada “Amazônia Agora e Sempre”, a mesa fez parte de uma proposição da curadoria da Bienal de discutir um “redescobrimento” do Brasil, e “mobilizar o público sobre o que amamos (ou não) no país, 'refundando' um lugar de escuta, empatia, propósito e transformação”.
Laurentino Gomes, Ailton Krenak e Ynaê Lopes dos Santos são outros autores que participaram das mesas ao longo do dia, sob a mesma égide.
Durante o painel no início da tarde, Miriam, Eliane e Marcia concordaram que a discussão sobre a Amazônia é urgente e a mais importante do Brasil de hoje. “Ir para lá e estudar sobre a Amazônia foi o caminho para entender o Brasil”, disse Miriam. “É ali que vamos definir o que queremos de verdade, se queremos ser civilização ou barbárie. Se vamos continuar o genocídio ou se vamos entender a contribuição dos povos indígenas”, afirmou.
Ela contou que novo livro nasceu da urgência. “Estamos saindo de um momento de um ataque direto à floresta”, comentou, sobre o contexto político. “Se tivesse sido outro o resultado da eleição, outro resultado do 8 de janeiro, a Amazônia estaria mais perto do perigo. Tivemos outra chance”.
Para ela – com uma carreira de 51 anos no jornalismo, boa parte deles dedicado à área da economia – quem tem que “ceder” na discussão entre economia e meio ambiente é a economia. “É preciso entender o recado forte do meio ambiente. Há formas importantíssimas de desenvolvimento da Amazônia, mas nenhuma delas passa pelo caminho da destruição. O caminho da destruição é a tragédia. Não podemos pensar em hidrelétrica para desenvolvimento. É um debate que precisa acontecer agora”.
Para Marcia – escritora, compositora, educadora e doutoranda em Letras pela UFPA, autora de Saberes da floresta (Jandaíra) –, é preciso uma compreensão mais abrangente das diferenças para um destino melhor para o país. “A Amazônia é uma grande mãe, que abraça todos os povos. Ela é plural. Não podemos olhar para a Amazônia só com o olhar ambiental, temos que ter um olhar para além. É preciso criar uma relação intrínseca de pertencimento com ela. Enquanto não criar, compreendendo que somos Amazônia, vamos continuar fazendo o mesmo de sempre”, avisou.
Eliane Brum, autora e jornalista, criadora da plataforma de jornalismo Sumaúma, baseada em Altamira (PA), abordou os aspectos da linguagem para falar sobre o mesmo ponto. “A linguagem que nos trouxe ao momento de mutação climática, em que uma minoria de humanos transforma a forma e o clima do planeta, essa linguagem não vai nos tirar do abismo”, afirmou. “Precisamos nos transformar em outra linguagem, daqueles que não se separaram da terra, daqueles que são natureza. Se ‘amazonizar’ é isso – não é a linguagem patriarcal, eurocêntrica, masculina, binária, que nos trouxe até o abismo, que vai nos tirar dele. A gente precisa se tornar outra linguagem”.
Laurentino, Ynaê e a Independência
Em outra mesa, já no fim do dia, Laurentino Gomes e Ynaê Lopes dos Santos falaram sobre o que fica de fora do “quadro” (literal e figurativamente) da Independência, em um painel mediado pelo jornalista Tiago Rogero.

Para Laurentino, autor da recente trilogia Escravidão (Globo Livros), agora também adaptada para uma edição ilustrada voltada ao público jovem, a maneira como a história é construída, narrada e interpretada serve para justificar uma estruturação de poder. “Há uma construção de que a Independência foi um processo pacífico, sem luta, sem participação popular… O império tenta se legitimar como suavizador de conflitos, manutenção de tranquilidade. Na verdade, houve uma guerra de independência. Houve sangue, houve sofrimento. Muita gente morreu lutando pela Independência. O Brasil do século 19 é uma miragem. Tenta se vender como imperial, uma monarquia parlamentarista, com partidos que se revezavam no poder, arquitetura imperial, uma nobreza tropical… mas a realidade era de pobreza, escravidão, analfabetismo, muito isolamento”.
O jornalista – que diz escrever livros-reportagem sobre a história do Brasil – considera a escravidão o assunto mais importante nesse contexto. “Não é possível entender nada sobre o Brasil (passado, presente e futuro) sem observar a escravidão. O país é construído para a manutenção de um sistema escravista”, observou.
Bienal vai até o dia 10
A expectativa é de que aproximadamente 600 mil pessoas circulem nos dez dias de Bienal do Livro Rio – que acaba neste domingo, 10 de setembro, e conta com tradução em libras, transmissão simultânea online e nos telões nos jardins do Riocentro.

- 10h - Infantil - MESA DO AUTOR - MARCOS CAJÉ
- 11h - Palavra-Chave - COM OUTROS OLHOS, com Thalita Rebouças
- 11h - Infantil - PALCO ANIMADO - LONA NA LUA APRESENTA DOM QUIXOTE
- 12h - Café Literário - NA RUA A GENTE SE ENCONTRA
- 12h - Infantil - MESA DO AUTOR - STELLA MARIS REZENDE
- 13h - Palavra-Chave - FANFICS: DA INSPIRAÇÃO À PUBLICAÇÃO
- 13h - Infantil - PALCO ANIMADO - LONA NA LUA APRESENTA DOM QUIXOTE
- 14h - Infantil - MESA DO AUTOR - KIUSAM DE OLIVEIRA
- 14h - Café Literário - RÁDIO NOVELO E A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS
- 14h - Estação Plural - CONVERSA COM DEIVE LEONARDO
- 15h - Palavra-Chave - NAS ESTRELAS E NAS CARTAS
- 15h - Infantil - PALCO ANIMADO - LONA NA LUA APRESENTA DOM QUIXOTE
- 16h - Café Literário - QUEM TEM MEDO DE VOCÊ, IA?
- 16h - Infantil - MESA DO AUTOR - ANDREA TAUBMAN
- 17h - Infantil - PALCO ANIMADO - LONA NA LUA APRESENTA DOM QUIXOTE
- 17h - Palavra-Chave - PLAY9 EM: COMO ESCOLHEMOS CONTAR HISTÓRIAS?
- 18h - Café Literário - SEXTOU COM SIMAS
- 19h - Palavra-Chave - CONVERSA ENTRE GERAÇÕES