
Entre elas, estão Heliogabalo ou O anarquista coroado e Para dar um fim no juízo e deus (N-1 Edições), de Antonin Artaud, dramaturgo e poeta francês cujas peças foram encenadas pelo Teatro Oficina ao longo dos anos. Em 1998, a Editora 34 lançou Primeiro ato: cadernos, depoimentos, entrevistas (1958-1974), com textos de Zé Celso e organização de Ana Helena Camargo de Staal, considerado até hoje um dos principais documentos da fase inicial do Oficina.
Em 2008, a Azougue Editorial publicou Encontros: Zé Celso Martinez Correa, com organização de Karina Lopes e Sergio Cohn, volume inédito de suas entrevistas com um olhar amplo sobre sua vida e obra.
Em uma entrevista ao Estadão, em julho de 2020, durante o isolamento imposto pela pandemia, Zé Celso disse que estava escrevendo um livro sobre a história do Oficina. "É sobre a origem da nossa tragicomédia-orgia do Oficina. Enquanto Nietzsche se inspirou na ópera – ele adorava a Carmen, de Bizet – vou me inspirar nos batuques e no candomblé. Para mim, música não é espírito. É corpo”, disse na ocasião.
Entre os livros sobre o Oficina em si, alguns destaque são Oficina: do teatro ao te-ato, de Armando Sérgio da Silva (Perspectiva, 1981) e Teatro Oficina de São Paulo – Seus dez primeiros anos (1958-1968) (Yendis, 2006), de Renan Tavares. As Edições Sesc também lançaram o projeto arquitetônico de Lina Bo Bardi no volume Teatro Oficina, com textos de Lina Bo Bardi, Edson Elito e Zé Celso.
Zé Celso, vida e obra
Nome fundamental da dramaturgia nacional e personagem central da cultura brasileira, Zé Celso (1937-2023) trabalhou com o material mais rico da nossa literatura e era um apaixonado por livros. Ele foi diretor, escritor, ator e dramaturgo, e morreu aos 86 anos nesta quinta (6), em São Paulo. Um incêndio, supostamente causado por um aquecedor elétrico, atingiu seu apartamento na madrugada de terça (4), no bairro do Paraíso. O dramaturgo estava internado no Hospital das Clínicas.
Nascido em Araraquara (SP), Zé Celso estudou direito no Largo de São Francisco, em São Paulo, onde conheceu Renato Borghi e Amir Haddad e criou o Teatro Oficina, ainda no final dos anos 1950. A década de 60 viu a profissionalização da companhia e a sua integração completa ao Tropicalismo, do qual foi ferramenta central. Perseguido pela ditadura militar e pelo conservadorismo, Zé Celso teve de se exilar, não sem antes ser preso e torturado. Na volta ao Brasil, no fim dos anos 1970, ele passou a se dedicar também à formação de artistas e redobrou seu ativismo político, em defesa da democracia e também do próprio Teatro Oficina, tombado como patrimônio histórico na mesma época.
No início dos anos 1990, o prédio do Oficina passa por uma reforma a partir de um projeto de Lina Bo Bardi, que depois foi considerado um dos melhores do mundo na imprensa estrangeira. Desde então, Zé Celso defendia de maneira veemente a preservação do espaço e do terreno ao lado, no bairro do Bixiga, em São Paulo, alvo constante da especulação imobiliária (embora a questão ainda não esteja totalmente resolvida, Zé Celso ganhou a longa batalha que travou nas última décadas).
Nos últimos anos, o dramaturgo se dedicou a revisitar obras que havia encenado com grande sucesso no passado, como O rei da vela e Roda viva, e também colocou no palco clássicos como Esperando Godot, de Samuel Beckett, e o Fausto, de Christopher Marlowe (1564-1593).
Há um mês, no dia 6 de junho, Zé Celso teve o seu ato final em uma cerimônia no prédio do Teatro Oficina: ele se casou com Marcelo Drummond, seu companheiro há 37 anos, em uma festa com amigos e amigas do teatro e da política cultural.
Veja a repercussão entre profissionais ligados ao mercado editorial:
O tempo provou q Zé Celso estava certo em todas as batalhas estéticas, morais e políticas q travou. Sorte q ele pôde saber disso em vida. RIP
— Michel Laub (@michellaub) July 6, 2023
Obrigados por tudo, Zé Celso!
Uma pessoa como você nunca morre. pic.twitter.com/VoIq0uEIAi
— Veronica Stigger (@veronicastigger) July 6, 2023
Embora o papel no teatro do Zé Celso seja obviamente imensurável (certamente é o principal nome do teatro brasileiro), ele deve ser visto em uma perspectiva maior, a de toda a arte brasileira. E nesse caso ele tem a mesma estatura de Glauber Rocha, Machado de Assis, +++ pic.twitter.com/2LQ8ElD100
— Ricardo Lísias (@ricardolisias) July 6, 2023
Até a sua morte se deu em gênero teatral: a tragédia. Viva eternamente #JoséCelso https://t.co/aKW0B83yKH
— Afonso Borges (@afonsoborges) July 6, 2023
O Zé Celso sempre esteve no DNA dos Satyros. Desde o início. Antes do início, até. Quando eu conheci o Rodolfo, lá em 1989, foi o Zé quem nos aproximou. O Rodolfo estava no mestrado, nas Ciências Sociais da USP, pesquisando o Teatro Oficina. E uma das intersecções de seu trabalho… pic.twitter.com/eDhxdk1BdS
— Iᴠᴀᴍ Cᴀʙʀᴀʟ (@ivamcabral) July 6, 2023
Com enorme generosidade, José Celso Martinez Corrêa nos emprestou a sua arte para a ajudar a fazer do Museu da Língua Portuguesa um lugar mágico de valorização da identidade brasileira através do encontro com a palavra. pic.twitter.com/wWncGZFSLF
— Museu da Língua Portuguesa (@MuseudaLingua) July 6, 2023