
Essa trajetória é agora, também, reconhecida pelo Prêmio PublishNews 2023: Maria Amélia já foi anunciada como a homenageada e vencedora do troféu de Contribuição ao Mercado Editorial. Ela estará presente na cerimônia do Prêmio – que ocorre no dia 4 de abril de 2023, no Goethe-Institut São Paulo (Rua Lisboa, 974), a partir das 18h30, para prestigiar os livros mais vendidos de 2022 e os profissionais do ano. A cerimônia é sujeita à lotação do espaço e os interessados devem se inscrever para participar neste formulário.
A última experiência “fixa” de Maria Amélia foi na Autêntica, onde foi editora de literatura e “criou” livros de Ferreira Gullar, Rubem Braga e diversos outros autores. “Foram quatro anos ali de muitos desafios, num processo de levar autores e conquistar muitas coisas”, conta, destacando que sua saída – assim como havia sido com a José Olympio, onde trabalhou por três décadas – foi amigável. “Na pandemia, fiquei diante de mim mesma, como todo mundo, sob grandes incertezas, vendo todas aquelas mortes, com a situação do país. Comecei a pensar no que eu iria fazer em seguida, e pensei que não queria ir para nenhuma editora específica”.
Colegas e amigos dizem desde sempre para ela criar uma editora própria, mas nos últimos anos ela conta que aumentaram as “sugestões” dessa espécie. “Passei esses dois anos de isolamento lendo, vendo Netflix, vendo filmes… e analisando minhas pastas, tenho muitas, com recortes, anotações e memórias. Ali havia muitos projetos e ideias que eu poderia oferecer e trabalhar para várias casas editoriais”, afirma.
Ela conta então que passou a trabalhar alguns deles com editoras, mas ainda não pode anunciá-los. “Hoje, tenho tempo só para mim, posso viajar da forma que achar melhor, posso articular melhor os trabalhos, encontrar as pessoas, isso me deu uma liberdade grande. Tenho um material enorme que nem vou ter vida para fazer tudo”, ri.

Maria Amélia é a primeira mulher – e a primeira pessoa que não é a proprietária de uma editora – a ser retratada na coleção Editando o Editor, publicada pela Edusp e pela ComArte, a editora-laboratório do curso de Editoração da USP. A coleção existe desde 1989 e foi idealizada por Jerusa Pires Ferreira, e dirigida por ela e pelo editor Plinio Martins Filho. O projeto propõe resgatar e registrar a experiência editorial no Brasil, por meio de depoimentos dos profissionais do livro que contribuíram para o desenvolvimento da cultura e do mercado editorial no país. Os depoimentos são gravados, selecionados e, finalmente, editados e publicados. Os nove retratados anteriormente são Jacó Guinsburg, Flávio Aderaldo, Ênio Silveira, Arlindo Pinto de Souza, Jorge Zahar, Cláudio Giordano, Samuel Leon, Plínio Augusto Coêlho e Guilherme Mansur. "Para mim, é uma honra estar ao lado desses nomes", diz.
“É curioso porque muita gente sempre me pergunta por que eu não abro uma editora”, reforça Maria Amélia. “Até brinquei que poderia ser ‘Caramello’. Mas talvez por temperamento, prefiro não. Estou atenta à minha alegria. O que me dá tesão é ter ideias, descobrir, inventar, fazer sinapses entre as coisas. É o processo criativo. Não teria paciência, vocação para ser empresária. Não sou uma pessoa de gabinete”.
Ao longo do livro e nas entrevistas com o PublishNews nos últimos dias, a editora cita diversos exemplos desse desígnio, um trânsito entre a edição dos livros e a produção de eventos culturais, voltados tanto para chamar a atenção para as obras quanto para, simplesmente, oferecer uma opção de cultura. Shows e apresentação de música (especialmente o jazz), exposições, mostras de cinema e até objetos – como uma caneca britânica que ela usou de souvenir e “jurou” ser de Dylan Thomas – fazem parte de um arsenal de iniciativas que trazem para o processo editorial de Maria Amélia Mello sua própria paixão pelo processo criativo.
“Quando sai algum livro, é ainda como se fosse o primeiro”, atesta. E ninguém há de duvidar.

Quando: 31 de março (sexta-feira)
Horário: 19 às 21h
Local: Livraria da Travessa
Endereço: Rua dos Pinheiros, 513 – Pinheiros – São Paulo / SP